Em 2012, Ágata Rodrigues, agora com 29 anos, entrava para a redação do "Correio da Manhã" enquanto estagiária do jornal. Terminado o estágio, surge o convite de integrar a redação do Porto, de onde é natural, para cobrir o norte do País para a CMTV. De microfone na mão e tendo as ruas como palco, a jornalista habituou-se às histórias de vida, à atualidade e ao dever de informar quem é espectador do canal. Oito anos depois do início da sua carreira, Ágata Rodrigues é o novo rosto do "Manhã CM", o programa das manhãs da estação, que a partir desta quarta-feira, 17 de março, irá apresentar ao lado de Duarte Siopa.

Em conversa com a MAGG no dia anterior à estreia, a jornalista recorda a origem do sonho — o de experimentar a área do entretenimento e da apresentação televisiva — que nunca foi verbalizado, mas também a dura decisão de vir para Lisboa, deixando a família no Porto, e as principais diferenças entre o jornalismo nas ruas e a apresentação em estúdio.

É que nas ruas e em reportagem, explica, os jornalistas são "obrigados a lidar com tudo", desde a pessoa que passa e grita àquela que, em direto, recusa uma entrevista. Não há "guião estudado", continua, o que a terá munido de uma capacidade de improvisação que espera poder usar em estúdio para cativar o espectador.

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Mas recorda também o momento em que, em 2017, enquanto passava férias com a família em Barcelona, Espanha, se viu no meio de um atentado terrorista quando um condutor de uma carrinha atropelou a multidão que passeava pela região de La Rambla. O atentado resultou na morte de 16 pessoas, e outras 155 ficaram feridas.

"A ligação emocional ao momento e às pessoas que me rodeavam ajudou a que a minha reportagem fosse mais verdadeira. Porque, de facto, estava completamente envolvida naquilo", recorda, e rejeita a ideia de que a CMTV seja percecionada pelo público como uma estação associada à tragédia.

"O tipo de jornalismo que a CMTV faz está associado à realidade e à verdade. Quem é espectador do canal percebe claramente que nós cobrimos tudo o que se passa, ou seja, a realidade de norte a sul do País", diz.

Depois de oito anos no jornalismo, dá o salto para o entretenimento e para apresentação. É uma mudança calculada ou surge de forma espontânea?
Durante estes oito anos em que fiz informação, já tinha feito algumas intervenções na área do entretenimento. Nesse sentido, talvez não tenha sido algo completamente inesperado.

Nem um bocadinho?
O convite foi uma surpresa e muito agradável, sim. Mas o facto de gostar de entretenimento e o querer fazer não foi uma surpresa para a minha direção. Ao longo destes oito anos fiz algumas reportagens que, mais tarde, passavam em segmentos de entretenimento, mas também fiz intervenções em algumas galas do "Correio da Manhã", como a do "Sexy 20" e, portanto, sempre disse aos meus diretores que um dia gostaria de experimentar a área do entretenimento.

Ser convidada para apresentar as manhãs do canal, uma posição de grande responsabilidade, foi uma grande surpresa. Sem dúvida.

Ágata Rodrigues.
Ágata Rodrigues.

Estar à frente das câmaras já não é assim tão estranho, portanto?
Não é estranho, mas é diferente, porque fui jornalista de informação, em que o meu palco não era o estúdio.

Mas sim as ruas.
Exatamente. Era o local onde estivesse a acontecer a ação, a ocorrência e, caracterizada por uma envolvência completamente diferente daquela que se vive num estúdio onde, naturalmente, há muitas mais câmaras a apontar para mim. O ambiente de um estúdio é completamente diferente do da rua, durante uma reportagem em que estou a cobrir um incêndio e em que estou junto das autoridades e até das pessoas que estão em sofrimento e muito aflitas.

Em estúdio é tudo, à partida, mais calmo. Mas também com mais pressão porque ainda é um meio que é completamente desconhecido para mim.

