Armas químicas e nucleares. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse, em entrevista à CNN, que "todo o mundo" deve estar preparado para a possibilidade de a Rússia utilizar armas nucleares, num discurso em que não descartou a hipótese de os russos recorrerem também a armas químicas. Segundo diz, "ele [o presidente russo] pode usar armas químicas, para eles, a vida das pessoas não vale nada".

"Todo o mundo, todos os países, têm de estar preocupados, porque pode não ser informação fidedigna, mas pode ser verdade", disse. "Devíamos pensar, não ter medo, mas estar preparados. Mas isso não é uma questão só para a Ucrânia, mas para todo o mundo", completou.

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Este discurso do presidente ucraniano surgiu depois de divulgada a informação de que várias cidades, incluindo a capital da Ucrânia, Kiev, foram bombardeadas durante a madrugada desta sexta-feira, 15, e de que Mariupol pode mesmo ter sido alvo de um ataque químico. Atualmente sob investigação.

A Rússia já admitiu usar armas nucleares se a sua "existência estiver em risco", mas que danos estão em causa? Zelensky garante que se trata de um perigo para "todo o mundo" e não só para a Ucrânia, mas o que é que isso significa? O Ocidente pode estar em perigo?

O que se sabe sobre o arsenal de armas nucleares da Rússia?

Ainda não há qualquer informação relativa ao ano de 2022, mas, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa de Paz de Estocolmo, em 2021, a nação de Putin tinha 6.255 armas nucleares. Sendo que, destas, pelo menos 1.600 estarão ativas e em condições para serem utilizadas.

Com base no último número de que há registo, na mesma tabela, seguem-se os Estados Unidos, com 5.550. Os Estados Unidos e a Rússia, juntos, reunem 90% do arsenal de armas nucleares do mundo. No entanto, a nação de Putin, é, no caso, o país que tem mais armas deste teor. 

Que tipos de armas nucleares existem? Sabe-se que armas nucleares a Rússia tem?

Para perceber que armas nucleares existem, importa perceber o que é, em termos práticos, o que são. Uma arma nuclear é um dispositivo projetado para libertar energia sob a forma de uma explosão, sendo que pode fazê-lo através de reações nucleares de fissão, de fusão ou de reações combinadas.

Maria Francisca Saraiva, investigadora do Instituto de Defesa Nacional, explica, em entrevista ao "ECO" que as armas nucleares "são armas de destruição massiva, a par das armas químicas, biológicas e radiológicas, bastante diferentes da generalidade das armas convencionais", maioritariamente pela "sua capacidade devastadora de dizimar populações". Sendo que, no caso, o impacto e alcance depende do teor da arma nuclear em causa.

De acordo com o diretor da CIA, William Burns, citado pelo "Correio da Manhã", "nenhum de nós pode tomar de ânimo leve a ameaça colocada pelo potencial recurso a armas nucleares táticas ou armas nucleares de baixo rendimento", frisou. Mas, afinal, o que são armas nucleares de "baixo rendimento"? E "armas nucleares táticas"?

Segundo Maria Francisca Saraiva, as armas táticas "são destinadas principalmente para emprego no teatro de operações, contra as forças armadas do adversário" dado que "têm uma reduzida potência e um alcance pequeno", explica. Ainda assim, importa comparar o cenário com episódios históricos para perceber de que alcance estamos a falar.

Estas armas nucleares designadas de "baixo rendimento" podem ter uma potência até 50 quilotoneladas, ou seja, cerca de três vezes mais do que a bomba lançada na Segunda Guerra Mundial pelos Estados Unidos sobre Hiroshima, no Japão — que tinha uma potência de cerca de 15 quilotoneladas e matou mais de 66 mil pessoas, avança o "Correio da Manhã".

Já o nukemap avança que o lançamento de uma bomba semelhante à de Hiroshima em Kiev podia provocar quase 40 mil mortos e perto de 100 mil feridos.

