Aung San Suu Kyi, líder de Myanmar (antiga Birmânia) e a quem foi atribuído, em 1991, o Nobel da Paz, foi detida durante a manhã desta segunda-feira, 1 de fevereiro, depois de as forças militares do país terem orquestrado um golpe de estado em resposta às eleições votadas em novembro 2020. Em causa está o facto de o exército, que detém uma parte do parlamento do país, ter considerado todo o processo eleitoral fraudulento — juntamente com os restantes partidos da oposição.

O assalto ao poder foi anunciado, e denunciado, por Myo Nyunt, porta-voz da Liga Nacional para a Democracia (NLD), partido liderado por Suu Kyi. Além da líder do partido também o presidente Win Myint e outros governantes do país foram "levados", segundo revelou o próprio à agência Reuters. "Quero dizer ao nosso povo para não responder de forma precipitada e para atuarem de acordo com a lei", explicou por telefone à agência de notícias, avançando que também esperava ser detido ao longo das próximas horas.

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O golpe de estado foi assumido nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira através dos próprios militares. Em declarações à estação televisiva que detêm, a Myawaddy TV, anunciaram que irão tomar o controlo do país por um período de um ano, escreve a "Associated Press".

Myanmar está, desde então, em estado de emergência — o que permite aos militares, segundo a Constituição redigida pelo exército nacional, assumir o controlo do país. A mesma Constituição permite ainda às forças armadas nomear os ministros para as pastas mais importantes do governo. Na capital, todas as linhas telefónicas foram cortadas e o acesso à internet foi limitado.

Após a detenção, foi publicado um comunicado oficial em nome de Aung San Suu Kyi na qual a líder de Myanmar apela a que os cidadãos do país se mobilizem contra o golpe de estado que tem como único objetivo fazer regressar o país à "ditadura militar".

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"Peço às pessoas que não aceitem isto, que respondam e protestem com toda a sua força e convicção contra o golpe dos militares", lê-se no comunicado citado pelo jornal britânico "The Guardian".

O golpe de estado, entretanto consumado, decorreu no rescaldo das eleições de novembro em que o partido de Aung San Suu Kyi saiu vencedor por maioria absoluta. Do lado das forças armadas, que detém três ministérios e um quarto do parlamento do país, os militares disseram que todo o processo eleitoral estava envolto em fraude e deixaram em aberto a possibilidade de vir a derrubar o governo.

As detenções surgiram nas horas anteriores à reunião do novo parlamento para a primeira ordem de trabalhos pós-eleições.