Existe uma gigantesca rede de sádicos que se deliciam e pagam para ver vídeos de macacos bebés a serem torturados. Esta rede funciona na rede social Telegram, um sistema de conversação idêntico ao WhatsApp, onde os vários membros, de diferentes países, vão desafiando os autores do canal, que têm os macacos bebés, a fazerem os mais diferentes tipos de torturas, para verem as reações dos animais a essas mesmas torturas. A rede foi denunciada pela BBC, numa reportagem divulgada esta segunda-feira, 19 de junho, e que levou um ano a ser feita.
Esta ideia sádica começou com um canal de YouTube, mas a rede social acabou por bloquear os vídeos, devido à sua violência e sadismo. Então, os utilizadores mudaram-se para um grupo privado no Telegram. Foi mais ou menos nesta fase que a BBC resolveu infiltrar dois jornalistas neste grupo para perceber onde isto iria parar. E o resultado foi atroz.
Ao longo de vários meses, testemunharam como centenas de pessoas iam lançando ideias para os donos do canal sobre como deveriam torturar os macacos-bebés. E pagavam para estar nestes grupos. E os vídeos com essas torturas eram depois partilhados com todos.
Os autores do canal eram sobretudo indonésios, mas também norte-americanos. Muitas vezes, as torturas eram tão sérias que os macacos acabavam mesmo por morrer no decorrer das filmagens.
Os jornalistas da BBC chegaram mesmo a ir à Indonésia e, de forma anónima, falaram com alguns dos donos dos macacos, que os torturavam. Em sequência da divulgação da reportagem, pelo menos 20 pessoas estão agora a ser investigadas em todo o mundo, incluindo três mulheres britânicas e um homem norte-americano. A BBC entrevistou mesmo um dos membros do grupo, que contou um pouco de como funcionava a dinâmica. Mike McCartney, que no Telegram tem o nome de "The Torture King" (O Rei da Tortura), explicou que muitas vezes tudo começa com uma sondagem. "Eles perguntam: Querem um martelo? Querem um alicate? Querem uma chave de fendas?" E depois são feitas torturas aos macacos bebés com o objeto que tiver mais votos. Os vídeos são "das coisas mais grotescas" que Mike McCartney diz já ter visto na vida.
A polícia indonésia prendeu já dois suspeitos de tortura e dois dos gestores deste canal. Asep Yadi Nurul Hikmah foi acusado de tortura de animais e de venda de uma espécie protegida, tendo sido condenado a três anos de prisão. M Ajis Rasjana foi condenado a oito meses de prisão - a pena máxima aplicável à tortura de um animal.
Vídeos acessíveis pelo Facebook
Os vídeos de tortura de macacos continuam acessíveis no Telegram mas também no Facebook. A BBC encontrou dezenas de grupos que partilham conteúdos de torturas, violentos, alguns com mais de mil seguidores. Contactado pela BBC, o Facebook garantiu ter removido os grupos denunciados pela estação televisiva britânica. "Não permitimos a promoção de maus tratos a animais nas nossas plataformas e removemos esse conteúdo quando tomámos conhecimento dele, como aconteceu neste caso", disse um porta-voz do grupo Meta, dono do Facebook. O YouTube disse à BBC, em comunicado, que o abuso de animais "não tem lugar" na plataforma e que a empresa está a "trabalhar arduamente para remover rapidamente os conteúdos violadores". Já o Telegram disse estar "empenhado em proteger a privacidade dos utilizadores e os direitos humanos, como a liberdade de expressão".