Nos últimos 12 anos, Britney Spears lançou quatro álbuns de originais, encabeçou três digressões mundiais, foi jurada da segunda edição do programa "X-Factor", lançou várias coleções de perfumes e lingerie e o seu nome, enquanto marca, terá gerado uma receita de cerca de 138 milhões de dólares (o equivalente a 121 milhões de euros) por ano. Ainda que Britney se tenha mantido ativa enquanto profissional, desde 2008 que a lei a continua a considerar mentalmente incapaz de cuidar de si própria depois de vários anos a lutar com doenças do foro mental.

Essas crises culminaram em momentos que ainda hoje estão presentes na mente dos fãs mais atentos à carreira da artista. É que em 2007, Britney Spears rapou o cabelo, tentou atacar os paparrazi que a perseguiam de forma insistente e agressiva, fechou-se em casa com os seus dois filhos e sofreu uma overdose de anfetaminas.

O desfecho é conhecido por todos: o internamento numa clinica psiquiátrica que se voltou a repetir no início de 2019, desta vez de forma involuntária e por imposição de Jamie Spears, o pai, que é também o seu tutor legal desde 2012 — altura em que o tribunal decidiu que a cantora não estava em condições de tomar decisões por si. Este estatuto é geralmente aplicado a indivíduos que denotem um estado avançado de deterioração mental ou quem sejam diagnosticados com demência.

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Esta decisão do tribunal, que pode ser revista, declara que o pai de Britney Spears tem controlo total sobre a carreira da filha, bem como sobre quaisquer negociações comerciais que possam surgir ou entrevistas que sejam pedidas pelos vários órgãos de comunicação social. A serem aprovadas, estas entrevistas são sempre combinadas e a equipa de Spears exige o acesso prévio às perguntas para que possa preparar as respetivas respostas.

Mas esta decisão judicial impede-a ainda de contratar um advogado, de saber exatamente quanto dinheiro tem nas suas contas bancárias ou de falar abertamente sobre os detalhes que a obrigam a viver sem vontade própria.

E Britney, com 38 anos, só tem de cumprir com uma obrigação fundamental: continuar a tomar a medicação receitada pelos médicos e pelo próprio pai. Mas a artista recusou fazê-lo em janeiro de 2019, quando foi fotografada fora de casa e a conduzir um carro no qual seguia também o seu namorado. Isso foi pretexto mais do que suficiente para que o pai a tentar internar novamente. E conseguiu.

No entanto, sabe-se agora, através de vários documentados obtidos pela imprensa internacional, que Britney Spears foi internada contra a sua vontade. Mas porque o estatuto a impede de quebrar as relações que tem com o pai, que recebe um salário de cerca de 100 mil dólares (88 mil euros) vindos das receitas geradas pela filha, ou de despedir qualquer pessoa da sua equipa, restam-lhe as vias legais.

Será em agosto, aliás, que Britney terá de voltar a tribunal para tentar provar que a implementação de um tutor legal tem sido uma prática abusiva e, em larga medida, desnecessária.

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Talvez por isso, o movimento #FreeBritney voltou a ganhar tração nas redes sociais, muito à boleia do facto de Andrew Gallery, um dos fotógrafos que trabalhou com a artista no início da carreira, ter revelado na sua conta oficial do TikTok uma carta alegadamente escrita pela cantora um ano depois de o tribunal ter aprovado que esta não estaria em controlo das suas capacidades.

A carta, escrita na terceira pessoa e revelada pelo fotógrafo no domingo, 12 de julho, terá sido escrita em 2009 por Britney que diz ter-se sentido "enganada e usada" pelo pai cujo único objetivo foi o de controlar o seu império. Mas a carta faz ainda menção ao seu comportamento.

"Ninguém sabe a verdade. O comportamento dela quando soube que os filhos lhe iam ser retirados, e que a levou a fechar-se na casa de banho, é perfeitamente compreensível. Mentiram-lhe, foi enganada e usada. Os filhos foram retirados e ela perdeu o controlo como qualquer mãe faria naquelas circunstâncias", terá escrito Britney sobre si na carta cedida a Gallery.

Embora as acusações de manipulação por parte do pai de Britney surjam de várias pessoas ligadas à indústria do entretenimento, muitas delas anónimas por medo de represálias e de processos judiciais por difamação, os fãs da cantora também têm tido um papel fundamental na divulgação do caso e da hashtag #FreeBritney que esteve, durante vários dias, na lista dos assuntos mais comentados do Twitter e Instagram.

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Apesar disso, a cantora nunca pôde, de forma oficial, falar abertamente do que se passava e, por isso, nunca confirmou a alegada manipulação do pai ou a falta de liberdade para fazer coisas tão simples como sair à rua ou conduzir. Quando, aliás, foi internada no início de 2019, foi nas interações com os fãs através do Instagram que disse que o internamento tinha como objetivo lidar com o "stresse decorrentes de alguns problemas" por que a sua família estava a passar.

 A nova sessão em tribunal está marcada para agosto deste ano e são vários os fãs a organizar protestos para a "libertação" de Britney Spears que, consideram, está a ser vítima da sua própria família.

O movimento volta a estar mais ativo numa altura em que a mãe de Spears pediu ao tribunal para ser considerada "parte interessada" nas finanças da filha — levando muitos a especular que o estatuto de tutor legal possa vir a mudar já no próximo mês.