Capturada a 13 de dezembro de 1942, Czesława Kwoka, de apenas 14 anos, foi uma das muitas crianças que não sobreviveu a Auschwitz-Birkenau, o campo de concentração e extermínio construído pelas forças da Alemanha nazi após a invasão da Polónia em 1939. Momentos antes de a sua fotografia ter sido tirada para documentação, juntando-se assim à de milhões de prisioneiros, a criança tinha sido agredida sem saber bem porquê.
Os olhos que encaravam a lente da câmara transmitiam o medo, a dúvida e a incerteza face ao que lhe esperava. Três meses depois de ter dado entrada no campo, Czesława Kwoka foi assassinada com uma injeção letal no coração. Atualmente, a sua imagem está junta à de tantos outros prisioneiros no bloco seis do museu que retrata o olhar, a vida e o sofrimento de todos os que passaram pelo campo de concentração.
Terá sido a fotografia desta criança de 14 anos que levou a artista brasileira Marina Amaral a dar cor às restantes fotografias num projeto chamado Faces of Auschwitz (ou Rostos de Auschwitz, em português). Segundo revela ao jornal brasileiro "Estadão", aquela fotografia era especialmente dolorosa e perturbadora pela forma como mostrava medo e coragem no mesmo registo.
"Foi uma fotografia feita logo após a chegada dela a Auschwitz e é bastante perturbadora. Retrata uma criança em um momento de extrema vulnerabilidade, com o lábio sangrando, porque havia sido espancada minutos antes, e ainda assim sustentando uma expressão de muita coragem no rosto", começa por dizer.
A artista decidiu colorir a fotografia por mero acaso e a verdade é que, um ano depois, a imagem e a história que contavam tornavam-se virais — captando até a atenção dos responsáveis pelo museu de Auschwitz-Birkenau que republicou a imagem nas redes sociais.
"Quando percebi a dimensão do que estava acontecendo e a intensidade da reação das pessoas do mundo inteiro, compreendi que podia fazer algo maior e com significado. Decidi que queria restaurar mais fotos e contar mais histórias", diz à mesma publicação.
E são mais de 39 mil fotografias que Marina Amaral tem à sua disposição depois de uma parceria com o Museu de Auschwitz-Birkenau para este novo projeto. O trabalho de colorir e trazer vida ao olhar a preto e branco dos prisioneiros é, para a artista, "uma forma de quebrar uma barreira temporal e emocional entre quem as observa e quem foi retratado."
"Quando entendemos que aquele mundo era tão colorido e real como o mundo no qual vivemos hoje, conseguimos nos conectar muito mais profundamente com as pessoas e os eventos históricos ali retratados".
No fundo, ajuda-nos a não esquecer o sofrimento do olhar triste, inerte e corajoso daqueles que sofreram horrores inimagináveis durante a Segunda Guerra Mundial. Especialmente numa altura em que o negacionismo está em voga.
Mostramos-lhe algumas das fotografias que foram coloridas por Marina Amaral.