Sérgio Correia, 48 anos, já tinha sido considerado culpado por um júri no início do ano e, esta segunda-feira, 21 de outubro, foi formalizada a condenação. Vai cumprir uma pena efetiva de 8 anos prisão por "violar e controlar de forma coerciva" a mulher, Kathleen.

De acordo com a RTE News, Kathleen Correia prescindiu do direito ao anonimato, garantido à vítima em casos como este, e falou publicamente à porta do tribunal após a leitura da sentença. A irlandesa explicou que a decisão de abdicar do anonimato foi "difícil", mas "a certa". "Passei anos em silêncio e a esconder a verdade, o que me trouxe sentimentos de isolamento, vergonha e culpa. Permanecer no anonimato significaria continuar a ter esses sentimentos. O ditado 'entre marido e mulher, não metas a colher' é errado e prejudicial para as vítimas. Se algo se passa entre quatro paredes, as pessoas não devem ter medo de falar. Não deve haver estigma ou vergonha em relação a violação, violência sexual ou qualquer tipo de violência doméstica. Não fiz nada de mal. Tu foste responsabilizado, mas eu também vou ter de viver com isto para o resto da minha vida", disse Kathleen.

Kathleen e Sérgio conheceram-se em Portugal em 2006 e casaram-se em 2012. Têm três filhos, todos menores. O casal, como foi relatado em tribunal pela juíza Melanie Greally, começou a ter problemas logo no início do casamento, sobretudo no que toca às expectativas de Sérgio relativamente à frequência com que deveriam ter relações sexuais.

Em 2018, o casal voltou para Portugal, mas essa experiência não correu bem, por isso voltaram à Irlanda. No regresso, Sérgio Correia começou a culpar a mulher pela deterioração das condições financeiras da família. Também consumia droga, algo que escondia de Kathleen. Sérgio Correia achava que ter relações sexuais diariamente era um direito seu. Para tal, ameaçava a mulher a dizia-lhe que tinha de o satisfazer caso quisesse que o casamento durasse. O emigrante português dizia à mulher coisas como "safaste-te ontem, esta noite não te safas", quando esta recusava ter sexo.

Como resultado destas agressões físicas e emocionais, Kathleen Correia começou a sofrer problemas de saúde mental e desenvolveu um distúrbio alimentar. A irlandesa falou pela primeira vez sobre as violações em 2019, quando começou a ser acompanhada por uma equipa de apoio de saúde mental.

O júri do julgamento considerou Sérgio Correia culpado de dois crimes de violação em 2019. Nas duas ocasiões, Sérgio Correia violou analmente a mulher, quando ela lhe disse várias vezes que não queria que tal acontecesse e que ele a estava a magoar. Em tribunal, Kathleen contou que o marido "lhe destruiu a alma" e que contar aos filhos mais velhos o que se tinha passado foi "a conversa mais difícil" que teve de ter na sua vida. A juíza disse ainda que Sérgio Correia não mostrou ter noção dos efeitos danosos do seu comportamento, demostrando um nível alto de autocomiseração.

O tribunal considerou ainda que o "controlo coercivo" da mulher irlandesa durou nove meses e envolveu "abusos físicos e psicológicos motivados por raiva". Foi também revelado que Sérgio Correia escreveu uma carta à mulher, pedindo desculpa pelos seus atos durante o casamento. Foi também revelado que o português tinha tido um tipo de cancro não especificado e tentado tirar a própria vida.

A juíza sentenciou Sérgio Correia a nove anos e meio de prisão, com pena suspensa no último ano e meio com a condição de cumprir as regras da liberdade condicional e de participar num programa de tratamento de violência doméstica, sexual e dependência.

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