"Sou um violador como todos os que estão nesta sala. Todos eles sabiam, não podem dizer o contrário", afirmou esta terça-feira, 17 de setembro, o francês de 71 anos quando se referiu aos 51 acusados do caso que está a chocar França.
Faltava pouco para as 9 da manhã (8 horas em Lisboa), quando Dominique Pélicot entrou na sala do Tribunal Penal de Vaucluse, em Avignon, ajudado por uma bengala. O principal acusado dos crimes de violação não comparecia em tribunal por motivos de saúde desde 11 de setembro.
O antigo vendedor de móveis afirmou nunca ter tocado nos três filhos e pediu desculpa. A ex-mulher manteve-se firme durante toda a audiência, antes de dar o seu testemunho. "Durante cinquenta anos vivi com um homem que nunca imaginei que pudesse cometer estes atos de violação. Ele tem consciência destes atos, mas eu não duvidei deste homem nem por um segundo, tinha plena consciência nele", disse a francesa de 71 anos.
Ao longo de quase 10 anos, o agora ex-marido de Gisèle Pélicot recrutou dezenas de homens online para violarem a mulher enquanto esta estava inconsciente, sob o efeito de medicamentos. Foram encontrados no seu computador milhares de vídeos e fotografias dos abusos, bem como fotografias da filha e das noras, algumas delas nuas e tiradas sem consentimento.
Entre 2011 e 2020, a polícia francesa contabilizou 92 violações cometidas por um total de 72 homens, com idades entre os 26 e os 74 anos. Giséle Pélicot não tinha qualquer memória dos abusos. Às autoridades, o francês de 71 anos admitiu dar tranquilizantes à mulher (esmagava-os e punha-os na comida e nas bebidas) para a deixar inconsciente.
O julgamento do caso que chocou França e o resto do mundo deverá prolongar-se até ao dia 20 de dezembro e os acusados podem enfrentar penas de 20 anos de prisão por crimes de violação agravada.
No passado sábado, 14, milhares de pessoas manifestaram-se por todos o país para apoiar Gisèle Pélicot, que se tornou o símbolo da luta contra a violência sexual em França.