Após a morte do marido e do filho, ambos vítimas de cancro, Aspasia de Araujo d’Avila, 95 anos, ficou completamente devastada. "Perdi o grande amor da minha vida", disse sobre a morte do companheiro Alziro. Dois anos depois, perdeu o filho mais velho. "Nunca imaginei enterrar um filho. Não é a lei natural da vida", referiu à edição brasileira da "Marie Claire".
Com o choque de duas perdas tão próximas, a idosa ficou bastante fragilizada emocionalmente, e a família tentou que a mesma encontrasse algo para se distrair. Foi então que uma das netas, Fabiana, apresentou os amigurumis à avó, na época com 92 anos. Este tipo de artesanato consiste em fazer pequenos bonecos feitos a partir de uma técnica japonesa de crochet (ami, significa em português tricô, e nuigurumi, bonecos de peluche).
Curiosa, Aspasia começou a pesquisar tutoriais pela internet e com o tempo aperfeiçoou a prática. Foi fazendo cada vez mais bonecos, e uma das netas conseguiu a primeira cliente. Através do passa-palavra, o Vó Pati Atelier (nome do negócio da mulher, inspirado no facto de um dos netos a tratar carinhosamente por Vó Pati), ganhou reconhecimento, tendo já mais de 4.000 mil seguidores no Instagram. "A cada dia surgiam novas encomendas. Fui recebendo elogios, que me enchiam de alegria, e ainda ganhando um dinheirinho extra. E os pedidos aumentando mais e mais", referiu Aspasia.
A idosa nunca tinha tido um trabalho remunerado, pois havia dedicado a sua vida às lides domésticas e a cuidar dos filhos. Tinha já feito peças de tricô, tapeçaria ou pintura em tecido, mas nunca a pensar em lucrar com a prática. "Era só um hobby mesmo. Fazia porque gostava, não por necessidade."
Hoje, Aspasia sente-se realizada profissionalmente pela primeira vez na vida. Tem o apoio de uma das filhas e de uma neta para todo o processo de montagem dos bonecos e gestão de encomendas e prazos, ficando-lhe atribuída a si a tarefa de fazer o crochet.
Para além da realização profissional, Aspasia sente-se motivada e muito agradecida pelo seu negócio. "Estou feliz por tanto carinho e não quero parar", disse à "Marie Claire". Um simples hobby transformou-se no primeiro ordenado desta mulher, que recebe encomendas "de todo o Brasil e também do Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Portugal".