A ILGA Portugal, a instituição de solidariedade social que apoia e defende os direitos da comunidade LGBTQ+, condena o discurso homofóbico proferido por Paulo Manuel Karussa, o candidato independente que integra as listas do PS à Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, que usou um termo pejorativo para descrever Luís Gomes, cabeça de lista do PSD e presidente da Câmara entre 2005 e 2017.
Num comentário publicado no Facebook, Paulo Manuel usou o termo "panasca" para descrever o social-democrata, num gesto que Luís Gomes apelidou de "escandaloso", demonstrativo da "falta de tolerância e respeito" e incompatível "com os valores democráticos", cita o "Jornal de Notícias".
Depois do comentário inicial, Paulo Manuel Karussa publicou uma nota na sua página oficial de Facebook lamentando o sucedido. "Quem me conhece de perto sabe, desde há muito, os problemas que tenho com o candidato à presidência da câmara pelas perseguições a que fui sujeito há alguns anos. Mas reconheço que, desta vez, excedi-me num comentário que fiz pelo que lamento o sucedido e assumo sozinho a responsabilidade do mesmo", escreveu.
Confrontando com o comentário, argumenta não ser uma pessoa homofóbica e que o termo em questão foi usado para descrever "alguém insignificante", tal como explicou em declarações ao mesmo jornal. E acusa Luís Gomes, com quem tem uma relação turbulenta, de "perseguição política".
Após o comentário pejorativo, Paulo Manuel propôs sair das listas do PS, mas Álvaro Araújo, cabeça de lista do PS, segurou-o, falando numa "palavra infeliz que foi descontextualizada", tal como descreve a situação ao "Jornal de Notícias".
Comentário ilustra a "normalização do discurso homofóbico", diz a ILGA Portugal
A ILGA Portugal, no entanto, é categórica no repúdio dizendo não ser aceitável "este tipo de comentários e de linguagem" e que, por isso, "não é suficiente, ao contrário do que refere o candidato Paulo Karussa, um simples pedido de desculpa e a assunção de que ter proferido aquele comentário foi um 'erro'", tal como fez saber a associação, pela voz da sua vice-presidente, Joana Cadete Pires, à MAGG.
"É evidente para todas as pessoas que leem aquele comentário sabem que não estamos perante um erro, mas sim perante uma expressão proferida de forma intencional e que é ilustrativa da normalização do discurso homofóbico", continua a vice-presidente.
Nas palavras de Joana Cadete Pires, esta "banalização do discurso de ódio" não pode ser deixada passar em branco "quando estamos perante pessoas que ocupam cargos públicos ou que estão elegíveis para tal". Por isso, a ILGA Portugal apela a que "todos os partidos políticos e, neste caso, ao PS em particular, que se distancie deste tipo de comentários e que dê mão aos mecanismos disciplinares que tem ao seu dispor".
"Continuamos a assistir a este tipo de comentários proferidos por pessoas que ocupam o espaço publico porque há uma banalização constante da utilização de determinadas expressões que, sendo claramente insultuosas, ofensivas e que consubstanciam discurso de ódio, durante muito tempo fizeram parte do vocabulário corrente e foram consideradas aceitáveis."
Nesse sentido, a associação reforça "não ser aceitável" este tipo de discurso" uma vez que as pessoas em causa, "em particular, as pessoas LGBTI, sentem a utilização deste tipo de expressões como um insulto e como uma ofensa àquela que é a sua identidade."