"Vi imensas pessoas ensanguentadas no chão, aos berros e foi dos piores momentos da minha vida"

Nas ruas, e em reportagem, a margem que existe para errar é maior quando comparada com a de um estúdio?
Não sei se é maior ou menor. Sei que é completamente diferente e que, na rua, há muitos fatores envolventes que um jornalista não é capaz de controlar e, portanto, somos obrigados a lidar com eles e a saber ignorá-los ou, se tiver de ser, a saber justificá-los perante uma reportagem em direto. Na rua, somos obrigados a lidar com tudo: desde alguém que passa por nós e grita ou até alguém que, no momento em que é abordado por nós, diga em direto que não quer dar uma entrevista.

O que sei é que na rua fui habituada a improvisar e não há guião estudado. Muitas das vezes, chegamos lá e não sabemos muito bem para o que vamos. Isso, a capacidade de improvisação sempre que necessária, é uma boa ferramenta para mim porque embora ainda não tenha dado provas na apresentação, dos testes que fiz e do que fui vendo enquanto espectadora, parece-me que aquilo que as pessoas querem é a verdade. Nesse sentido, gosto muito mais do improviso do que ler o guião.

Embora em estúdio esteja tudo preparado para que nada falhe. Ou que falhe o menos possível.
Claro, o ambiente é muito mais controlado, mas é importante termos essa capacidade de improvisar. Apesar disso, não posso dizer que esteja menos nervosa, porque estou. É mais ansiedade do que nervosismo. Quero muito que aconteça.

Uma das reportagens que realizou disse respeito ao ataque terrorista em Barcelona, Espanha, em 2017, quando um condutor de uma carrinha atropelou vários cidadãos. E surge completamente por acaso.
Sim, estava de férias com a minha mãe, o meu pai e o meu irmão. Estávamos na zona de La Rambla a passear quando, de repente, se dá o atentado embora, na altura, não me tivesse apercebido de imediato de que se tratava de um ataque. Quando entrei numa loja, as pessoas que entraram atrás de mim já vinham ensanguentadas e empurram-nos para o interior. Vinham a correr e a fugir de algo.

Naquele momento, ficámos todos muito surpreendidos e assustados com o que estávamos a ver e só depois, quando começaram a fechar as janelas da loja, é que me apercebo do terror. Vi imensas pessoas ensanguentadas no chão, aos berros e foi dos piores momentos da minha vida.

Apesar do risco inerente associado a qualquer jornalista que se veja numa situação dessas, naquele momento, a vontade de informar vem sempre ao de cima?
Acho que sim. Qualquer jornalista quer cobrir um grande evento ou a realidade, quer seja ela boa ou má, porque acima de tudo, e falo por mim, quero dizer às pessoas o que se passou e foi essa intuição e esse chamamento que tive quando me vi no meio de um atentado que tinha acabado de ser consumado — embora não o soubesse de imediato.

Assim que garanti que a minha família estava bem, a única coisa que queria fazer, e fi-lo, foi contactar os meus colegas que estavam em Portugal e informá-los do que estava a acontecer, embora as informações fossem escassas naqueles momentos iniciais. Disse que não sabia do que se estava a passar, mas que algumas pessoas falavam de um atentado. Mas a minha ideia foi avisar o mundo e isso também serviu para que ativasse o chip do trabalho e, de alguma forma, lidar melhor com a situação.

Acabei por fazer alguns diretos e, do outro lado da linha, tinha os meus colegas jornalistas e a pivô a dar-me informações que chegavam por parte dos jornais espanhóis. Como estávamos fechados naquela loja, não sabíamos muito bem o que se estava a passar lá fora. Só sabia o que os meus olhos alcançavam.

