Emily Dover tinha apenas 2 anos quando as mamas começaram a crescer. Com apenas 4 teve a primeira menstruação, no ano seguinte começou a ter alterações de humor, calores repentinos e desregulação hormonal — tudo sintomas da menopausa, que chegou quando tinha 7 anos. A mãe, Tam, faz tudo o que pode para que a menina tenha uma vida normal. Só que não é fácil quando Emily é tão diferente das outras crianças.

"É de partir o coração. Não consigo comprar-lhe vestidos normais por causa das mamas. Ela é mais parecida com uma adolescente de 17 anos", contou a mãe à última edição da revista "It's Your Day", citada pelo "Mirror". "Às vezes ela pergunta porque é que tem barriga e as suas mamas são tão grandes, e nós dizemos-lhe que é porque é uma menina especial, e que toda a gente é diferente e única à sua maneira".

Emily tinha apenas uma semana quando os pais perceberam que alguma coisa se passava
Emily tinha apenas uma semana quando os pais perceberam que alguma coisa se passava

Só que não é fácil para Emily. Preparada para ingressar no primeiro ano do ensino primário, já no próximo ano letivo, a criança já tem pelos pelo corpo como uma adolescente, além de pesar mais de 64 quilos e vestir roupas para pessoas dos 16 aos 18 anos. Alvo de intimidação na creche, Emily já tem consciência de que é diferente. E a resposta para o porquê desta diferença só chegou recentemente.

Emily sofre de uma doença chamada doença de Addison, caracterizada pela produção insuficiente de hormonas esteróides. Os sintomas são graduais e progressivos, e incluem hiperpigmentação da pele e mucosas, fraqueza, dor abdominal e perda de peso. A prevalência da doença é de 0,9 a 1,4 afetados em cada 10 mil pessoas, sendo que ocorre mais frequentemente em mulheres de meia idade.

Emily tinha apenas uma semana quando sentiu os primeiros sintomas.

"Ela é muito consciente do seu corpo"

Em 2017, Tam Dover, natural do estado australiano Nova Gales do Sul, recordou ao "Mirror" o momento em que a filha teve a primeira menstruação. "Como tinha problemas em ir à casa de banho, ela pensou que tinha feito cocó nas cuecas. Ela nem sequer teve a hipótese de ser uma criança — está a aprender a usar pensos para menstruar".

Tam, que tem mais três filhos, revelou que a criança "é muito consciente do seu corpo". "Ela sabe que é diferente". No entanto, nem sempre é fácil explicar-lhe o que é que se está a passar — é por isso que os pais tentam responder às situações com cuidado, reagindo conforme ela reage.

Aos 3 anos sofria de acne, como se fosse uma adolescente igual a tantas outras
Aos 3 anos sofria de acne, como se fosse uma adolescente igual a tantas outras

Emily era um bebé igual a todos os outros. A mais nova da família, parecia feliz rodeada pela família. Passada uma semana, porém, passou a mostrar-se inquieta, chorava com dores e tinha dificuldade em dormir. De repente, o seu corpo começou a crescer desenfreadamente: aos 4 meses já tinha o tamanho de uma criança de 1 ano, aos 2 tinha um cheiro corporal muito intenso, mamas e período.

Depois de anos de viagens e exames médicos, Emily foi finalmente diagnosticada com a doença de Addison. A criança sofre ainda de puberdade precoce, transtorno do espectro autista e hiperplasia congénita da suprarrenal, que se caracteriza precisamente pelo crescimento exagerado. Também sofre de ansiedade e transtorno de processamento sensorial, isto é, é altamente sensível aos sons, cheiros e coisas que vê.

Diagnosticada com a doença de Addison, Emily prepara-se agora para entrar no ensino primário
Diagnosticada com a doença de Addison, Emily prepara-se agora para entrar no ensino primário

Foram anos de luta para perceber o que se passava

"Emily é a minha filha mais nova, e era também a minha bebé mais pequena após o nascimento", recordou Tam Dover. "Tinha 3,6 quilos".

Foram precisos apenas sete dias para tudo mudar. Com 4 semanas de idade, Emily tinha crescido quatro centímetros numa semana. Na página de crowdfunding Go Fund Me, onde a família Dover pediu ajuda para pagar as contas "astronómicas" da filha, como descrevem, Tam escreveu: "Mal sabíamos nós, ou os médicos, que a Emily tinha uma série de problemas raramente vistos".

Mal sabiam mesmo. De facto, um médico chegou a dizer aos pais de Emily que provavelmente ela estava a "alcançar a sua capacidade genética", uma vez que tanto Tam como o marido são altos.

"Ela continuou a crescer. Aos 4 meses, estava a usar roupas para um bebé de 12 a 18 meses".

Aos 3 anos, quando surgiram os seios, pelos no corpo e acne, foram realizados uma série de testes. Os níveis hormonais de Emily voltaram como se ela fosse uma mulher adulta grávida. "Algo estava muito errado com a nossa menina". "Eventualmente, eles fizeram testes que envolveram a nossa filha precisar de ser sedada, uma vez que o processo estava a causar-lhe tanto stresse que ela estava propensa a ter uma insuficiência suprarrenal, que poderia pô-la em risco de vida".

A mãe, Tam, garante que a filha já tem noção de que é diferente
A mãe, Tam, garante que a filha já tem noção de que é diferente

Os resultados vieram. Infelizmente, eram tão complexos que nenhum dos médicos foi capaz de dar uma "resposta definitiva" sobre o que se passava afinal. Apesar de hoje já terem um diagnóstico aparentemente correto, a situação continua a ser devastadora para a família. É que as despesas médicas são muito elevadas, e nem sempre é fácil descobrir o medicamento certo. Para a mãe, Emily parece uma autêntica "cobaia" humana, uma vez que passa por inúmeros testes até encontrar um tratamento adequado.

Apesar de tudo, Tam garante que a filha é uma criança feliz. "Ela é mesmo especial". No entanto, o maior receio prende-se com o que aí vem — em breve terá de enfrentar o facto de ser "a miúda diferente" na escola, rodeada por colegas da sua idade e mais velhos.

"Há tantos aspetos da sua vida que, felizmente, ela é demasiado jovem para ter plena consciência da forma como isso a vai impactar. Esse impacto vai acontecer quando ela começar a escola no próximo ano e tiver de enfrentar o facto de ser uma criança diferente", conclui.