É o terceiro dia de invasão russa e as sirenes continuam a tocar. As ruas de Kiev, a capital da Ucrânia, estão desertas e assim devem permanecer até ordem em contrário. Depois de a ONU confirmar que mais de 150 mil ucranianos já fugiram do país e que cerca de metade já entraram na Polónia, o presidente da câmara de Kiev dirige-se diretamente ao povo ucraniano que permanece na cidade.

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"Todos os civis que estiverem nas ruas durante o toque de recolher obrigatório serão considerados membros dos grupos de sabotagem e tratados como inimigos", frisou Vitali Klitschko na rede Telegram, segundo a agência France-Presse confirma, citada pela Rádio Renascença.

Desde o primeiro dia de conflito que ninguém deve circular na via pública entre as 22 horas e as 7 horas, dado o decreto de recolhimento obrigatório, mas, a partir deste sábado, 26 de fevereiro, esse mesmo período encontra-se reduzido: agora, e até ordem em contrário, qualquer pessoa que esteja na rua entre as 17h00 e as 08h00 será tratada como "inimigo".

Numa altura em que, até à data, há registo de pelo menos 198 mortes ucranianas, de acordo a CNN Portugal, o presidente da câmara de Kiev afirma ainda que "o metro entrou em modo de abrigo", em prol de abrigar os cidadãos ucranianos e que, por isso, permanecerá inativo.

As imagens que chegam de vários pontos da Ucrânia confirmam isso mesmo: o povo ucraniano procura abrigo em qualquer zona subterrânea a que tenha acesso. No caso, através de um publicação de uma editora do "The Scotsman", Jane Bradley, conseguimos perceber as condições em que se encontram dezenas de cidadãos, numa estação de metro, na cidade de Kharkiv.

Já no que à fronteira com a Moldávia diz respeito,  Lucy Williamson, jornalista da BBC, recorreu à rede social Twitter para expor a realidade de quem aguarda autorização para entrar no país vizinho, com a informação de que mulheres e crianças chegam a esperar 27 horas para fugir à invasão russa — os homens entre os 18 e os 60 anos estão impedidos de deixar o país.

Portugueses na Ucrânia aconselhados a não sair dos abrigos

Até à data, segundo confirmou Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, à CNN Portugal, pelo menos, 14 portugueses permanecem em Kiev, com a ressalva de que a lista tende a "oscilar". Ainda assim, a estes, faz questão de deixar um apelo: "Não saiam dos seus abrigos nas próximas horas", disse. "A situação está muito grave", acrescentou.

Na mesma conversa, Augusto Santos Silva justificou este número, confirmando que já saíram dois grupos de portugueses da Ucrânia, em menos de 72 horas. "Um saiu logo na quinta-feira e outro saiu na sexta-feira", avançou, garantindo que todos o que pediram apoio à embaixada portuguesa, isto antes de quinta-feira, 24, foram colocados "nesta expedição".

Ao que alega, o primeiro grupo já se encontra na Roménia e o segundo chegará em breve. Já que se trata de uma paragem obrigatória para que, depois, possam ser "repatriados para Portugal via aérea".

Rússia acusa Ucrânia de recusar negociações e garante continuar a avançar. Agora, "em todas as direções"

O ataque continua a fazer-se em quatro frentes e o cenário de guerra mantém-se, mas tudo indica que o palco do ataque russo será alargado. Isto porque, este sábado, 26, o Ministério da Defesa da Rússia ordenou a expansão do raio de ataque: agora, deverá prosseguir em todas as direções. "Hoje, todas as unidades receberam ordens para expandirem a sua ofensiva em todas as direções, de acordo com o plano ofensivo", disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov, em comunicado, citado pelo "Diário de Notícias".

De acordo com o porta-voz do presidente russo, Dmitri Peskov, a Rússia terá suspendido vários pontos de ataque esta sexta-feira, 25, enquanto aguardava resposta de Kiev face à possibilidade de negociações. No entanto, garante que a Ucrânia recuou e, por isso, a Rússia vai mesmo avançar.

A Ucrânia nega a acusação, alegando que se trata apenas de um "táctica russa". E acrescenta que a Rússia quer apenas levar eventuais negociações, sob o pretexto de parar a guerra, para um "beco sem saída, antes de começarem".

"Os comentários de que supostamente nos recusamos a negociar são apenas parte das suas táticas. Estão a tentar levar as negociações para um beco sem saída, antes mesmo de começarem", disse o assessor do chefe do Gabinete da Presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak.

"A mentira dos russos, de que supostamente tiveram ordem para parar, é desmentida pela própria realidade a que o mundo assistiu na noite de sexta-feira. E esta manhã [sábado]. A luta foi dura, com intensidade máxima. Precisamente porque o presidente [Volodymyr] Zelensky não aceita quaisquer condições e ultimatos inaceitáveis ​​para a Ucrânia. Apenas negociações completas", acrescentou.

SEF suspende vistos gold para russos

Como forma de sancionar a Rússia, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) nacional já decretou que suspendeu a apreciação "de qualquer dossier de candidatura para autorizações de residência e investimento [leia-se vistos gold] para cidadãos russos", informou também Augusto Santos Silva, em declarações à CNN Portugal, acrescentando que as sanções que vão ser adotadas nos próximos dias vão afetar ainda mais cidadãos russos.

Já no que à atual medida diz respeito, refere que a suspensão de vistos gold é uma forma de acautelar a situação. Só na última década, Portugal concedeu 431 vistos gold a russos, que, ao todo, se traduziram em 278 milhões de euros.

Já em 2021, 65 russos receberam vistos gold, em prol de investimentos de 34 milhões de euros em território português, um valor que personificou um máximo histórico, segundo dados do "Observador".