Está a chegar ao fim o oxigénio dos passageiros do Titan, o pequeno submarino que está perdido no fundo do Oceano Pacífico, onde mergulhou segunda-feira, 19 de junho, de madrugada com cinco pessoas a bordo, com o objetivo de visitar os destroços do Titanic. De acordo com os cálculos da empresa detentora da embarcação, o Titan tem 96 horas de oxigénio, ou seja, pelas 12h08 desta quinta-feira, 22, estima-se que os passageiros fiquem sem ar e acabem por morrer. Mas a verdade é que isso até já pode ter acontecido. E mais grave: mesmo que a embarcação seja detetada ainda na manhã desta quinta-feira, antes da hora em que o oxigénio deveria acabar, seria praticamente impossível salvar a vida dos tripulantes que parecem, assim, condenados a uma morte agoniante.
O Titan perdeu a comunicação com a sua embarcação-mãe na manhã de segunda-feira, quando tinha mergulhado há cerca de 8 horas, e já se encontrava muito perto dos destroços do Titanic, a 700 quilómetros da costa canadiana, da região de St John's, Terra Nova. Os passageiros, agora conhecidos por Titan Five (os Cinco do Titan) são o bilionário britânico Hamish Harding, o diretor executivo da OceanGate, Stockton Rush, o veterano da marinha francesa PH Nargeolet e o empresário paquistanês Shahzada Dawood, que viaja com o seu Suleman Dawood, 19 anos.
As buscas pelo Titan decorrem desde a noite de segunda-feira, 19, altura em que foi dado o alerta junto da Guarda Costeira norte-americana e canadiana, mas, até ao momento, nem sequer foi possível localizar ao certo onde se encontrar o Titan. Esta quarta-feira, 21, uma sonda de um avião especializado detetou sinais sonoros com uma cadência certa vindos do fundo do mar, o que indicaria que poderia ser o tripulante do barco a emitir esses mesmos sons, como sinal de vida a bordo. Mas, apesar dos muitos meios de socorro no local, ainda não se sabe onde estará o Titan. O submarino está mergulhado no fundo do mar, a mais de 4 quilómetros de profundidade, onde há escuridão total, e onde é apenas possível, com recurso a holofotes, iluminar até cerca de 6 metros para a frente, ou seja, é a busca da agulha no palheiro.
As autoridades e os especialistas acreditam que o Titan pode ter ficado preso nos destroços do Titanic, um barco com mais de 100 metros de comprimento, cheio de compartimentos, andares, sítios mais escondidos, sendo que o Titan tem pouco menos que o tamanho de um carro.
Porque é que o salvamento é praticamente impossível
À hora a que este artigo está a ser publicado, perto das 8 horas da manhã de quinta-feira, e com apenas 4 horas de oxigénio a restar dentro do Titan, a missão para resgatar com vida os tripulantes do submarino é já praticamente impossível. A embarcação ainda nem sequer foi encontrada, mas mesmo que o fosse neste preciso instante, o processo de engachamento de um submarino no outro para o rebocar iria demorar muito tempo e a subida até à superfície teria de ser feita de forma lenta, por forma a que os tripulantes do Titan e da embarcação que o rebocaria não morressem com o processo de despressurização. A estimativa dos especialistas é que uma subida de 4 quilómetros desde o fundo do mar até à superfície nunca demoraria menos de 4 horas, ou seja, para lá limite de tempo do oxigénio existente.
Outro aspeto que pode ser fatal neste processo: as estimativas de que o oxigénio dura até às 12h08 desta quinta-feira são feitas tendo por base que não ocorreu a bordo nenhuma situação de pânico, ou seja, que os passageiros consumiram o oxigénio sem alterações no processo respirativo, o que é altamente improvável numa situação como esta. E basta um ou dois passageiros terem tido uma exaltação por algumas horas para que o consumo de oxigénio tenha aumentado, logo, as reservas diminuíram.
As equipas de busca e salvamento estão a correr contra o tempo e espera-se que chegue mais equipamento nesta quinta-feira de manhã, incluindo mais veículos operados remotamente para detetar ruídos no fundo do mar enquanto os aviões continuam a vasculhar o oceano a partir de cima. A área de busca é de cerca de 14 mil milhas quadradas — três vezes o tamanho do Algarve. Ou seja, é como se as equipas de socorro procurassem um veículo do tamanho de um carro, numa escuridão total e com apenas holofotes que iluminam 6 metros para a frente, numa área do tamanho de três algarves.
As últimas esperanças das equipas de socorro residem no Victor 6000, um submarino operado remotamente, sem passageiros, e que pode chegar ao fundo do oceano. Mas nesta fase já nem o Victor 6000, que tem capacidade de rebocar o Titan, deverá ser suficiente para salvar as vidas dos passageiros.