Os protestos contra o regime de Vladimir Putin não são novos em Moscovo, mas a violência com que as forças policiais têm agido nos últimos dias surpreendeu os observadores políticos. No sábado, 27 de julho, o afastamento da participação da oposição nas eleições para a assembleia municipal de Moscovo levou a mais um protesto não autorizado na cidade.
Apesar do pouco impacto das eleições na política nacional, a polícia respondeu com brutalidade, como se de alguma forma os protestos ameaçassem diretamente o estado russo. Mais de mil pessoas foram detidas, incontáveis foram agredidos com bastões e sprays de pimenta.
A agência noticiosa Reuters divulgou várias fotografias de manifestantes ensanguentados. A violência foi de tal forma grave que já há quem diga que esta foi a maior repressão na Rússia dos últimos sete anos.
Olga Misik estava chocada com aquilo que estava a ver. Sem querer sucumbir ao medo, a jovem de 17 anos agarrou na constituição russa — que garante o direito dos cidadãos a exprimem as suas opiniões sobre a vida social e política — e sentou-se no chão. De pernas cruzadas, rodeada pelas forças de segurança equipadas com escudos, capacetes e cassetetes, começou a ler cada uma das suas linhas.
“Eu só queria recordar-lhes que estamos aqui com propósitos pacíficos e sem armas, mas eles não”, disse a estudante ao site “Meduza”. “Nunca pensei que alguém além deles iria ouvir-me. Sentei-me no chão e comecei a ler os nossos direitos constitucionais, especificando que o que estava a acontecer era ilegal”.
As manifestações deste fim de semana tiveram como mote a proibição de vários partidos políticos da oposição de concorrer às eleições de setembro. Mas os russos também pedem mais liberdade política e transparência. Os ânimos estão cada vez mais exaltados, sobretudo depois da detenção de Alexei Navalny, líder da oposição e um feroz crítico de Putin, durante uma manifestação.
Navalny foi preso na quarta-feira, 24, e ficará detido durante 30 dias. Três dias depois deu entrada no hospital, após ter sido, segundo conta, envenenado por "uma substância química desconhecida". A justificação dada pelos médicos foi a de uma reação alérgica grave.
"É uma tolice achar que se tratam apenas de eleições livres ou da admissão de candidatos. Esta é uma manifestação em defesa dos direitos constitucionais elementares que não seriam questionados num estado democrático", continuou Olga.
A adolescente, cujo pai é defensor de Putin, foi autorizada a afastar-se depois da leitura, mas acabou presa pela polícia enquanto caminhava para o metro.
"Eles não se apresentaram, não explicaram o motivo da detenção", revelou. "Eles agarraram-me os braços e as pernas e arrastaram-me pela rua e pelo viaduto. Gritei que me estavam a magoar, mas responderam-me que eles é que sabiam".
Olga Misik ficou detida até ao dia seguinte. Ainda este mês deverá comparecer em tribunal, acusada de participar num evento público que foi realizado sem apresentação de um aviso.