Chegámos ao quinto dia da invasão russa e o mundo tem-se mostrado solidário com a Ucrânia e o seu povo. Desde quinta-feira, 24 de fevereiro, os pedidos de ajuda têm-se multiplicado, mas as respostas também.
Seja através de manifestações de apoio — como as que aconteceram este domingo, 27, um pouco por todo o País —, vigílias, jornadas de oração, recolha de bens e medicamentos ou apoio psicológico, o povo português já mostrou que está disponível para ajudar.
Sacos de cama, colchonetes, cobertores, almofadas, roupa quente, água, comida (conservas, cereais, massa, leguminosas, bolachas, frutas), medicamentos essenciais, produtos de higiene (fraldas, toalhitas, pastas de dentes, escovas, papel higiénico...) ou utensílios de cozinha são alguns dos artigos pedidos pela Associação dos Ucranianos em Portugal, pode ler-se no site.
De norte a sul, são também várias as Juntas de Freguesia, empresas e particulares que se encontram a organizar recolhas de bens para enviar para a Ucrânia. Em Lisboa, a Junta de Freguesia de Benfica, Areeiro ou Arroios são apenas três das muitas que estão a aceitar doações.
Através de uma publicação partilhada este domingo, 27, a junta do Areeiro anunciou que a recolha será feita esta segunda-feira, 28, entre as 16h e as 23h na Rua João Villaret 9, 1000-273. Em Benfica, a recolha acontece também esta segunda-feira, 28, e terça-feira, 1 de março, no Palácio Baldaya (Estrada de Benfica 701A, 1500-087 Lisboa), entre as 9h e as 22h.
A Junta de Freguesia de Arroios vai estar a receber donativos na sede (Largo do Intendente Pina Manique) até quarta-feira, 2, entre as 9h30 e as 17h30. Através de uma publicação partilhada na rede social Instagram, a junta informou que na quinta-feira, 3, irá sair um camião de Portugal para a fronteira da Polónia com todos os bens angariados. No próximo domingo, 6 de março, será realizada uma missa pelo Povo Ucraniano na Igreja de Arroios, às 9h.
"A logística da recolha está a ser tratada pelos padres da nossa paróquia e nós estamos articulados com eles no sentido até de divulgar, em tempo real, o trajeto que será feito pelo camião. Não sei se será possível, mas é nossa vontade. A paróquia falou connosco e nós, Junta, tratámos de acelerar o processo e de o divulgar", explica Hugo Gomes, responsável de comunicação da Junta de Freguesia de Arroios à MAGG.
De acordo com Hugo Gomes, a junta tem estado em comunicação com a Câmara Municipal de Lisboa para que a ajuda possa ser contínua. "Este camião sai já na próxima quinta-feira, mas o que nós pretendemos fazer é continuar a recolha de bens, aí sim, totalmente coordenados com a Câmara Municipal de Lisboa, para o restante tempo porque, infelizmente, prevê-se que a ajuda seja necessária durante algum tempo", continua o responsável de comunicação da Junta de Freguesia de Arroios.
Na Mealhada, em Quarteira, ou em Braga estão também a decorrer recolhas de bens.
Câmara de Lisboa garante apoio a famílias ucranianas
Esta segunda-feira, 28, Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, anunciou o plano de medidas de apoio ao povo ucraniano. Segundo Moedas, o plano está dividido em duas fases, sendo que numa primeira fase vai ajudar os ucranianos que já estavam em Portugal e a segunda fase pressupõe a receção de refugiados ucranianos.
"Somos a capital do País, somos o sítio onde muitos vão chegar e nós temos de estar preparados antes de eles chegarem", reiterou o presidente num discurso feito ao País, no qual frisou que a Câmara de Lisboa está em comunicação com todas as Juntas de Freguesia para que a ajuda seja centralizada. A partir desta segunda-feira, 28, está já em funcionamento uma linha de apoio (800 910 111) e um endereço de e-mail (sosucrania@cm-lisboa.pt), para que todos os que precisam de ajuda a possam solicitar.
