No que diz respeito a bebés e crianças, não há regras. Há ideias, convicções, sugestões e recomendações, mas nunca uma regra. Mas isto pode confundir e deixar até alguns pais inseguros.
Isso e o facto de haver tantos temas tão controversos na maternidade. Marsúpio, sling ou pano? Amamentar ou não? Deixar o bebé comer sozinho ou não? Dar chupeta ou não?
Segundo João Bismarck, pediatra no Hospital Lusíadas, não há uma resposta fechada para nada isto, mas em relação às chupetas, afirma ser preferível dar do que deixar o bebé ou criança chuchar no dedo. “Em ambos os casos, dá seguramente uma má oclusão dentária, mas no caso do dedo, torna-se muito mais difícil de conseguir que a criança pare, porque o dedo está sempre ali disponível e a chupeta não.”
E é a partir dos três meses que os bebés podem começar a ganhar este vício, que é quando começam a colocar as mãos na boca. João Bismarck aconselha que os pais estejam mais atentos nessa fase e que, caso notem que levam muito o polegar à boca, o tentem contrariar. “Não é fácil, mas convém tentar”, explica.
A má oclusão dentária é a única preocupação que os pais devem ter relativamente ao uso da chupeta. Uma preocupação que deve ajudá-los não tanto a decidir se dão ou não chupeta, mas sim a decidir quando a criança deve deixar de a usar. “Os bebés gostam da sucção, dá-lhes prazer e conforto, acalma-os, é a idade oral, como explicou Freud. Por isso é normal que gostem de chuchar quer na chupeta quer no dedo ou até na mama da mãe. A ideia de que a chucha é má é um mito. Mas tudo tem o seu tempo e a chupeta também o tem. Idealmente quando o bebé faz um ano, esta deve passar a ser usada apenas na cama, para dormir, e a partir dos dois anos, em que a primeira dentição está formada, deve abandoná-la.”
Claro que cabe aos pais perceber qual o timing ideal, pois também varia de criança para criança e a ideia não é criar traumas.
Mas quando se pode dar a chupeta pela primeira vez?
Não há respostas certas ou erradas sobre o momento certo para iniciar o uso da chupeta. Mas para João Bismarck há uma prioridade: aprender a mamar na mama da mãe. “Idealmente antes de dar uma chupeta a um bebé pela primeira vez, esse bebé deve adaptar-se primeiro ao mamilo da mãe, para se alimentar de forma correta, e só depois disso é que deviam ter contacto com a chupeta. Dessa forma evita-se que haja o chamado nipple confusion, que é quando o bebé se habitua à chupeta ou ao biberon e depois tem dificuldade em mamar no mamilo da mãe.”
Esta adaptação ao mamilo não tem um tempo certo. Tanto pode demorar dois dias como quinze ou até mais.
A chupeta ideal para o bebé
A escolha da chupeta certa pode ser mais complexa do que se imagina. Para que o palato seja bem formado, a chupeta deve ter uma superfície superior convexa e inferior côncava. Este é o modelo anatomicamente mais adequado à boca dos bebés. “Todas as marcas têm chupetas boas e más. As redondas são as únicas que não aconselhamos”, afirma.
Quanto ao tamanho, neste momento só se sabe que não convém que sejam demasiado grandes para a boca, “ainda não está comprovado que o tamanho da chupeta influencia a má oclusão dentária. Ou seja, nada garante que seja necessário trocar a chupeta ao longo do crescimento do bebé.”
Nas várias marcas de puericultura, vemos chupetas de 0-6 meses, 6-12 meses, mas ainda não há estudos suficientes para se dizer com certeza que deve haver esta evolução de tamanhos.
A limpeza deste acessório também é outro dos temas que gera dúvidas. Se há médicos que dizem que a chupeta deve ser sempre esterilizada, cada vez que cai ao chão, há outros que acham um exagero e que acreditam que os bebés ganham mais defesas se não o fizerem. Na opinião de João Bismarck, deve ser um processo progressivo, “nos primeiros meses de vida é importante que a chupeta seja sempre desinfetada ou esterilizada. Progressivamente, os pais podem ir relaxando um pouco, mas sempre com o cuidado de a lavar. Entre os quatro e os nove meses, o bebé começa a ter mais contacto com bactérias e aos onze meses lambem o chão, por isso nessa fase já não faz sentido estar sempre a esterilizar a chupeta."
A chupeta acalma e disso não há dúvida. Em inglês tem o nome de "pacifier" por algum motivo. Mas segundo João Bismarck, os pais têm de aprender a acalmar os filhos de outras formas, “a chupeta não é a única solução. Se cada vez que o bebé ou criança chorar se der logo a chupeta, vai ser mais difícil largá-la. O ideal é que vão usando outras formas de os acalmar, como distraí-los com outro tema ou objeto.”
A ideia é que o bebé ou criança não crie uma dependência no ato de chuchar para se acalmar, quer na chupeta quer na mama da mãe. Para o pediatra, este último é um hábito pouco saudável, principalmente para a mãe, porque fica presa a este vício, fica sem tempo para fazer algumas coisas do dia a dia, e pode ainda ficar com os mamilos macerados.