Os dois estudantes portugueses que se queixaram de racismo por parte das autoridades ucranianas por não os deixarem passar a fronteira em direção à Polónia já passaram a fronteira na noite desta segunda-feira, 28 de fevereiro.

Da recolha de bens ao apoio psicológico. O que está a ser feito em Portugal para ajudar a Ucrânia
Da recolha de bens ao apoio psicológico. O que está a ser feito em Portugal para ajudar a Ucrânia
Ver artigo

A confirmação foi dada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. "Agradeço à embaixadora da Ucrânia em Lisboa, que foi incansável quando nós sinalizámos este problema. As coisas correram bastante bem", disse o ministro, citado pela CNN Portugal. 

A passagem dos dois estudantes portugueses acontece depois de esta segunda-feira de manhã, 28, Ana Maria Costa, que tinha um filho na Ucrânia a tentar sair do país desde a noite de sexta-feira, ter acusado, em declarações à RTP, as autoridades polacas de não o deixar passar por ser afrodescendente. De acordo com Ana Maria Costa, várias pessoas estão a ser barradas devido à cor da pele e alguns refugiados "foram corridos com bastões" para que os refugiados "brancos ucranianos" passassem, escreve a RTP. 

Cidadãos de vários países de África denunciam ​​​​​​​situações de discriminação e racismo no acesso à fronteira 

Esta não é a primeira denúncia de racismo feita por parte de quem tenta passar a fronteira na Ucrânia. Nos últimos dias, têm-se multiplicado os pedidos de ajuda por parte de africanos que estão a ser impedidos de deixar a fronteira por discriminação.

Os relatos estão a ser feitos través das redes sociais onde têm sido publicados vários vídeos e fotografias, utilizando a hashtag #AfricansinUkraine, que mostram cidadãos de diferentes países africanos a não conseguir deixar o território ucraniano por lhes ser negada a entrada nos estados vizinhos. A situação levou a União Africana a lançar um comunicado esta segunda-feira, 28 de fevereiro, no qual demonstra a sua preocupação.

"Relatos de que africanos estão a ser escolhidos para tratamento desigual inaceitável seria chocantemente racista e em violação da lei internacional", refere o presidente do Senegal e presidente em exercício da União Africana (UA), Macky Sall, e o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat.

Em comunicado, os dirigentes apelam ainda "a todos os países que respeitem a lei internacional e mostrem a mesma empatia e apoio a todas as pessoas que fogem da guerra, independentemente da sua identidade racial". Na nota pode ainda ler-se um agradecimento aos estados-membros da União Africana e das suas embaixadas nos países vizinhos para acolher e orientar os cidadãos africanos e as suas famílias ao tentarem atravessar a fronteira ucraniana em segurança.

A manifestação por parte dos dois dirigentes acontece depois de a Nigéria ter já condenado a discriminação de refugiados africanos no acesso à fronteira com a Polónia, lembrando os cerca de quatro mil nigerianos e "muitos outros cidadãos de nações africanas amigas" que estão retidos na Ucrânia.

"Há uma longa história, que remonta a décadas, de nigerianos e outros africanos a estudar na Ucrânia, particularmente medicina. A maioria dos cidadãos nigerianos no país, hoje são estudantes matriculados em universidades", disse o governo em comunicado, citado pelo "Jornal de Notícias", referindo ainda que "é primordial que todos sejam tratados com dignidade e sem favores".

"Todos os que fogem de uma situação de conflito têm o mesmo direito à passagem segura sob a Convenção da ONU e a cor do seu passaporte ou da sua pele não deve fazer diferença", frisou.

Após as várias denúncias, a Polónia fala em relatos "falsos e ultrajantes" e nega que haja "segregação" de refugiados com base na raça ou religião.