Da primeira vez que o caso captou a atenção dos órgãos de comunicação social, foi apresentado da seguinte forma: Luís Grilo, o engenheiro informático que também era triatleta, tinha saído de casa a 16 de julho para um treino de bicicleta e nunca mais regressou.
Apesar de ter sido a única testemunha a vê-lo com vida, Rosa Grilo, a mulher, insistiu na ideia de que o marido tinha saído de casa e que lhe teria dito que pensava regressar dentro de duas horas. Quando o regresso se revelava cada vez mais improvável, ligou para as autoridades.
Desde o início que Rosa Grilo manteve e defendeu a tese de que, muito provavelmente, o marido teria sofrido um qualquer acidente que o teria impedido de regressar. Os amigos do atleta afixaram cartazes, Rosa participou nas buscas mas nunca fechou a loja de informática onde trabalhava com Luís — o que levantou suspeitas.
Mas a 24 de agosto, 39 dias depois do alerta, o desaparecimento transformou-se numa investigação de homicídio quando Luís foi encontrado sem vida a mais de 130 quilómetros de casa. O corpo estava em estado avançado de decomposição, totalmente nu e com um saco de plástico na cabeça.
Rosa Grilo foi a última pessoa a ver o marido com vida
Os contornos do caso eram cada vez mais estranhos. Além de Rosa ser a única testemunha a confirmar a saída do marido, o treinador de Luís achou desde logo estranho que tenha sido isso o que realmente aconteceu. É que o engenheiro informático não só não gostava de pedalar em estrada, por considerar ser perigoso, como tinha acabado de regressar de uma prova dura de triatlo na Alemanha e, por isso, era expectável que estivesse a descansar.
Rosa manteve sempre o mesmo discurso, ainda que depois de encontrado o corpo tivesse descartado a hipótese de o caso ter sido decorrente de um acidente, tal como esclareceu numa entrevista à TVI.
Quando confrontada pela jornalista com a possibilidade de ter estado envolvida na morte do marido, Rosa garantiu que não e admitiu saudades de Luís. "Não tive nada a ver com isso. O Luís faz-me muita falta. Faz parte da minha vida desde sempre. Difícil é imaginar o resto da nossa vida sem ele", lamentou.
E respondeu ainda a quem a criticou por ter ido vestida com uma camisola branca ao funeral do marido. "O que eu fiz foi levar uma camisola branca que o Luís ganhou na última prova que fez. Como não acredito que alguém lhe tenha feito mal propositadamente, ou que tenha sido uma coisa premeditada, também não acredito que queiram incriminar-me."
As suspeitas não se ficaram por aqui, e continuaram quando surgiram os primeiros relatos de que Rosa e Luís já não usavam aliança. Numa outra entrevista, desta vez à SIC, a mulher ofereceu uma explicação simples: "Não uso aliança porque engordei bastante e já não me servia. O Luís não usava aliança porque emagreceu bastante e a aliança caía-lhe."
Mas até esta afirmação esbarrou com as descobertas da Polícia Judiciária (PJ). É que apesar de Rosa ter afirmado que ela e Luís tinham "os problemas normais" e comuns de um casal, o jornal "Diário de Notícias" escreve que as autoridades descobriram desde cedo que a relação era tudo menos estável — e que chegou a um ponto em que ambos dormiam em quartos separados.
ADN de Rosa encontrado no saco usado para tapar a cabeça do marido
Não demorou muito para que os agentes da PJ começassem a juntar as peças do puzzle. O facto de ter sido encontrado ADN de Rosa no saco e na corda usada para tapar a cabeça de Luís, levou a que fosse considerada uma das principais suspeitas juntamente com António Joaquim, com quem mantinha uma relação há algum tempo. Na casa de António foi encontrada uma arma com vestígios de ADN de Luís e ambos foram detidos a 26 de setembro.
Após a detenção, Rosa mudou a versão dos factos que ainda diz ser verdade. Aparentemente, Luís Grilo não tinha saído para treinar e terá morrido a 16 de julho vítima de "uns angolanos", com quem alegadamente terá negociado em Angola e que estavam em busca de "uns diamantes".
Segundo o depoimento de Rosa Grilo em tribunal, divulgado pelo "Correio da Manhã", terão sido eles a entrarem em casa com o intuito de matar Luís.
