Com apenas 31 anos, o ator da novela da SIC "Golpe de Sorte" continua internado com prognóstico reservado nos cuidados intensivos do Hospital Garcia de Orta, em Almada. As injeções de testosterona foram apontadas como a alegada origem da infeção que levou ao internamento de Ângelo Rodrigues, bem como à paragem cardíaca que se seguiu. Submetido a quatro cirurgias e tratamentos de hemodiálise, a infeção, ou sepsis, evoluiu para um choque séptico. O ator está agora em coma induzido.
"Sepsis é uma disfunção de órgãos, potencialmente fatal como consequência de uma resposta descontrolada perante uma infeção. A infeção pode ter início como qualquer outra, seja ela urinária, respiratória. Neste caso é na pele e tecidos moles", explica Ana Isabel Pedroso, especialista em Medicina Interna do Hospital de Cascais, à MAGG.
No caso de Ângelo Rodrigues, as alegadas injeções de testosterona podem ter causado uma infeção na pele ou uma ferida local, que posteriormente avançou nos tecidos. Essa infeção local pode ter evoluído então para um choque séptico. "Quando a infeção se torna generalizada e sistémica, ou seja, não localizada, há um descontrolo, e isso leva à disfunção de órgãos que podem ser respiratórios, renais, cardíacos", explica.
Quando há um choque séptico, significa que o coração não está a ser capaz de bombear sangue para os órgãos. Nesses casos, é preciso dar uma substância ao doente para que o coração tenha força para voltar a bombear o sangue.
O coma induzido foi a solução encontrada pelos médicos do Hospital Garcia de Orta para ajudar a controlar a situação. Uma medida comum, segundo Ana Isabel Pedroso: "O coma induzido é uma medida usual. Faz-se para que o doente permaneça sedado, enquanto se fazem os tratamentos. É um doente muito crítico, tem que estar muito calmo. Ele é visto até à molécula."
Este coma induzido idealmente não deverá ultrapassar uns dois ou três dias, de modo a garantir que Ângelo Rodrigues não fique com consequências do mesmo: "Se o doente não tiver lesões neurológicas antes do coma, não deverá ter problemas. Se estiver em coma induzido muito tempo, ou seja, algumas semanas, poderá ter consequências neurológicas. Neste momento, o mais importante é mesmo controlar o foco."
Mas esses não são os únicos problemas que podem derivar de um internamento prolongado. O facto de estar deitado muito tempo pode fazer com que se perca a massa muscular e mesmo muita da mobilidade. "Recuperar isso leva algum tempo", afirma.
A recuperação de um doente com um choque séptico pode ser mais complexa do que se imagina, mesmo tendo em conta que, em Portugal, "22% dos internados nos cuidados intensivos devem-se a choques sépticos adquiridos na comunidade, ou seja, por bichos da rua, como uma infeção urinária, por exemplo. A taxa de mortalidade hospitalar quando se tem uma sepsis é de 38%, mas quando evolui para um choque séptico passa para 51%. Se for uma lesão renal aguda, consegue-se recuperar. Se for cardíaca, depende de doente para doente, mas esse terá sempre que continuar a ser vigiado."
A toma deste tipo de suplementos para atingir um ideal de corpo seguido por muitos é comum, o que faz com que Ana Isabel Pedroso tenha muitos casos nos cuidados intensivos relacionados com isso mesmo.
"Nos cuidados intensivos temos várias pessoas que chegam com hepatites tóxicas, muito ligadas ao ginásio. E chegam a precisar de transplantes de fígado. Tudo por causa das hormonas que tomam, que mexem com tudo. Tomam muitas coisas juntas, às vezes sem saber."
É o caso da testosterona, que por si só não deverá ter causado a infeção, mas que "provoca alterações nos órgãos ao longo do tempo. A testosterona está muitas vezes presente em medicamentos ou suplementos, mesmo que não venha no rótulo."