Vamos a números: Giovanni Ferrero é o atual CEO do grupo Ferrero e tem uma fortuna avaliada em quase 20 mil milhões de euros. A marca está presente em 55 países, vende em mais de 170 e fechou o ano de 2017/2018 com um volume de negócios de 10,7 biliões de euros, o que representa um aumento de 2,1% em relação à época anterior.

É uma empresa perfeitamente consolidada no mercado. No entanto, e de acordo com uma investigação do “The New York Times”, é a principal responsável por utilizar refugiados sírios na colheita de avelãs, um dos frutos estrela dos seus produtos, em particular da Nutella.

A Turquia é responsável por aproximadamente 70% das avelãs de todo o mundo, e vende os seus produtos a grandes empresas como a Nestlé, Godiva e, sobretudo, a Ferrero — só esta marca compra um terço da colheita do país.

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Só que antes das avelãs serem moídas e misturadas com o chocolate, elas passam pelas mãos de uma força de trabalho cada vez mais composta por refugiados sírios. A grande maioria não tem proteção legal, trabalha 12 horas por dia, às vezes sete dias por semana.

Shakar Rudani foi um dos refugiados sírios que, juntamente com os seis filhos, foi à procura na Turquia de uma forma de sobreviver. O trabalho revelou-se árduo e perigoso — tendo em conta que o terreno era íngreme, eram obrigados a passar grande parte do tempo presos a rochas por cordas, de forma a evitar quedas potencialmente fatais. "Nunca podes ficar de pé", contou o sírio de 57 anos. Tudo isto enquanto carregam sacas de 50 quilos.

O ordenado não compensou: segundo revelaram ao jornal, receberam 8,90€ por dia, metade do que lhes tinha sido prometido. "Fizemos apenas o suficiente para cobrir os custos de chegar lá e regressar", contou Rudani. "Mais as nossas despesas. Regressámos sem nada".

"Em seis anos de monitorização, nunca encontrámos uma única produtora de avelãs na Turquia onde fossem cumpridos todos os princípios de trabalho básicos", disse ao "The New York Times" Richa Mittal, da Fair Labor Association.

Contactada pelo jornal, a Ferrero disse que se esforça para "proporcionar aos seus funcionários condições de trabalho seguras e decentes", e que pedem "aos nossos agricultores independentes que façam o mesmo".