"O tipo de jornalismo que a CMTV faz está associado à realidade e à verdade. Quem é espectador do canal percebe claramente que nós cobrimos tudo o que se passa"

O facto de ter feito a reportagem também a ajudou a racionalizar o momento?
Sem dúvida. Não quero, com isto, dizer que me desliguei emocionalmente do que se estava a passar. Pelo contrário. Estava tão ligada ao que estava a acontecer à minha volta, também por ter a minha família ali, que debitava tudo o que via. A ligação emocional ao momento e às pessoas que me rodeavam ajudou a que a minha reportagem fosse mais verdadeira. Porque, de facto, estava completamente envolvida naquilo. Claro que durante a cobertura diária de situações de reportagem, os jornalistas não estão envolvidos e ainda bem que assim o é para poderem fazer um trabalho melhor.

O facto de fazer parte da CMTV, que o público perceciona estar associada à tragédia, preparou-a para uma situação destas, uma vez que já cobriu vários acontecimentos?
Acho que ninguém está preparado para cobrir uma situação destas e da forma que o fiz, estando diretamente envolvida. Mas não considero que a CMTV esteja sempre associada à tragédia. O tipo de jornalismo que a CMTV faz está associado à realidade e à verdade. Quem é espectador do canal percebe claramente que nós cobrimos tudo o que se passa, ou seja, a realidade de norte a sul do País.

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Não é à toa que muitas pessoas, quando querem ver o que se está a passar no Algarve e no Porto, ligam na CMTV porque sabem que nós vamos dar melhor primeiro. Mas respondendo especificamente à pergunta, sobre se o que vivi diariamente na CMTV me preparou? Sim. Enquanto jornalista, cobri, lá está, o que fosse. Tanto cobria um incêndio no centro do Porto como poderia fazer uma reportagem no mercado do Bolhão que entrasse num alinhamento do "Manhã CM", na área do entretenimento.

Essa capacidade que fui ganhando ao longo dos anos na CMTV ajudou-me a cobrir tanto o desastre que aconteceu em Barcelona como uma chegada emocionante a Fátima. Acho que a CMTV é isto e estou muito grata por ter tido esta escola de jornalismo que me ensinou a estar em todos os cenários e a saber cobri-los bem.

"Como se costuma dizer no Porto, ainda tenho de comer muita sopa com feijão"

De volta à sua estreia na apresentação, o que podemos esperar deste novo "Manhã CM"?
Será o mesmo "Manhã CM" que os espectadores conhecem, mas com mais surpresas e com um novo rosto, que sou eu. [risos] O que podemos prometer é que traremos boa disposição para que as pessoas estejam bem dispostas logo pela manhã. Queremos fazer companhia a quem está em casa, mas sem esquecer, claro, a atualidade. Porque é isso que os espectadores da CMTV procuram: saber sempre o que se passa.

Mas teremos histórias que inspirem, emocionem, mas que também consigam tocar quem vê. Se tivesse de resumir o programa, seria assim: boa disposição, alegria e histórias inspiradoras sem tirar o olho da atualidade.

Esta estreia na apresentação, no entanto, vem de mão dada com a decisão de ter de deixar a sua família no Porto, uma vez que os estúdios são em Lisboa. Está a ser mais difícil também por isso?
Sim, claro. Por um lado, surge a oportunidade de estar numa cidade a 300 quilómetros de distância e à qual não posso dizer que não porque é o meu sonho. No entanto, não posso obrigar a família a vir comigo. É o que mais me custa, especialmente neste contexto pandémico.

Quantas vezes é que já chorou à medida que a concretização do sonho se foi aproximando?
Confesso que não contei [risos]. Mas posso dizer que já me emocionei muitas vezes, porque comecei a ver aquilo com que sempre sonhei a aproximar-se e a acontecer à minha frente. Não consigo esconder a emoção porque isto era uma coisa que queria tanto e sobre a qual nunca pensei que pudesse vir a acontecer.

Porque embora sempre tivesse dito que eventualmente gostaria de experimentar o entretenimento, nunca verbalizei a ninguém que queria ser apresentadora de televisão. Sempre sonhei com isto, sem nunca o verbalizar. Agora já estou a pensar no próximo sonho [risos]. Mas claro que ainda tenho de dar muitas provas na apresentação. Ou, como se costuma dizer no Porto, ainda tenho de comer muita sopa com feijão.