A autora JK Rowling está novamente no centro de uma polémica relacionada com pensamentos descritos como transfóbicos, depois de ter feito uma publicação no Twitter, em que pôs em causa a expressão "pessoas que menstruam": "Pessoas que menstruam. Tenho certeza de que costumava haver uma palavra para essas pessoas", escreveu referindo-se a mulheres.
A publicação foi alvo de muitas críticas, com vários ativistas transgénero a manifestarem o seu desagrado. Também Daniel Radcliffe, ator que interpretou a personagem Harry Potter, personagem principal dos filmes baseados na saga escrita pela autora, veio falar publicamente sobre o tema, discordando de Rowling e apoiando a comunidade transgénero, num texto publicado no site LGBT The Trevor Project. Não é a primeira vez que a autora se vê no meio de controvérsia por comentários e atitudes consideradas transfóbicas.
Mas, desta vez, depois de tantas mensagens, a autora escreveu uma longa mensagem no seu site a justificar os motivos pela qual ela fez aquele comentário e as razões pelas quais tem esta postura em relação ao sexo biológico. Rowling começa por explicar como é que começou a estudar mais a área ligada às questões de género, fazendo referência a investigação para a construção de personagens para os seus livros. Logo no início, também diz que considera que vivemos numa época altamente misógina — e que nunca pensou que, nesta altura, assim fosse.
"Nos anos 80, imaginava que as minhas futuras filhas, se eu as tivesse, iriam viver numa época muito melhor do que a minha, mas entre o ódio contra o feminismo e uma cultura online saturada de pornografia, acredito que as coisas tenham piorado significativamente para as mulheres", escreveu.
Neste texto, ficamos a saber que JK Rowling já foi vítima de violência doméstica e abuso sexual — dando a entender que esta história remonta ao seu primeiro casamento — acontecimentos que poderão ter moldado a sua visão. "Menciono isto [violência doméstica e sexual] agora, não na tentativa de obter simpatia, mas por solidariedade com o grande número de mulheres que têm histórias como a minha, que foram criticadas por serem fanáticas por terem preocupações em relação a espaços de sexo único."
No ensaio de 3.600 palavras, Rowling não volta atrás nos seus pontos de vista e fala sobre as leis de género no acesso às casas de banho, que, na sua opinião, facilitam a entrada de homens nestes espaços, podendo ser inseguro para as mulheres. "Tudo o que estou a pedir — tudo o que quero — é que uma empatia e um entendimento semelhantes sejam estendidos a muitos milhões de mulheres cujo único crime está em quererem que as suas preocupações sejam ouvidas sem receber ameaças e abusos", pode ler-se.
"Quero que as mulheres trans sejam seguras. Ao mesmo tempo, não quero tornar as meninas e mulheres biológicas menos seguras", diz.
No final, remata: "Eu só mencionei o meu passado porque, como qualquer outro ser humano neste planeta, tenho uma história complexa, que molda os meus medos, os meus interesses e as minhas opiniões. Eu nunca me esqueço dessa complexidade interior ao criar um personagem fictício e certamente nunca a esqueço quando se trata de pessoas trans. "