Os números não enganam e Portugal está, novamente, numa fase incerta quanto à evolução epidemiológica do surto do novo coronavírus. Tão incerta que, na verdade, ainda ninguém consegue dizer exatamente quando é que se atingirá o pico de novos casos de infeção ou quanto tempo durará esta segunda vaga. Foi o próprio António Costa quem o disse esta segunda-feira, 19 de outubro, em entrevista à TVI no "Jornal das 8".

"As previsões do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge confirmam o juízo que fizemos na semana passada sobre a gravidade da situação. E, tal como tem acontecido em todos os países da Europa, estamos numa fase ascendente que vai continuar a subir nas próximas semanas. Nenhum dos epidemiologistas pôde prever quando vamos atingir o pico. Não há nenhuma previsão concreta sobre quando isso poderá acontecer. Estamos como estávamos em março, quando não se sabia quando seria atingido o pico", referiu.

Por isso, reforçou, a conjuntura é "grave" uma vez que o País se encontra numa "fase ascendente" da pandemia. "A situação é grave. É umas situação em que não dispomos já daquela que foi a grande arma para conter o crescimento exponencial da pandemia", referindo-se à implementação do estado de emergência durante o qual foram impostos limites à circulação livre e se encerrou grande parte da atividade comercial.

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Sobre um regresso a um nível de alerta mais elevado, o primeiro-ministro não tem dúvidas de que seria "impensável recorrer a um confinamento geral" e voltou a apelar ao sentido de responsabilidade individual para que não tenham de ser acionadas novas medidas mais restritivas. No entanto, e embora admita que, de momento, o regresso a um estado de emergência não esteja em cima da mesa, diz não ser capaz de descartar por completo essa realidade.

"Não posso excluir nenhuma medida, mas devo procurar dizer aos portugueses o seguinte: o custo dessas medidas é imenso. O custo social. Quando encerrámos as escolas, foi fundamental, mas ninguém tem dúvidas do custo que isso teve para o processo de aprendizagem das crianças. Quando proibimos durante meses a visita aos lares, sabemos bem o custo emocional que isso teve para o conjunto dos idosos", explicou.

E continuou: "Aquilo que desejo é o que todos desejamos. A generalidade das famílias, que vivem em Lisboa ou no Porto, têm família espalhada por todo o País. Uma medida dessa natureza [da restrição da movimentação dentro do País, como aconteceu na Páscoa] seria brutal. As pessoas têm de se organizar de forma distinta para celebrar o Natal. Privar as pessoas de se deslocaram seria uma coisa terrível."

No boletim epidemiológico de segunda-feira, 19 de outubro, Portugal registou mais 17 mortes e 1.949 novos casos de infeção, ultrapassando os 100 mil casos de contágio numa altura em que, em grande parte da Europa, são vários os países a regressar ao confinamento generalizado e ao encerramento do comércio como medida de combate à pandemia.