O refeitório de Monsanto está também a partir desta segunda-feira aberto para os ucranianos a precisar de ajuda em Portugal. Em breve, ficará também disponível um centro de acolhimento temporário para refugiados, a funcionar no pavilhão da Polícia Municipal de Lisboa.
Psicólogos mostram-se disponíveis para dar consultas gratuitas
Além da ajuda dada através de bens materiais, em Portugal há dezenas de psicólogos que já se disponibilizaram para dar apoio psicológico e emocional, pro bono, à comunidade ucraniana residente e à que chegue ao País refugiada da guerra com a Rússia.
Ana Carina Valente foi uma das primeiras a criar um projeto de apoio no qual conta atualmente com sete psicólogos que darão ajuda à distância (online ou telefone). Os pedidos podem ser solicitados através de e-mail (geral@anavalentepsicologia.pt) ou contacto telefónico (938 502 339).
"Há um ano já tinha reunido uma equipa no âmbito de uma iniciativa solidária para dar apoio a profissionais de saúde, aquilo que fizemos agora foi pegar nessa equipa já formada e reforçá-la, até porque vários colegas se quiseram juntar a nós", esclarece a psicóloga Ana Carina Valente à MAGG.
"O objetivo dos primeiros socorros psicológicos é dar um suporte emocional às pessoas que estão em grande sofrimento porque estão a vivenciar uma situação traumática, seja porque deixaram o País ou têm lá os seus familiares. A literatura diz-nos que esta intervenção, desde logo, diminui no futuro a probabilidade de desenvolvimento de uma problemática ligada à saúde mental e é nisso também que queremos ajudar", continua a profissional, explicando que o apoio é dado tanto à comunidade ucraniana que já se encontra em Portugal como à que virá.
Neste momento, a equipa encontra-se já a acompanhar cinco famílias. Nas redes sociais, foram também vários os profissionais que se disponibilizaram para ajudar.
"Colegas da psicologia, tenho recebido algumas mensagens de pessoas muito ansiosas com esta situação atual. Não estando a trabalhar na área clínica, não deixarei de ajudar no que estiver ao meu alcance. Temos muitas famílias da Ucrânia e da Rússia que vivem em Portugal.
Assim lanço o apelo a quem tiver disponível para algum tipo de apoio (online de forma voluntária e gratuita)", apelou a sexóloga Vânia Beliz numa publicação partilhada na página de Instagram. Nos comentários, vários profissionais da área mostraram-se disponíveis para contribuir.
We Help Ukraine — a plataforma que liga pessoas que precisam de ajuda a pessoas e organizações que podem fornecer apoio
We Help Ukraine é o projeto "de pessoas para pessoas" que arrancou em Portugal este sábado, 26 de fevereiro, e tem como objetivo ser uma plataforma global que liga pessoas a precisar de ajuda na Ucrânia, ou em fuga, com pessoas e organizações que podem fornecer apoio.
"Em situações como esta o que costuma acontecer é que há muito desperdício de recursos porque toda a gente quer ajudar, mas há poucas coisas centralizadas. Este movimento, liderado por pessoas, visa, no fundo, ser a plataforma digital única e unificadora de outras plataformas, pessoas e entidades que querem ajudar", explica Hugo de Sousa.
De acordo com o porta-voz do movimento, há já dezenas de pessoas e organizações para disponibilizar e gerir a plataforma, que funcionará como um "Airbnb" para encontrar e disponibilizar alojamento, medicamentos, ofertas de trabalho, entre outras coisas.
"A ideia é que as pessoas quando chegarem cá consigam encontrar tudo aquilo de que precisam na We Help Ukraine", diz Hugo de Sousa, referindo que a plataforma está a ser lançada aos poucos e que, neste momento, já mais de mil pessoas se disponibilizaram para ajudar. "Desde baterias de telemóvel a quartos. Todo o tipo de ajuda é bem-vinda para quem a procura e estamos agora também ligados a organismos públicos, como a Câmara Municipal de Lisboa, para apoiar quem chega", remata.