Alessandra Alferes é uma conceituada maestrina e professora de música brasileira de 44 anos. Mas antes de ser Alessandra, a mulher era Alexandre – e, durante 15 anos da sua vida, anteriores ao momento em que se assumiu como transgénero, foi casada com uma mulher e teve dois filhos. Só em 2021 é que teve coragem de ser aquilo que sempre quis, segundo a "Universa".
"Viver uma identidade trans em segredo, por 40 anos, é acreditar que em algum momento essa essência irá sumir e tudo estará resolvido. Mas ela não sumirá, é a condição da pessoa, não uma escolha", lê-se nessa mesma publicação, na qual a maestrina contou a sua história na primeira pessoa.
A sensação de que algo não estava bem começou na infância, por volta dos anos 80, quando se sentia "um menino 'errado'". Com apenas 6 anos, "vestia escondida as roupas" da irmã, um hábito que a acompanhou até à adolescência, quando começou a usar algumas peças e acessórios da mãe.
A luta constante para aceitar a sua essência feminina continuou a acompanhá-la, manifestando-se principalmente quando se mudou para a sua própria casa, onde tinha toda a privacidade para vestir e agir da maneira que quisesse. Comprava peças e acessórios mais femininos, que acabava por deitar fora, tal não era o medo de que a sua ex-companheira a apanhasse em flagrante.
Até que, um dia, chegou a uma conclusão: "Será que vou morrer e todas as pessoas que amo não vão saber quem eu fui? Eles sempre tiveram na vida deles alguém que não era eu de facto". E foi esta pequena questão que fez com que Alessandra tivesse vontade de desvendar a sua verdadeira identidade.
A primeira pessoa a saber do grande segredo de Alessandra foi a ex-mulher, com quem foi casada durante 15 anos – e marcou o início de uma jornada bastante difícil, sendo que o matrimónio acabou por ser terminado. "Dali, ela saber que o homem com quem estava casada há 15 anos se identificava como mulher, foi um choque. Acho que qualquer pessoa passaria pelo estado de raiva e luto pelo qual ela passou", afirma a maestrina.
"Deixei claro que nunca houve sentimentos falsos, e que sempre a amei. Conversámos muito sobre tudo, e isso a ajudou", afiança Alessandra, que acrescenta que, hoje em dia, continuam a ser "grandes amigas, confidentes" e que se dão muito bem, embora já estejam separadas.
Alessandra destacou também o apoio do resto da família, nomeadamente a relação positiva que conseguiu manter com seus filhos, que agora a chamam de "mamma". Ainda assim, a jornada de transição continua e vai dos aspetos psicológicos, emocionais e sociais à própria cirurgia de redesignação sexual, à qual foi submetida em fevereiro do ano passado – ou seja, o procedimento em que os genitais de nascença são mudados para os que estão associados ao género com que a pessoa se identifica.
"Sinto-me cada vez mais empoderada como mulher, e todo esse desabrochar me faz sentir segura. A transição é muito mais psicológica, emocional e social, e segue para toda a vida, pois nós, pessoas trans, assim como qualquer pessoa cis, estamos sujeitas às constantes evoluções", remata Alessandra.