A 64ª cerimónia de entrega dos Grammys, que aconteceu este domingo, 3 de abril, noite ficou marcada por um apelo em tempo de guerra: "Contem a verdade", pediu o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
O presidente da Ucrânia marcou presença através de um vídeo gravado 48 horas antes e transmitido na gala dos prémios da música, apresentada pelo humorista Trevor Noah. Aproveitando o mote do evento, começou o discurso por falar precisamente do oposto da música: o silêncio após os bombardeamentos de uma guerra.
"A guerra. O que é mais oposto à música? O silêncio das cidades arruinadas e das pessoas mortas. As nossas crianças desenham rockets, não estrelas cadentes. Mais de 400 crianças foram feridas e 153 morreram. E nós nunca as veremos a desenhar. Os nossos pais estão felizes por acordar pela manhã. Em abrigos anti-bomba, mas vivos. Os nossos entes queridos não sabem se voltaremos a estar juntos. A guerra não nos deixa escolher quem sobrevive e quem fica em silêncio eterno", disse Zelensky.
Volodymyr Zelensky continuou o discurso com um forte apelo sobre o impacto que eventos como este podem para pôr fim ao "silêncio" sobre o qual começou por falar no discurso.
"Defendemos a nossa liberdade. De viver. De amar. De ter som. Na nossa terra, estamos a lutar contra a Rússia que traz um silêncio horrível com as suas bombas. O silêncio da morte. Encham o silêncio com a vossa música! Encham-no hoje para contar a nossa história. Contem a verdade sobre esta guerra nas vossas redes sociais, na televisão. Apoiem-nos da forma que puderem", pediu.
O presidente ucraniano disse ainda, com esperança, que a "paz virá" para todas as cidades que estão a ser destruídas pela guerra. "Chernihiv, Kharkiv, Volnovakha, Mariupol e outras. Já são lendas. Mas tenho um sonho de vida para eles. E livres. Livres como vós no palco dos Grammys", terminou Zelensky ao lembrar algumas das cidades mais fatigadas até ao momento.
O presidente ucraniano não falou, no entanto, sobre Bucha, cidade perto da capital, Kiyv. Esta localidade terá sido, de acordo com imagens divulgadas este fim de semana, palco de um massacre de civis ucranianos às mãos das tropas russas.
Sobre o ataque, a Rússia veio dizer que as imagens são encenações e foram "ordenadas” pelos Estados Unidos e pela NATO com o objetivo de criar teorias da conspiração conta a Rússia. A acusação foi feita por Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, numa entrevista à televisão estatal russa citada pela Reuters, cita o "Observador".
O Presidente do Comité de Investigação da Federação Russa, Alexander Bastrykin, ordenou mesmo uma investigação sobre as "informações disseminadas pelo Ministério da Defesa da Ucrânia sobre o assassinato de cidadãos em Bucha, na região de Kiev", avança a agência Tass, segundo a CNN Portugal.
Bucha indigna o mundo
Depois das imagens divulgadas do alegado massacre de Bucha, com dezenas de corpos pelas ruas da cidade em ruínas, os líderes mundiais têm condenado publicamente estes acontecimentos, que podem vir ser julgados como crimes de guerra.
Uma das últimas declarações é do presidente francês, Emmanuel Macron. "As cenas que vemos em Bucha são insuportáveis. Fica evidente que existem indícios muito claros de crimes de guerra", disse na manhã desta segunda-feira, 4 de abril, numa entrevista à rádio France Inter.
Também primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, já se pronunciou classificando como "absolutamente intolerável" o que aconteceu em Bucha. “A morte de civis inocentes viola a lei humanitária internacional. É absolutamente intolerável e o Japão condena nos seus termos mais fortes”, disse.
Novas sanções à Rússia
Estão a ser planeadas novas sanções à Rússia, mais uma vez devido ao que aconteceu em Bucha. Emmanuel Macron mostrou intenção de o fazer e falou sobre um bloqueio total à exportação de carvão e petróleo russos para a União Europeia.
Contudo, segundo o primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki, "é a Alemanha que é o principal obstáculo às sanções" sobre o país que desde 24 de fevereiro está a atacar a Ucrânia, cita a agência Reuters, segundo a RTP.
Na opinião da ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, a ação deve ser conjunta com a União Europeia e já disse que os países membros devem discutir a proibição de importação de gás russo.