"Nessa altura [há sete ou oito anos], ele [Luís Grilo] trouxe alguns diamantes de Angola. Na altura fiquei um bocadinho assustada e perguntei como é que ele tinha feito o tal negócio. E ele disse que tinha comprado com contactos que tinha lá", pode ler-se. Segundo Rosa, seis meses antes do alegado desaparecimento, Luís começou a demonstrar sinais de preocupação, não dormia e a mulher associou todos estes sintomas a um negócio que terá dado para o torto.
"Comecei a questionar e ele, há coisa de um ano ou dois, teve de me contar que estava a receber pequenas quantidades de diamantes e que depois entregava."
Rosa fala em dois tiros. Acusação garante que só houve um disparo
Face à pergunta "a quem?", feita pela juíza, Rosa não soube responder. "Ele não me quis dizer. Há seis meses, mais ou menos, começou a ficar muito inquieto e preocupado. Deixou de dormir, deixou de treinar e estava realmente muito desorientado. Disse-me que talvez se tivesse metido num sarilho porque não tinha entregue em condições o que tinha recebido. Eu acho que ele não entregou a encomenda a quem devia, pronto."
Quando os três homens lhe bateram à porta, a mulher conta que terão ido à procura dos diamantes mas acabaram a matar o marido à sua frente com dois tiros.
"Agarraram-no [a Luís] por trás e puxaram-no para cima. Ficou meio curvado e disseram-lhe: 'Olha para ela porque é a última vez que a vês.' Nessa altura fechei os olhos porque pensava que eles me iam matar ali naquele momento. Ele [um dos homens] estava a agarrar o Luís e disse-lhe para olhar para mim. Só que disparou no Luís e ele caiu em cima de mim."
Segundo conta, ninguém terá ouvido o disparo e revela que houve mais do que um tiro. "O outro ficou ainda mais danado, agarrou-o e deu-lhe outro tiro assim de lado por cima da orelha". Mas esta é outra das incongruências apontadas pela acusação.
Segundo escreve o "Observador", os resultados da autópsia revelaram exatamente o contrário: que Luís Grilo foi morto apenas com um tiro e que "só foi recuperado um projétil que estava alojado na crânio do triatleta". Segundo a mesma publicação, "a PJ duvida que exista um segundo tiro" até porque, tal como revelou Rosa Grilo, o disparo aconteceu quando Luís estava no seu colo. Isto significa que "poderia deixar marcas no seu corpo ou até feri-la com gravidade".
Depois de Luís Grilo ter sido assassinado na cozinha (embora a PJ não tenha encontrado vestígios de sangue nesta área da casa), Rosa revelou que o corpo foi enrolado em lençóis e plásticos e removido da habitação. Quando Renato, o filho de 12 anos, chegou, um dos criminosos ainda se encontrava dentro de casa.
O "Observador" escreve que foi nessa altura que Rosa disse ao filho que ia sair "à procura do pai". Foi à GNR às 20 horas e, segundo conta ao "Correio da Manhã", terá regressado "por volta da meia-noite". Esta versão dos factos coloca Renato em casa numa altura em que um dos alegados criminosos ainda estava dentro da habitação.
Porém, em declarações à polícia, que o "Correio da Manhã" cita, Renato garantiu que nunca esteve em contacto com nenhum homem durante o tempo que esteve em casa. Rosa mantém que foi coagida pelos criminosos a não contar a verdade.
"O Renato é um bocadinho despistado e ficou logo ali na sala. Ele [um dos criminosos] começou a ameaçar-me, a chamar-me nomes e disse que matava o menino. Disse para eu ir à polícia dizer que o meu marido tinha desaparecido. Obrigou-me a ir e ficou com o meu filho sozinho em casa. Eu sei que devia ter ido logo à GNR dizer o que se passava, mas tive muito medo. Tenho e continuo com muito medo", foi um dos depoimentos de Rosa divulgados pelo "Correio da Manhã".
Mais tarde, em entrevista ao "Linha Aberta", o programa da SIC com Hernâni Carvalho, insistiu na mesma tese e diz que promoveu as buscas policiais porque "não sabia onde estava o corpo".
Segundo a PJ, o crime terá tido motivações passionais e financeiros e terá sido premeditado por Rosa Grilo e António Joaquim, o amante de Rosa.
A primeira de quatro sessões do julgamento acontece já esta terça-feira, 10 de setembro, no Tribunal de Loures. Ambos são acusados de homicídio e de profanação do cadáver do triatleta. E arriscam-se à pena máxima permitida por lei — 25 anos de prisão.