Peter Darmos, pai e empresário de 62 anos, ficou impressionado com as filas de milhares de recém-desempregados que juntavam dentro e fora do Centrelink, o centro de emprego do governo da Austrália, em Melbourne, capital do estado de Victoria, para pedir subsídio.

Sentiu que tinha de fazer alguma coisa. Saiu de casa, foi ao banco levantar 100 mil dólares (cerca de 90 mil euros) e dirigiu-se a este local, onde esteve a dar notas de 100 dólares (cerca de 90 euros) a quem ficou sem trabalho, um dos danos colaterais mais graves da pandemia COVID-19.

"São pessoas inocentes que não têm meios para pôr pão na mesa de família", disse o homem à rádio australiana 3AW, na sexta-feira, 27 de março. "Os pagamentos do Centrelink só são feitos para a semana. Eles precisam de ter comida em casa esta noite."

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Residente em Balwyn North, Darmos é natural da Grécia, país de onde emigrou quando era criança. Esteve uma hora na fila do banco, até conseguir levantar a quantia máxima de 10 mil dólares. Depois, distribuiu o valor por quem estava dentro e fora do centro de emprego.

"A gratidão, as lágrimas nos olhos das pessoas, foi inacreditável", relatou o homem a quem já foi atribuída a alcunha de "bom samaritano". "Tinha de fazer isto porque estas pessoas precisavam de um alívio instantâneo. Elas não podem esperar por amanhã ou pelo dia depois de amanhã."

"Não ia aguentar ver os meus filhos a serem alimentados e outros a morrer de fome. Esta é uma tragédia de profunda proporção", disse Peter Darmos, numa alusão à pandemia COVID-19, que já infetou 4203 pessoas e matou 17 pessoas na Austrália.

O homem incentivou ainda outras pessoas ricas da austrália a doarem dinheiro para trabalhadores de indústrias lesadas pelo novo coronavírus. "Todos nós conseguimos chegar a um Centrelink do país em 30 segundos e dar uma contribuição [a que chamou de lettuce leaf (folha de alface)] a quem precisa, de forma a que consiga pôr comida na mesa da família", disse. "Este país tem sido bom para mim e o meu coração está com estas pessoas que estão realmente a sofrer."

No início desta semana, milhares de trabalhadores recém-desempregados reuniram-se nos escritórios do Centrelink da Austrália para reivindicar subsídio de desemprego. De acordo com as previsões dos economistas, estima-se que cerca de 814 mil australianos entrem em situação de desemprego, na sequência de também este país ter encerrado todas as suas atividades, de modo a combater a propagação do vírus. Devido ao aumento do fluxo, o Centrelink está a recrutar 5 mil funcionários.