Em agosto, Cíntia Chagas anunciou o fim do casamento com Lucas Bove, apenas três meses depois de darem o nó em Itália, devido a violência doméstica. A professora e influenciadora digital brasileira de 41 anos apresentou queixa contra o ex em setembro, mas desde o início da relação, em 2022, que o deputado federal do Partido Liberal de 36 anos apresentava comportamentos obsessivos com a mulher.
Em outubro de 2022, quando Cíntia Chagas viajou em trabalho, Lucas Bove exigia provas constantes da sua localização, incluindo fotografias e videochamadas. No depoimento à polícia, a influenciadora digital contou que a primeira grande discussão do casal ocorreu em novembro de 2022, depois desta ter publicado um vídeo publicitário nas redes sociais. O homem foi até sua casa, chamou-a de “puta, piranha e vagabunda” e exigiu que a mulher apagasse o conteúdo. A partir daqui, os episódios foram mais frequentes.
No boletim de ocorrência, ao qual o "Portal Leo Dias" teve acesso, ainda é relatado que Lucas Bove costumava apertar com força partes do corpo de Cíntia, como os ombros e as pernas, deixando-a com marcas. Quando a mulher pedia para o marido parar, este dizia que estava “viciado” em agredi-la.
Outro episódio ocorreu quando a influenciadora digital decidiu inscrever-se no ginásio. O deputado confrontou-a, insinuando que a mulher estava interessada em homens ricos que frequentavam o local no horário da manhã, e ameaçou terminar a relação se Cíntia não cancelasse a inscrição.
Segundo o boletim, os episódios de violência repetiram-se por meses, tendo Cíntia relatado vários abusos físicos e psicológicos na denúncia. Durante uma discussão, Lucas Bove atirou uma faca contra a perna da mulher, magoando-a. Numa outra situação, ele ter-lhe-á atirado uma garrafa de água e ameaçado queimar as suas coisas.
No depoimento à Polícia Civil de São Paulo, Cíntia contou que Lucas fez uma espécie de contrato quando se estavam a separar e a intimidou a assiná-lo, sob pena de multa de 750 mil reais (mais de 120 mil euros). O documento, enviado por Whatsapp, tinha “diversas imposições” e, se a mulher não o assinasse, este ameaçou que a processava “criminalmente”.
As ameaças também envolveram políticos de direita, como Ricardo Salles, o ex-ministro do Meio Ambiente, e Michelle Bolsonaro, mulher de Bolsonaro, que estava a exigir ao deputado que ele se manifestasse devido às acusações de violência doméstica, segundo o “Metrópoles”.
“Eu vou tirar o seu sustento. Vou usar áudios em que você usa termos chulos para desconstruir sua imagem. Eu tenho equipe para denegrir sua imagem na internet com vídeos editados de entrevistas que você deu. Eu estou disposto a expor intimidades suas na internet de modo a acabar totalmente com a imagem que você construiu. Se você reagir, eu perco somente o meu sonho na política, já você perde todo o seu sustento”, ameaçou Lucas. Cíntia não assinou o contrato.
A 4 de setembro, Cíntia Chagas apresentou queixa contra Lucas Bove, afirmando que vivia um relacionamento tóxico e que o deputado era “possessivo, ciumento e controlador”. Como tal, conseguiu uma medida de proteção.
Lucas Bove já se manifestou, negando as acusações. “Hoje meu coração está ferido, jamais esperava isso de quem tanto amei e cuidei. Para começar: eu jamais encostaria a mão para agredir uma mulher. Em nome do engajamento, ignoram a cronologia dos fatos, selecionam maldosamente trechos descontextualizados e inúmeras outras inconsistências que, para quem estava dentro da situação, são claras. Já vimos diversas condenações nos tribunais da internet serem revertidas depois, mas as consequências na vida das pessoas, muitas das vezes, são irreversíveis. Sigo trabalhando, agradecendo as mensagens de apoio e suportando as mais pesadas críticas que venho recebendo na certeza de que, no final, a Justiça será feita e o bem e a verdade prevalecerão”, escreveu nas redes sociais.
Cíntia Chagas é professora de português, influenciadora digital, contando com 6,5 milhões de seguidores no Instagram, 636 mil no TikTok e 502 mil no Youtube, e realiza cursos e palestras onde dá dicas de oratória. Conhecida por ter opiniões polémicas, já criticou as mulheres por beberem cerveja, defende que “a mulher precisa de se submeter ao homem” e que “o horário da casa deve girar em torno dele”, e ainda considera que “há situações em que a mulher deverá pedir permissão”. Além de conservadora, considera-se antifeminista.
Esta quinta-feira, 10 de outubro, a Coalizão Nacional de Mulheres, um grupo feminista composto maioritariamente por advogadas, mostrou apoio à influenciadora digital. “Cíntia, conhecemos bem o fenómeno da violência contra a mulher e o quão devastador ele é em relação à carreira e à vida pessoal das mulheres. (…) Quando afirmamos que as mulheres não devem ser submissas aos homens, estávamos nos referindo a isso: não se submeter à injustiça, à indignidade, ao desrespeito. (…) Nós respeitamos os homens e eles devem-nos igual respeito. Feminismo é a luta por essa igualdade, uma igualdade de direitos e obrigações”, afirmaram.