O combustível subiu para valores inéditos a 7 de março e prevê-se até um novo aumento já na próxima segunda-feira, 14, conforme avançado à CNN Portugal. As consequências da guerra na Ucrânia não ficam por aqui e chegarão também aos alimentos, que além de sofrerem um aumento de preço, podem mesmo vir a ser racionados pelos produtores.
A notícia é avançada pelo semanário "Expresso", que indica que os preços de vários produtos da base da alimentação dos portugueses vão disparar 20% a 30% já nos próximos dias. Um dos casos que sofrerá um maior aumento será o sector das carnes e também no peixe o aumento vai fazer-se sentir, tanto nos de aquacultura, como a dourada e o robalo, como nas conservas de atum — essenciais para muitas famílias portuguesas e cujo preço vai disparar cerca de 25%.
Este último dado é preocupante e deixa em alerta as instituições de apoio a pessoas carenciadas. "É um barril de pólvora. Além do aumento da procura por parte das famílias portuguesas, as instituições ainda vão ter de responder ao afluxo de refugiados. A rede de apoio social pode colapsar", afirmou Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar contra a Fome, ao mesmo jornal. "As carências alimentares vão atingir um nível como há muitos anos não se via", acrescenta.
Apesar das previsões preocupantes, o primeiro-ministro, António Costa, garantiu que "não haverá falta de nenhum bem essencial" e que "há reservas para assegurar que não haverá escassez", afirmou aos jornalistas esta quinta-feira, 10 de março, cita o "Observador".
Nesse sentido e a título de exemplo, a presidente executiva do Pingo Doce, Isabel Ferreira Pinto, já afirmou que a cadeia não tem, para já, problemas em receber bens alimentares. "Apesar dos impactos evidentes deste contexto de crise humanitário de guerra, não estamos a sentir ainda qualquer tipo de problemas no abastecimento às lojas, nem nos nossos centros logísticos, mas é impossível prever hoje em dia, vivemos momentos de grande incerteza", disse, de acordo com a CNN Portugal.
Dos cereais ao leite, o que vai mudar nos bens essenciais do supermercado.
Cereais
A Rússia e a Ucrânia são dois dos maiores fornecedores mundiais de cereais a nível mundial e Portugal é um dos países que depende deste bem alimentar. O País já está à procura de novos fornecedores, como EUA, Brasil, África do Sul ou Austrália, mas não é a melhor solução dado que a importação fica mais dispendiosa devido à distância.
Por cá a produção não é suficiente, sendo que o trigo cobre apenas 5% a 10% do consumo — taxas que estão ainda mais reduzidas este ano em consequência da seca que o País enfrenta.
Tudo isto vai levar a um aumento do preço do pão, das massas e rações para animais. Apesar de o pão já ter sofrido um aumento de 10% no preço no início do ano, espera-se em breve um reforço: um quilo de farinha para pão pode passar dos 0,57€ para 0,77€ já em abril.
Nas massas o cenário não é melhor e aqui pode mesmo vir a ser necessário recorrer ao racionamento. "O stock de alguns produtos, como a farinha para massas, é tão reduzido que daqui a um ou dois meses podemos ter de fazer racionamentos como aconteceu nos anos 70", afirma o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa.
Carne
Um ponto, os cereais, leva ao outro: a carne. Com o aumento do valor das rações para animais, o preço da carne também vai ser afetado e há mesmo alertas de que a carne de porco, a mais consumida em Portugal, pode vir a escassear. "Só há stock de ração até abril. Depois disso, não temos como alimentar os animais, o que significa que pode faltar carne para as pessoas. Se não forem tomadas medidas urgentes, vamos assistir a um regresso da fome a Portugal”, alerta o presidente da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores, David Neves, no semanário "Expresso".
Todo o setor da carne vai sofrer aumentos na ordem dos 20% a 30%, mas a carne de porco em específico “vai subir já nos próximos dias €0,40 por quilo, ou seja, mais 30%", revela David Neves.
Peixe
Tal como na carne, os peixes de aquacultura mais consumidos pelos portugueses vão ter “um aumento de 20% a 30%”, segundo a Associação Portuguesa de Aquacultores. Já para as conservas estima-se uma subida de 25%. Porquê? Devido à escassez de óleo de girassol usado, por exemplo, no atum de lata, que vinha maioritariamente (80%) da Ucrânia.
Com o país em guerra, o óleo não chegará a Portugal tão depressa e há duas alternativas: usar óleo de soja ou de palma de outros países ou consumir conservas de atum em água ou azeite, logo, mais caras.
Sem óleo para o peixe, também não há óleo para cozinhar e por isso uma das principais marcas de óleo vai ter de aumentar 1€ na tabela, subida que também vai acontecer no azeite.
Legumes e fruta
Nenhum dos bens essenciais vai ficar de fora da sobrecarga da carteira dos portugueses. Os legumes e a fruta também vão ser afetados devido aos elevados custos de produção associados à energia e ao gasóleo agrícola. Em que é que se traduz? Num aumento de 30% a 40% no valor de produtos sazonais, como o tomate e o morango.
Ovos e leite
Com a ampla subida de preços de combustíveis e rações — essenciais para a criação animal e distribuição dos produtos — os produtores ficam sem outra alternativa que não aumentar os preços.
No ovos, esse aumento será de cerca de 20% a 25% e no caso do leite e derivados é ainda impossível calcular a subida dada a situação "dramática".