Emanuel Oliveira, 20 anos, sabe bem o que é estar confinado e doente. Foi uma das vítimas da COVID-19: diagnosticado a 11 de março, permaneceu 25 dias fechado no quarto e conseguiu recuperar. Sentiu na pele aquilo muitos outros casos positivos estão a passar: lidar com o medo da doença e com o desespero de ter de estar sempre sozinho e no mesmo sítio.

É por isso que hoje se dedica a ajudar quem está a passar pelo mesmo. Residente em Ovar, foi neste concelho — que esteve em cerco sanitário durante um mês — se tornou voluntário, conta o "Jornal de Notícias". Diariamente, dirige-se à Câmara Municipal e telefona aos ovarenses que também estão infetados.

Estudante de Direito na Universidade Lusófona do Porto, viu as aulas suspensas um dia antes de saber que estava contaminado pelo novo coronavírus. "Fui tomar café com uma amiga, mantivemos a distância, mas foi o suficiente", conta ao mesmo jornal. Foi assim que foi contaminado. Ela é profissional e saúde e deu positivo no teste. Apesar de não saber se tinha sido infetado, Emanuel não perdeu tempo: "Entrei em pânico, confinei-me logo no quarto, apesar de não saber se estava infetado."

Homem utiliza a grua da empresa para visitar a mãe no 3.º andar de um lar
Homem utiliza a grua da empresa para visitar a mãe no 3.º andar de um lar
Ver artigo

A notícia de que a amiga tinha sido infetada chegou-lhe na sexta-feira, 13 de março. No dia seguinte, o residente em Esmoriz, asmático, começou a sentir os sintomas, entre os quais dores de cabeça e dificuldade em respirar. Depois de esperar duas horas para entrar em contacto com a linha SNS 24, desistiu e foi ao Hospital de Santo António, no Porto. Depois de uma espera de oito horas, teve a confirmação: "Dei positivo e foi-me oferecida a possibilidade de ficar, mas recusei. Preferi vir para casa."

A vida passou a cingir-se às paredes do quarto, com saídas que só aconteciam quando era necessário ir à casa de banho, equipado com luvas e máscara. Sem televisão e apenas com um computador, "os dias não passavam", conta. "Via filmes, estudava, fazia videochamadas com colegas na mesma situação." No WhatsApp fazia parte de um grupo chamado "Os Infetados", onde todos juntos e nas mesmas circunstâncias, arranjavam forma de passar o tempo. "Até jogávamos ao STOP."

Só a 10 de abril é que soube que estava recuperado, na sequência de ter dado negativo em dois testes. "Foi uma grande emoção, finalmente podia almoçar e jantar com os meus pais. Era do que sentia mais falta", recorda.

Emanuel foi o primeiro recuperado do concelho de Ovar. Recebeu, logo de seguida, um telefonema do autarca Salvador Malheiro, a convidá-lo para assistir a um briefing do Gabinete de Crise, onde foi desafiado a permanecer, depois de partilhar a sua história. Dois dias depois, iniciou a atividade que continua a levar a cabo atualmente —  e a que inicialmente chegava a dedicar 14 horas do seu dia. Vai á Câmara e liga aos infetados deste concelho. "Tento animar e dar esperança às pessoas".

Agora, já só vai à tarde. Ao todo, já falou com 200 pessoas, de quem ouviu histórias e a quem contou as suas. "As pessoas adoram que fale com elas, algumas precisam mesmo de atenção. Contam-me a sua história, oiço os problemas delas, e comunico alguns casos à rede social e ao gabinete de psicologia. Porque há situações complicadas, famílias inteiras infetadas".