Estava tudo bem. Na tarde de 24 de junho de 2009, um dia antes de Michael Jackson morrer vítima de uma overdose, o rei da pop e a sua equipa faziam contagem decrescente para começar a digressão do espetáculo "This is It", em Londres. Faltavam apenas três semanas para tudo começar. Nessa tarde ensaiaram pela primeira vez o espetáculo completo no Staples Center, em Los Angeles.
"Ele estava afinado, não havia nenhuma indicação de que algo não estivesse bem", recordou Dorian Holley, diretor vocal de Jackson, à CNN. "Ele não parecia fraco, não parecia mal. Não havia sinal de nada. Eu acho que ele estava na sua melhor forma. E tendo feito todas as suas digressões durante 22 anos, ainda era difícil para mim focar-me no que precisava de fazer em vez de o ver atuar".
Para Dorian, não havia dúvidas de que tinha sido um ensaio perfeito. "Ele brilhava intensamente sobre o palco. Naquele noite ele acreditou que, finamente, o seu espetáculo já era um todo. Foi um grande momento".
Por volta da meia noite, Michael Jackson deixou o Staples Center, mas não sem antes abraçar o amigo e dizer que o amava. "Eu respondi: 'Também te amo, Mike'. E foi isso".
Prometeram encontrar-se no dia seguinte, mas isso nunca chegaria a acontecer. Cerca de 12 horas mais tarde, uma chamada ao serviço de emergência 911 revelava que Michael Jackson "não respira e não responde à reanimação cardiorrespiratória". O óbito foi declarado às 14h26 de 25 de junho de 2009, faz esta terça-feira dez anos.
Michael Jackson passou a noite em branco
Ninguém sabe ao certo a que horas Michael Jackson chegou à sua casa em 100 na North Carolwood Drive, mas o testemunho de Conrad Murray, o médico pessoal do cantor, revelaria mais tarde que foi por volta das 1h30 que o músico tomou o primeiro comprimido.
"Michael Jackson sofria de insónias há anos", revelou Jim Moret, correspondente da "Inside Edition", à CNN. "Ele estava atormentado com a horrível incapacidade de dormir. E confiava nos médicos para lhe fornecerem medicamentos para que ele pudesse dormir."
J. Randy Taraborrelli, biógrafo de Jackson e confidente ao longo da vida, atestou isto mesmo. "Eu costumava dizer — e ainda acredito nisto — que Michael teria pago um milhão de dólares por uma boa noite de sono. E não é um exagero".
O comprimido de 10 miligramas de Valium não fez nada. Meia-hora depois, às 2 da manhã, Murray injetou o cantor com uma droga ansiolítica chamada Ativan. No entanto, declarou o médico mais tarde, Michael Jackson continuava incapaz de dormir. Às três da manhã, Murray administrou-lhe outro sedativo, o Versed.
Não se ficou por aqui. Nessa madrugada, o rei da pop recebeu mais dois miligramas de Ativan e dois miligramas de Versed. Nada. De acordo com o testemunho do médico, Jackson pediu-lhe várias vezes que lhe desse o anestésico Propofol. Murray disse que não — temia que o cantor estivesse viciado na droga.
Quando amanheceu, Michael Jackson continuava acordado. Às 10h40 da manhã, Murray acedeu finalmente aos pedidos do cantor e deu-lhe 25 miligramas de Propofol. À sua volta havia todo o equipamento necessário para monotorizar Jackson, garantiu, nomeadamente máquinas para verificar os níveis de oxigénio e batimentos cardíacos. Os paramédicos asseguraram mais tarde não ter encontrado nada disto no quarto.
Dez minutos depois, Murray levantou-se para ir à casa de banho. Quando voltou, o rei da pop não respirava.
A partir daqui os testemunhos contradizem-se. Numa das sessões de julgamento em 2011, Faheem Muhammed, chefe de segurança, disse que encontrou Murray "em pânico", a gritar: "Alguém sabe como se faz a reanimação?". "Olhei para o Alberto [Alvarez, diretor logístico de Michael Jackson] porque ambos sabíamos que era um cirurgião cardíaco, portanto estávamos chocados".
Nesta altura, Michael Jackson estava deitado na cama, de olhos abertos mas aparentemente inanimado. No seu testemunho em tribunal, Alberto Alvarez revelou que foi neste momento que as crianças entraram no quarto do pai. "Paris gritou 'papá' e começou a chorar", disse. Quando Murray se apercebeu da presença dos filhos de Jackson, gritou que as tirassem dali. "Não deixem que elas vejam o pai assim".
Segundo a polícia, eram 11h18 quando o médico fez uma série de três telefonemas, que duraram 47 minutos. Tinha passado mais de uma hora desde que Jackson fora encontrado sem vida. Murray e o seu advogado contestaram ferozmente esta linha de tempo dos investigadores, garantindo que aquilo não era verdade.
Mas ninguém pode contestar que a chamada demorou demasiado tempo a ser feita: 12h22. Em tribunal, Murray disse que isto se deveu à falta de uma rede telefónica fixa na residência, além de ter tentado, sem sucesso, alguns números de segurança.
Alberto Alvarez ligou finalmente para o 911. De acordo com o mesmo, antes disso perguntou várias vezes a Murray se não deveriam chamar uma ambulância, mas o médico respondeu-lhe sempre que não. A determinada altura, disse em tribunal, pediu a Alvarez que o ajudasse a esconder os medicamentos de administração intra-venosa que estavam no quarto.
"Aqui, coloque-os neste saco", terá dito a Alvarez. Com a bolsa aberta, o homem viu o médico a deitar os frascos todos lá para dentro. De seguida, colocou o saco noutro maior. Alvarez achou que Murray talvez estivesse a preparar uma bolsa para levar para o hospital. Na verdade, estaria a esconder possíveis provas de um crime.
"Pela minha experiência pessoal, eu acreditava que o doutor Conrad Murray tinha as melhores intenções para com o senhor Jackson, portanto não questionei a sua autoridade na época", disse Alberto Alvarez.
Tinham passado duas horas desde a paragem cardíaca de Michael Jackson.
Em tribunal, os paramédicos que assistiram o cantor descreveram a cena que encontraram como "caótica". O bombeiro Richard Senneff revelou que encontrou "um paciente de pijama. Estava muito pálido e extremamente magro. Parecia muito doente, em fase terminal de uma longa doença".
De acordo com Senneff, Murray estava em "pânico", "pálido e suava". Quando questionado sobre os remédios administrados, invocou sigilo profissional.
Os paramédicos tentaram a reanimação durante 45 minutos. Durante várias vezes quiseram declará-lo morto, no entanto Murray insistiu que o levassem para o hospital. Foi o que fizeram: às 13h14 chegaram ao Ronald Reagan UCLA Medical Center. Às 14h26, Michael Jackson foi declarado morto. Tinha 50 anos.
Conrad Murray foi condenado por homicídio involuntário em 2011. Cumpriu dois dos quatro anos de pena.