Especialistas da área da saúde defendem que é urgente tomar medidas para evitar que as urgências entrem em colapso, visto que há uma grande possibilidade de coexistência de uma segunda vaga da pandemia de COVID-19, com uma epidemia simultânea de gripe e de co-circulação de outros vírus respiratórios sazonais que poderá criar "o cenário para uma tempestade perfeita".
Num artigo publicado esta terça-feira, 6 de outubro, na Acta Médica Portuguesa, a revista científica da Ordem dos Médicos, o ex-diretor-geral da saúde Constantino Sakellarides e alguns especialistas da área da saúde alertam para a necessidade de tomar medidas para diminuir o afluxo às urgências, minimizando assim também o risco de transmissão que aí ocorre e a sobrecarga das equipas. Segundo os especialistas, "a falência deste plano originará uma pressão insuportável nos cuidados hospitalares."
No mesmo artigo é ainda criticado o plano da Saúde para o Outono-Inverno de 2020-2021 que o Ministério da Saúde divulgou a 21 de setembro e que os especialistas consideram ser "tardio" e "pouco operacional". Nele verifica-se "a ausência de um enquadramento estratégico, priorização das medidas, quantificação, um cronograma, definição de responsabilidades, financiamento associado, gestão dos recursos humanos e procedimentos em caso de sobrelotação". Segundo os especialistas, este plano não tem ainda em atenção "as necessidades dos profissionais de saúde, muito acentuadas por esta crise".
Médicos alertam: "urgências poderão colapsar se não atuarmos a montante"
"Em Portugal, que é o país europeu onde as pessoas recorrem mais às urgências hospitalares, estas poderão colapsar se não atuarmos a montante", garantem. No artigo, são apontadas as medidas que consideram que devem fazer parte do plano para preparar o Inverno que se aproxima, em Portugal, salientado que "os profissionais que estão na linha da frente devem poder descansar para estarem preparados e devem ser justamente compensados. Muitos estão exaustos e desmotivados." Apesar de a Medicina Interna, a Infeciologia, a Pneumologia, a Anestesiologia e a Medicina Intensiva serem as especialidades que têm garantido a assistência à maior parte dos doentes COVID-19, "em situações limite, todas as especialidades podem ser recrutadas assim como os alunos de Medicina do sexto ano". "A cobertura assistencial deve ser homogénea, ao longo da semana, com reengenharia de horários para garantir os dias de descanso.", acrescentam.
No hospital, devem existir planos de contingência e os mesmo devem ser elaborados em colaboração com profissionais "no terreno", com respostas planificadas para os vários cenários, planos esses que "devem ser do conhecimento de todos os profissionais, para que todos saibam o quê, quando, porquê e a quem."
Os especialistas alertam ainda para a necessidade de orientações nacionais que abranjam todo o sistema de saúde, coordenações regionais e sub-regionais, principalmente nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. "Os hospitais não podem ser abandonados à sua sorte. Tudo o que correr mal ou não for feito na preparação do próximo Outono-Inverno vai recair sobre as urgências e internamento hospitalares, o último recurso dos doentes."
Acrescentando que "as respostas na próxima Primavera dependem de como chegamos ao fim do Inverno" e que a comunicação é essencial para essa estratégia: "não basta informar, é necessário analisar o seu impacto real e aprender com isso. Para desafios complexos é necessário pensar e agir de forma sistémica, integrada e nos tempos próprios, para que todos cumpram o papel que lhes cabe."