Os alertas de um potencial ataque terrorista iminente no aeroporto de Cabul, no Afeganistão, foram dados no início da manhã desta quinta-feira, 26 de agosto, com o secretário de Estado das Forças Armadas britânico a reforçar a gravidade da situação. No local, encontram-se, neste momento, milhares de pessoas que tentam concretizar a fuga do país. Teme-se, nas próximas horas, um ataque terrorista, caracterizado pelo secretário de Estado das Forças Armadas britânicas, James Heappey, como "iminente" e "altamente letal".

Na tentativa de minimizar os riscos e os possíveis lesados, as forças norte-americanas lançam apelos para que as pessoas não se dirijam até ao aeroporto. “Aqueles que se encontram no Abbey Gate, East Gate, ou North Gate devem partir imediatamente”, disse o departamento de estado norte-americano num alerta, citando “ameaças à segurança”.

"Se pode sair do Afeganistão em segurança por outros meios, deve fazê-lo imediatamente”, completa o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, tal como cita o "The Guardian".

Perante um cenário em que milhares de afegãos estão desesperados a tentar sair do país, as atenções estão voltadas para o grupo ISIS-K, um braço do Estado Islâmico, inimigo dos talibãs. “Há agora um relato muito, muito credível de um ataque iminente e, por isso, o conselho do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi alterado ontem à noite”, avançou o secretário de Estado das Forças Armadas britânicas à BBC Radio 4.

Portugal pode receber mais de 400 afegãos

Desde 14 de agosto, o dia em que os talibãs tomaram o poder, até à passada quarta-feira, 25,  de acordo com o Pentágono, mais de 80 mil estrangeiros e afegãos foram retirados. 840 portugueses prontificaram-se para receber refugiados do Afeganistão que tentam fugir dos talibãs. O grupo extremista garante que vai deixar de permitir a fuga de afegãos do país e avança que os EUA e países europeus não devem encorajar a sua saída, já que "não tencionam perseguir opositores ou violar os direitos das mulheres". Os talibãs consideram ainda que as restrições atuais às mulheres são apenas “temporárias”, avança o jornal "Público".

Os cidadãos portugueses que se disponibilizaram para receber refugiados preencheram o formulário para se tornarem famílias de acolhimento e outros 350 para garantir alojamento – desta forma, Portugal pode receber mais de 400 cidadãos do Afeganistão, sendo que ainda não há data para a chegada.

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No passado sábado, 21, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, revelava que Portugal estava prestes a receber 50 refugiados, dos quais 24 seriam menores não acompanhados. Até esta quinta-feira, 26, o número subiu significativamente.

Para além da lista prioritária de 116 cidadãos afegãos, até ao momento, há registo de que há “disponibilidade de acolhimento de mais de 300 cidadãos, distribuídos pelo País”, avançou o Alto Comissariado para as Migrações (ACM) à Rádio Observador.

“Estão a ser desenvolvidos todos os esforços de preparação para a chegada dos cidadãos afegãos a território nacional, em estreita colaboração com estes parceiros, tendo o ACM promovido reuniões de acompanhamento, visitas aos alojamentos e atualização diária das disponibilidades demonstradas”, lê-se na mesma nota.

Com o apoio de instituições como Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Câmara Municipal de Sintra, Câmara Municipal Fundão, Câmara Municipal de Lisboa, Cruz Vermelha Portuguesa, Conselho Português para os Refugiados, entre outras, o ACM diz ser possível acolher mais de 400 cidadãos afegãos em Portugal.

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Cada uma das candidaturas está a ser cuidadosamente analisada. “Não há ainda calendário para a chegada de afegãos a Portugal, nem números exatos de pessoas a serem efetivamente acolhidas e onde, sendo que esses dados serão ‘divulgados oportunamente’’, diz o ACM. O Alto Comissariado tem também recebido pedidos de acolhimento dirigidos diretamente a Portugal, por individuais e grupos profissionais mais vulneráveis – como jornalistas, mulheres juristas, estudantes ou ativistas de direitos humanos, de acordo com o ao Jornal “Observador”.

Talibãs não vão permitir fuga de cidadãos

“A fuga de afegãos não é algo que vamos permitir e não estamos contentes com isso”, afirmou Zabiullah Mujahid. “Não devem ir para outros países, para esses países ocidentais”, completou o porta-voz dos talibãs.

31 de agosto é o último dia para a retirada total das tropas estrangeiras do Afeganistão. Milhares de afegãos estão a tentar fugir do país e o processo de evacuação está cada vez mais complicado. Independentemente do número de cidadãos que ainda não conseguiram concretizar a fuga, para os talibãs, o prazo não é negociável.

Os dirigentes do grupo garantem que não pretendem vingar-se de quem tentou fugir ou colaborar com os EUA ou com outras potências estrangeiras e apelam aos funcionários das embaixadas em Cabul e as outros especialistas, como é o caso dos médicos, para se manterem no país, de acordo com o mesmo jornal. “Esquecemos tudo o que é passado”, reforçou Mujahid.