O ex-presidente norte-americano Donald Trump anunciou, esta segunda-feira, 15 de julho, aquele que será o seu braço direito, se ganhar as eleições presidenciais marcadas para 5 de novembro. Estamos a falar de J. D. Vance, o senador do Ohio, que é candidato a vice-presidente pelo Partido Republicano.
O anúncio foi através da rede social Truth Social, uma plataforma criada pelo Trump Media & Technology Group, no rescaldo da Convenção Nacional Republicana, que arrancou na segunda-feira, em Milwaukee, no Wisconsin. O magnata deu, depois de meses de espera, uma resposta em relação a este tópico, já que ainda não tinha anunciado quem ocuparia esta posição.
"Após longa deliberação e reflexão, e considerando os tremendos talentos de muitos outros, decidi que a pessoa mais adequada para assumir o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos é o senador J. D. Vance do grande estado de Ohio", anunciou o candidato a presidente dos Estados Unidos.
A revelação acontece depois de Donald Trump e Mike Pence, o seu primeiro vice-presidente, terem ficado de costas voltadas. Isto porque o ex-governador do estado do Indiana, aquando das eleições de 2020, das quais Joe Biden saiu vitorioso, rejeitou os esforços do magnata para anular os resultados eleitorais desse mesmo ano.
No entanto, J.D. Vance, ou James David Vance, era o mais novo dos principais nomes apontados pela imprensa norte-americana à vice-presidência, numa lista de Donald Trump. De autor bestseller ao passado anti-Trump, eis o que precisa de saber sobre o candidato à vice-presidência dos Estados Unidos.
O passado familiar conturbado
James David Vance, atualmente com 39 anos, nasceu e foi criado em Middletown, no estado de Ohio, estado do qual é senador desde 2023. No entanto, o seu nome de nascimento é James Donald Bowman, que mudou anos mais tarde, fruto da sua história de família conturbada.
Os pais biológicos, Donald Bowman e Bev Vance, divorciaram-se quando ele era bebé. No rescaldo da separação, foi adotado pelo novo marido da mãe, Bob Hamel, e mudou o seu nome para James David Hamel, de acordo com o "The New York Times". Apesar da mudança de nome, conseguiu preservar a sua alcunha, J.D. .
Bev Bowman e Bob Hamel divorciaram-se anos mais tarde e a progenitora de J. D. Vance lutou contra a toxicodependência, pelo que o político foi criado maioritariamente pelos avós. E foi só quando se licenciou em direito que adotou o nome pelo qual o conhecemos hoje em dia.
A mudança aconteceu na sequência do casamento com uma colega de turma, Usha Chilukuri. O par deu o nó em 2014, tendo os dois adotado o apelido da mãe do candidato à vice-presidência, e a relação deu frutos pouco tempo depois. Em conjunto, o par tem três filhos: Ewan, de 7 anos, Vivek, 4, e Mirabel, 2.
De combater na Guerra do Iraque ao primeiro cargo público
Em 2003, depois de completar o ensino secundário, J. D. Vance alistou-se no Corpo de Fuzileiros Navais e cumpriu serviço militar no Iraque, onde ficou até 2007, quatro anos antes do fim da guerra. A sua passagem pelo exército passou por um trabalho focado em relações públicas, diz o "Middle East Eye".
Nesse mesmo ano, foi para a Universidade do Estado do Ohio, onde se licenciou em Ciências Políticas e Filosofia. Depois disso, continuou a sua formação, tendo optado por estudar direito, em 2010, numa das faculdades com mais prestígio dos Estados Unidos: Yale, que faz parte da Ivy League, onde conheceu a mulher.
E tendo em conta este percurso académico, Vance só entrou na política recentemente. Isto é, em 2021 começou a fazer campanha para ser senador do Ohio, depois de Rob Portman, que desempenhava esse cargo, ter decidido que não iria recandidatar-se. Acabou por ser eleito em 2022 e tomou posse no ano seguinte, a 3 de janeiro.
Nem sempre foi defensor de Trump
Durante os primeiros tempos da presidência de Trump, que desempenhou esse cargo entre 2016 e 2020, Vance era um crítico ávido do mesmo. Chegou a chamar-lhe "idiota" publicamente e, num comentário de Facebook, admitiu que este era o "Hitler da América", de acordo com a "Reuters".
Apesar de ser do partido republicano, J. D. Vance não se identificava com Donald Trump, tendo também chegado a dizer que este era "perigoso" e "inapto" para o cargo que detinha. Além disso, o candidato a vice-presidente até chegou a criticar a sua retórica racista, visto que a mulher tem ascendência indiana.
Entretanto, J. D. Vance foi mudando de posição gradualmente, pelo que, em 2022, já teve o apoio do ex-presidente à sua candidatura ao senado norte-americano. Isto porque já ia concordando com algumas posições de Trump, nomeadamente na desvalorização da invasão do Capitólio, que aconteceu em janeiro de 2021, e nas políticas económicas protecionistas.
Esta mudança de posição levou democratas e republicanos a questionar as motivações do senador do Ohio, que acham que está a ser oportunista. No entanto, Trump não parece ter dúvidas da transformação do candidato que escolheu, tendo por base o facto de as suas opiniões convergirem em várias áreas, incluindo a sua oposição ao apoio norte-americano da Ucrânia, diz a Reuters.
É autor de um bestseller
Apesar de estar nas bocas do mundo pela corrida à vice-presidência dos Estados Unidos, foi o livro "Hillbilly Elegy" – traduzido para português como "Lamento de Uma América em Ruínas" –, publicado em 2016, que fez com que os holofotes se virassem para si, fruto dos relatos que lá constavam.
A obra tornou-se num autêntico bestseller, tendo vendido 1,6 milhões de cópias, de acordo com a "Forbes". O livro, que incide sobre os conflitos na vida do candidato a crescer na pobreza, acabou por chamar a atenção do realizador vencedor de um Óscar, Ron Howard, que o transformou num filme original da Netflix em 2020.
Gabriel Basso é quem interpreta J. D. Vence no filme. Amy Adams veste a pele de Bev Vance e Glenn Close também faz parte do elenco, interpretando a avó do candidato, Bonnie, a quem este sempre chamou Mamaw. O filme está com uma avaliação de 25% da crítica no Rotten Tomatoes, valor que ascende aos 82% no que diz respeito à opinião público.
Aborto e apoio à guerra da Ucrânia? Não é com ele
Em relação ao aborto, Vance diz que é pró-vida (ou, por outras palavras, contra este procedimento), apoiando inclusivamente uma proibição nacional da interrupção voluntária da gravidez após as 15 semanas de gestação, embora também concorde com a abordagem de Trump de serem os estados a decidir, de acordo com a CBS.
No que diz respeito à guerra da Ucrânia, opõe-se à ajuda que os Estados Unidos estão a dar ao país, com base no argumento de que a administração não possui um plano concreto para fazer com que os ucranianos saiam vencedores do conflito. A par disto, diz que a Ucrânia não tem mão de obra e poder de fogo suficientes para enfrentar a Rússia, e que os EUA não conseguem colmatar essa deficiência.