De acordo com a BBC, também sob domínio russo estão armas como:

  • RS-28 Sarmat: um míssil balístico intercontinental com capacidade para transportar até 15 toneladas de ogivas;
  • Avangard: uma arma que terá duas toneladas e que é capaz de andar uma velocidade pelo menos 20 vezes superior à do som, o que permite escapar de sistemas de defesa antimísseis;
  • Status-6 (ou Poseidon): um submarino que pode ser equipado com uma bomba nuclear de cobalto e que, ao explodir, pode provocar um tsunami com 500 metros e espalhar uma nuvem radioativa por mais de 500 mil km2.

O que pode justificar a utilização de armas nucleares por parte da Rússia?

O Kremlin já afirmou que a utilização de armas nucleares só ocorrerá em caso de estar ameaçada a existência da Rússia — o que pressupõe um ataque àquele país por parte de países que não a Ucrânia. Em causa poderia estar, por exemplo, o avanço da NATO para território ucraniano, cenário que já descartou. A NATO tem reforçado constantemente que não se vai envolver militarmente no terreno, avança a CNN Portugal.

Segundo o Kremlin, o documento "Princípios Básicos da Política de Estado da Federação Russa sobre a Dissuasão Nuclear" esclarece em que situações a Rússia conta utilizar armas nucleares.

De acordo com este documento, citado pela mesma publicação, a Rússia admite a hipótese do nuclear "em resposta à utilização do nuclear e outro tipo de armas de agressão maciça contra a Rússia ou um aliado" ou, ainda, "num evento de agressão contra a Federação Russa com o uso de armas convencionais em que a existência do Estado esteja em risco".

Sendo que é à segunda hipótese que se refere quando fala em utilizar armas nucleares se a existência da Rússia "estiver em risco". Neste texto, percebe-se que a Rússia pondera implementar a dissuasão "tendo em vista estados e coligações militares que considerem a Federação Russa como um potencial adversário e que detenham armas nucleares ou outro tipo de armas de destruição maciça, ou potencial de combate significativo".

Isto, sendo que como "potencial adversário" podem estar os Estados Unidos vários países da NATO ou, ainda, NATO em si mesma, como coligação. Da NATO fazem parte 30 países, incluíndo Portugal. 

E as armas químicas?

De acordo com Gregory Koblentz, diretor do Programa de Graduação em Biodefesa da Universidade George Mason, que falou com a CNN, este tipo de arsenal consiste na utilização de químicos tóxicos que afetam os humanos. Gás-mostarda, osarin ou VX são alguns dos mais comuns. É difícil prever as consequências precisas de cada agente químico, sendo que, segundo diz, a dose de exposição é que vai influenciar a diferença de sintomas.

Para efeitos legais, a Rússia deixou de ter armas químicas em 2017, ano em que declarou o seu arsenal destruído. No entanto, o ataque a Alexei Navalny, opositor do regime russo que foi envenenado em agosto de 2020, faz com que se suspeite do contrário. De acordo com a CNN Portugal, o advogado foi alvo de um ataque com um agente nervoso chamado novichok, uma arma química desenvolvida pela antiga União Soviética.

Até à data, ainda não foi confirmado que as forças Rússias já recorreram a armas químicas na guerra contra a Ucrânia, mas de acordo com o jornal "Kyiv Independent", suspeita-se que a Rússia tenha espalhado uma substância venenosa através de um drone que sobrevoou a cidade de Mariupol.

Andriy Biletsky, líder do batalhão Azov, disse, citado pela mesma publicação, que pelo menos três pessoas apresentam sinais claros de envenenamento químico, não tendo o mesmo provocado "consequências desastrosas".

Segundo o mesmo jornal, as vítimas deste ataque estão a sofrer de falta de ar e de problemas de coordenação motora. Ao que se sabe, o Reino Unido já está a trabalhar a investigar os contornos do alegado ataque.

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