O Diversiones en el Ruedo vai passar por quatro terras portuguesas já este verão. Trata-se de um grupo espanhol que se compromete a divertir o público, mas cujo teor do espetáculo tem vindo a gerar uma onda de indignação em Portugal, principalmente junto de associações ligadas quer aos direitos das pessoas deficientes quer ao movimento anti-touradas.

Isto porque o espetáculo oscila entre a comédia e a tourada, com recurso a vacas de tenra idade, e o grupo é composto por pessoas que sofrem de nanismo, uma condição genética que provoca um crescimento esquelético anormal, deixando o indivíduo com uma estatura abaixo da média da população, vulgarmente reconhecidos como anões.

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Em causa está um evento cómico taurino que acontece este domingo, 19 de junho, na Benedita, em Alcobaça, e que já foi condenado pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. "É atentatório à dignidade humana e contraditório com tudo o que importa defender no plano das políticas de inclusão", começou por dizer, em declarações citadas pelo jornal "Público", acrescentando que "de cómico não tem rigorosamente nada".

No Verão passado, segundo a mesma publicação, o Ministério dos Direitos Sociais espanhol chegou a equacionar a proibição destas touradas, por entender que denegriam a imagem das pessoas com este tipo de deficiência. No entanto, o espetáculo dos Diversiones en el Ruedo, organizado pelos Bombeiros Voluntários da Benedita, foi autorizado. Sendo que, segundo a lei nacional, cumpre todos os requisitos legais.

"A classificação etária é de maiores de 12 anos, conforme previsto na legislação dos espectáculos, que estabelece esta classificação para os espectáculos tauromáquicos", adiantou o Ministério da Cultura, que, inclusive, não é o único a condenar a atuação.

A coordenadora do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos, Paula Campos Pinto, fala num "grave retrocesso civilizacional" e acrescenta: "é um evento sem enquadramento numa sociedade respeitadora dos direitos humanos, medieval e grotesco".

Isto, enquanto a presidente da Associação Nacional de Displasias Ósseas, Inês Alves, lança uma outra questão: "o que diriam as pessoas se se tratasse de uma tourada cómica protagonizada por pessoas com paralisia cerebral?". Para a dirigente, que admite recorrer aos tribunais para impedir a realização dos próximos espectáculos já confirmados em Portugal, trata-se ainda de eternizar a ideia de bobo da corte.

Representante português do grupo espanhol condena críticas

O espetáculo dos Diversiones en el Ruedo tem vindo a dividir opiniões, no entanto, o representante português do grupo espanhol, Jaime Amante, mostra-se indignado com as condenações e dirige-se diretamente ao ministro da Cultura. "O senhor ministro da Cultura certamente não saberá o que é um espectáculo cómico taurino, não conhecerá a sua história nem terá conhecido e falado com os artistas que neles livremente actuam", disse, em declarações citadas pelo jornal "Público".

"São cidadãos com plenos direitos que realizam a sua vocação artística numa vertente de toureiro cómico, que tem uma tradição muito longa no tempo. Só quem tenha preconceitos para com uma pessoa, pelas suas condições físicas, pode achar que estes artistas não merecem a consideração e o respeito de todos, começando por respeitar as suas livres opções profissionais", acrescenta.

Neste sentido, Jaime Amante garante ainda que estas funções "permitiram a estes artistas construir uma vida digna, criar as suas famílias, fugir ao estigma social e mudar o seu destino".

"Não nos dão lições de direitos humanos, ou de inclusividade, porque são aqueles que organizam estes espectáculos que, muito antes de ser moda, praticaram a inclusão e o combate de um estigma que os novos censores modernos querem destruir", remata.

O alerta para a questão partiu da plataforma anti-touradas Basta, que alega que "além da brutalidade e violência contra animais, contribuem para ridicularizar, denegrir e humilhar as pessoas com incapacidades", escreve a mesma publicação.