Ao longo de quase 10 anos, Dominique Pélicot, o agora ex-marido de Gisèle Pélicot, recrutou dezenas de homens online para violarem a mulher enquanto esta estava inconsciente, sob o efeito de medicamentos.

Na quarta-feira passada, 18 de setembro, o Tribunal de Avignon testemunhou um momento delicado e controverso, quando foram apresentadas 27 imagens de Gisèle Pélicot, despida e em posições sugestivas. Estas imagens foram usadas pela defesa como suposta prova de que a mulher de 72 anos estava consciente e foi acusada de "alinhar no jogo sexual do marido".

"Estou a ver que a Sra. Pélicot está acordada e a sorrir. Nem todas as mulheres aceitariam este tipo de fotografia. As imagens mostram que o marido fez um pedido do qual a mulher está perfeitamente consciente. Deduzo que o casal Pélicot estava a jogar um jogo sexual próprio", disse Isabelle Crépin-Dehaene, uma das advogadas de defesa.

Homem tinha 21 anos e uma filha recém-nascida quando violou Gisèle Pélicot pela primeira vez
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Gisèle afirmou não se recordar de ter tirado as fotografias exibidas em tribunal e considerou a sua apresentação uma manobra com o intuito de "a tramar".

"Estão a tentar apanhar-me com estas fotografias, querem mostrar que atraí estes indivíduos para a minha casa e que estava a consentir", afirmou a vítima, citada pelo jornal "Le Monde".

As advogadas de defesa, Isabelle Crépin-Dehaene e Nadia El Bouroumi, que insistiram em mostrar as fotografias, provocaram reações de indignação na comunidade.

Nadia El Bouroumi, que representa dois dos acusados, tem-se manifestado nos últimos dias, estando muito ativa nas redes sociais. Publicou várias histórias no Instagram sobre os dias das audiências, dando pormenores e não hesitando em expressar a sua opinião sobre o desenrolar do julgamento.

"Distribuímos fotografias de Madame [Pélicot] em posições problemáticas, porque ela disse há alguns dias que nunca tinha participado em nada. Quando viu os vídeos, acho que não estava à espera. Ficou zangada. Peguei no microfone e disse-lhe que era ela que queria que isto fosse público, que agora era uma questão de não se queixar", disse a advogada.

Numa história partilhada no Instagram, a advogada filmou-se a dançar ao som da canção "Wake Me Up Before You Go-Go", dos Wham!, que em português significa "Acorda-me antes de te ires embora". Interpretada como uma alusão ao processo, a história suscitou desagrado nas redes sociais.

O julgamento do caso que chocou França e o resto do mundo deverá prolongar-se até dezembro e os acusados podem enfrentar penas de 20 anos de prisão por crimes de violação agravada.

Por Carolina Pinho (estagiária MAGG)