Os talibãs estão novamente no poder do Afeganistão. O processo começou em maio, mais de 20 anos depois da última ocupação como resposta aos atentados de 11 de setembro de 2001 – e o clima de pânico voltou a dominar as ruas de Cabul.
Nas redes sociais, circulam várias imagens e vídeos que espelham o desespero de milhares de pessoas – desde multidões amontoadas no aeroporto de Cabul para tentar sair do Afeganistão a mães afegãs a tentar salvar os seus bebés, atirando-os aos militares estrangeiros por cima de arame farpado. No entanto, nem tudo é captado pelas câmaras de quem está, efetivamente, nas ruas controladas por talibãs.
Num vídeo partilhado na conta da rede social Twitter de Matt Zeller, um bebé é passado de mão em mão, entre a multidão afegã que aguarda autorização para abandonar o país.
"Os corpos, embrulhados, tinham sido colocados do outro lado da estrada para serem retirados pelas famílias. Uma jovem hazara [minoria étnica do Afeganistão], cerca de oito anos de idade, levantou parte dos escombros e desmaiou; era a sua mãe. A rapariga, que tinha uma mão desaparecida, fruto de uma explosão de explosivos improvisados, tinha-me pedido antes para tentar encontrar a mãe. 'Sinto-me muito assustada, não tenho ninguém', tinha dito", relata Kim Sengupta, editor da secção de defesa e segurança do jornal "The Independent".
"Procurámos, mas não conseguimos encontrar a mãe dela. Enquanto a rapariga estava a ser tratada por um médico, um soldado veio cá dizer: 'Vamos tomar conta dela, não te preocupes. Sabe, estou no exército há 12 anos e o que está a acontecer aqui é o pior que já experimentei.' Um soldado mais novo disse simplesmente: 'Nunca vi um cadáver antes, juntando-me ao exército esperava ver pessoas morrerem, mas não isto, não esperava isto'", acrescenta o jornalista.
Apesar dos registos de que milhares de cidadãos afegãos conseguiram, efetivamente, sair do país, estima-se que, desde o início de 2021, mais de 550 mil afegãos tenham sido internamente deslocados como consequência dos conflitos do próprio país. Apenas entre 7 de julho e 9 de agosto (2021), surgiram mais 126 mil pessoas internamente deslocadas (IDP's). Ao contrário dos refugiados, estas vítimas não conseguem atravessar as fronteiras em segurança, por isso, são forçadas a procurar abrigo e apoio dentro do seu próprio país. São, por isso, mantidas sob a alçada e (alegada) proteção do governo, mesmo que este seja o motivo da sua tentativa de fuga.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), estes cidadãos representam algumas das pessoas mais vulneráveis do mundo. Entre elas, estão crianças, muitas delas órfãs ou sem qualquer tipo de satisfação das necessidades básicas, sendo que muitas vezes fogem para zonas onde as ajudas humanitárias dificilmente conseguem chegar.
"Mais de 80 milhões de pessoas foram forçadas a fugir de guerras, conflitos e perseguições em todo o mundo. Precisam de ser protegidos. Precisam de abrigo, de água potável, de saúde, educação e emprego. Precisam de uma oportunidade justa. Hoje, um por cento da população mundial está internamente deslocada", lê-se no site oficial da ACNUR, através do qual pode efetuar a sua doação, a partir do valor mínimo de 5 euros.
Como consequência do tomada de posse do governo talibã, milhares de crianças foram forçadas a abandonar as suas casas. Apenas nos últimos dois meses, mais de 80 mil crianças foram deslocadas, enquanto tentam desesperadamente fugir do governo que instalou o clima de medo e pânico em 1990.
Nas últimas semanas, principalmente desde o passado domingo, 22, as redes sociais têm sido inundadas de vídeos de cidadãos afegãos e jornalistas internacionais. Entre as imagens, são várias as crianças que surgem em condições físicas alarmantes e em desespero depois de perderem contacto com as respetivas famílias.
Mesmo durante o período que antecedeu a situação atual, o Afeganistão regista o segundo maior número, à escala global, de pessoas que enfrentam níveis alarmantes de fome. Temem-se as repercussões no futuro das crianças, sendo que, para além dos atentados à integridade física, se estima que metade das crianças com menos de 5 anos de idade venha a sofrer de má nutrição severa que, sem o devido apoio, pode efetivamente conduzir à morte, segundo a organização Save the Children, onde pode efetuar a sua doação através do site oficial.
A fome não é o único problema com que o povo afegão se depara diariamente. Mais de 4 milhões de crianças estão privadas de educação, das quais 2.2 milhões são jovens e crianças do sexo feminino. Desde janeiro deste ano, foram documentados mais de 2.000 casos de violação dos direitos das crianças, de acordo com um comunicado partilhado por Henrietta Fore, Diretora Executiva da UNICEF, na passada segunda-feira, 23, face à situação das crianças no Afeganistão.
Perante a atual crise humanitária do Afeganistão, há várias formas de ajudar e apoiar a população do Afeganistão. Deixamos uma lista com o que pode fazer para ajudar.
- Afghan Women and Children and Jalala foundation, duas organizações que se uniram em prol da assistência a mulheres e crianças afegãs, antes, durante e depois do atual conflito.
- Afghan Aid (ajudã afegã) está a prestar assistência de emergência sempre que necessário e apoia famílias que perderam as suas casas e respetivos meios de subsistência durante o conflito. Nesta organização, pode ajudar através de um donativo monetário ou, ainda, através da criação de páginas de angariação de fundos.
- Islamic relief: Afghanistan presta a auxílio a jovens, crianças e respetivas famílias. Essencialmente através de roupas, abrigo e comida. Pode efetuar a sua doação através do site oficial.
- Enabled Children Initiative é uma organização que gere casas de acolhimento privado, em Cabul, no Afeganistão, e que, consequentemente, presta cuidados a crianças e jovens afegãos com deficiências, durante o conflito (e não só).