Richard e Sheree Spencer conheceram-se em 2000, numa discoteca, quando tinham 23 e 22 anos, respetivamente. Desde então, nunca mais se largaram, tendo casado em 2009. Mas a relação esteve desde cedo manchada por violência doméstica por parte de Sheree.
Richard aguentou mais de duas décadas de abuso físico e verbal. Hoje, com 46 anos, não entende como é que se sujeitou a isso e como foi incapaz de colocar um ponto final. Usava maquilhagem para esconder as nódoas negras e quase todos os dias terminava no chão, em posição fetal, a tentar proteger-se.
"Sentia que merecia ser castigado. Perdi a minha independência e o meu livre-arbítrio e apenas aceitei que a minha vida seria assim. Agora para o fim, ela controlava tudo, desde em que quarto eu podia dormir a que sanita podia usar. Já não era eu", disse o inglês, citado pelo "Daily Mail".
A fúria incontrolável de Sheree era sempre desculpada por Richard, que tinha em mente que a mulher tinha vivido uma infância abusiva, com pais toxicodependentes. "Eu queria ajudá-la. Foi a primeira pessoa por quem me apaixonei", afirmou a vítima, que se afastou dos amigos e da família.
Em 2007, Sheree teve um caso, mas Richard desculpou-a. "Foi culpa minha, por trabalhar muitas horas e negligenciá-la", pensava. No início da relação, Sheree empurrava-o, dava-lhe estalos e partia coisas. Nas manhãs seguintes, pedia desculpa e dizia que não voltava a acontecer.
Com o passar dos anos, isso deixou de acontecer e as agressões pioraram. Desde pontapés e socos a ameaças com facas, Richard chegou a ir parar ao hospital para levar pontos na cabeça depois de a mulher o golpear com uma garrafa de vidro. Sheree não parava, mesmo quando Richard pedia.
Chegava a beber três garrafas de vinho por dia e, quando não tinha mais, batia-lhe para ele ir buscar. Estragava-lhe os computadores (foram mais de cinco), fingia que Richard lhe batia e gritava para os vizinhos ouvirem. "Eu disse-te que nunca me vencerias. Sou muito mais inteligente que tu", assegurava, ao marido.
Cuspia-lhe na cara e batia-lhe com o que quer que estivesse à mão, fosse uma garrafa, um telemóvel ou o comando da televisão. Uma vez, defecou no chão e obrigou-o a limpar. Outra, bateu-lhe com tanta força com uma garrafa de vinho que lhe desfigurou a orelha para sempre.
Sheree garantia que, quando tivesse um bebé, seria feliz. Esta obsessão fazia com que Richard fosse obrigado a ter relações sexuais duas vezes por dia e, quando não conseguia, ouvia críticas acerca do tamanho do seu pénis e da sua performance, tendo chegado a recorrer a fármacos.
Depois de três meninas (tendo a primeira nascido em 2015), o cenário apenas piorou. "Começou a ameaçar-me com a nossa filha. Dizia que ia esmagar a cara dela contra o espelho e cortá-la, depois ligar à polícia e dizer que tinha sido eu, para que eu não a pudesse ver", recorda Richard.
Nesta fase, o inglês começou a tirar fotografias e a gravar vídeos e áudios do sucedido por proteção. O pesadelo acabou quando um amigo de Richard, que era polícia, interveio e alertou as autoridades, que tiveram acesso às provas e que detiveram Sheree, sentenciada a quatro anos de prisão.
Foram fornecidos 36 vídeos, nove áudios e 43 fotografias que ilustravam o abuso. Agora, Richard sente que já consegue respirar. Sheree, que trabalhava para o Ministério da Justiça, acabou por ter de admitir a culpa, depois de tentar enganar a polícia e não ser bem sucedida.
O juiz que acompanhou o caso disse tratar-se do "pior caso de comportamento controlador e coercivo" com que já tinha lidado. Perante o desfecho, Richard diz ter sofrido ao testemunhar a família a ficar ciente de tudo o que se passou. "Não senti raiva dela. Não fiquei assustado. Não tive quaisquer emoções", diz, questionando-se: "Como permiti que isto acontecesse?".