É mais uma revelação sobre o conteúdo da acusação do Ministério Público ao caso da morte da cantora Sara Carreira, ocorrida a 5 de dezembro de 2020, na A1. De acordo com o documento, o namorado da cantora, Ivo Lucas, que está acusado do crime de homicídio por negligência, "não reduziu a velocidade" e "não travou" antes da colisão com o Volvo V50 da fadista Cristina Branco, que estava imobilizado na via central, após também ele ter embatido num outro veículo. A notícia é avançada pelo "Correio da Manhã" desta quinta-feira, 24 de novembro.
Ainda de acordo com o documento do Ministério Público, o Range Rover conduzido por Ivo Lucas circulava a uma velocidade não inferior a 135 km/h, acima do máximo permitido por lei, numa noite "escura, sem luar e com períodos de chuva fraca".
Segundo a acusação, o acidente deu-se pelas 18h49, quando o carro conduzido por Ivo Lucas, que estava em nome de Tony Carreira, “saiu desgovernado para o lado esquerdo, embatendo no separador central, onde seguiu capotando várias vezes até se imobilizar na via”, revela ainda o "CM".
O que aconteceu naquela noite
Para entender o que está em causa é preciso perceber o que se passou na noite de 5 de dezembro de 2020. De acordo com o resultado da investigação, eram 18h30 quando o Volvo V50 conduzido pela fadista Cristina Branco colidiu violentamente com a traseira do Volkswagen Passat,de Paulo Neves, que seguia na faixa mais à direita a uma velocidade que andaria entre os 30 e os 50 km/h. O carro da fadista rodopiou e acabou por ficar imobilizado na faixa central. Cristina Branco, sentindo-se em perigo, ligou os quatro piscas, saiu da viatura com a filha menor, que seguia com ela, e refugiou-se na berma da A1, do lado direito, junto ao separador central.
Às 18h49, 19 minutos depois deste primeiro acidente, o Range Rover conduzido por Ivo Lucas, que transportava Sara Carreira, e que seguia em excesso de velocidade (entre os 131 e os 139 km/h), embateu de frente com o carro de Cristina Branco. Ivo Lucas perdeu o controlo da viatura, embateu no separador central, o que levou a que o veículo capotasse várias vezes, ficando imobilizado, uns metros mais à frente, na faixa da esquerda. Ivo e Sara ficaram imobilizados dentro da viatura. Dois minutos depois, um terceiro carro, conduzido por Tiago Pacheco, e que seguia em excesso de velocidade (entre os 146 e os 155 km/h), consegue evitar o choque com a viatura de Cristina Branco, fugindo para a faixa da esquerda, mas acabou por embater de frente com o Range Rover de Ivo e Sara, que continuavam dentro da viatura.
Quem vai responder pela morte de Sara Carreira?
De acordo com o novo despacho de acusação do Ministério Público, Paulo Neves, o primeiro condutor que seguia abaixo da velocidade recomendada, e com excesso de álcool, não teve responsabilidade direta na morte de Sara Carreira e, por isso, não irá ser acusado, ao contrário do que eram os desejos da família Carreira. O homem será apenas acusado do crime de "condução perigosa". De acordo com o revelado no "CM" desta quarta-feira, que cita a acusação do Ministério Público, "da dinâmica do acidente não se indiciam factos que permitam imputar ao arguido Paulo Neves o resultado morte da vítima Sara Antunes, ao contrário do que sucede relativamente aos arguidos Cristina Branco e Ivo Lucas."
De acordo com a investigação, a causadora inicial de tudo é mesmo Cristina Branco. "Se a arguida tivesse adotado a mesma conduta adotada por outros condutores que a antecederam (e que ultrapassaram o veículo [de Paulo Neves] do arguido sem com ele colidirem), não teria ocorrido qualquer acidente", diz ainda o despacho da acusação. O relatório final do acidente indica o excesso de velocidade do veículo de Ivo Lucas como a causa principal do despiste que levou à morte de Sara, ainda no local.