As interrupções voluntárias da gravidez (IVG) têm vindo a diminuir desde 2011, avança o “Público”, de acordo com dados provisórios divulgados esta sexta-feira, 3 de junho, pela Direção-Geral da Saúde (DGS). No entanto, entre 2020 e 2021, a descida foi abrupta.

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No primeiro ano de pandemia no País, em 2020, realizaram-se 13.777 interrupções voluntárias da gravidez, e em 2021, o número desceu para 11.640. São números bastante diferentes dos de 2018 e 2019, onde aconteceram 14.336 e 14.696 intervenções deste género, respetivamente — num intervalo de três anos, já existiram menos 2.696 interrupções voluntárias da gravidez.

O Relatório de Análise Preliminar dos Registos das Interrupções da Gravidez divulgado esta sexta-feira, 3 de junho, reflete dados de 2018 a 2021. A DGS explica ao “Público”, que “tal como nos outros anos, a extração definitiva dos dados é habitualmente feita após um ano, porque o registo dos mesmos pelos profissionais na plataforma tem habitualmente um delay [atraso] elevado”. Desta forma, esta pode ser uma das razões para uma diferença tão grande de intervenções em 2021. Numa visão dos últimos 10 anos, entre 2011 e 2021, a descida foi de 42%. Isto é, de 19.921 para 11.640.

Como é que a pandemia influencia os números?

A obstetra Ana Campos explica à mesma publicação que esta quebra de interrupções voluntárias de gravidez pode estar associada à diminuição de contacto social durante a pandemia. A médica exclui a possibilidade de dificuldade de acesso à IGV dado que o número de nascimentos não aumentou durante estes dois anos.

A pandemia alterou toda a organização na sociedade, incluindo as consultas regulares e alguns acompanhamentos médicos. Contudo, a DGS salienta que “desde o início da pandemia que os serviços de saúde foram informados (por orientação da DGS-018/2020) de que a interrupção da gravidez devia ser assegurada, tendo existido por parte dos serviços uma reorganização nesse sentido”, salienta o "Público". A DGS acredita que a diminuição de interrupções voluntárias da gravidez é justificada pela maior utilização de métodos contracetivos, de uma forma “mais eficiente e consciente”.

O tempo entre a consulta prévia e o momento de realização da IGV por opção da mulher foi semelhante nos anos de pandemia e nos anteriores. Em 2021 e 2020 a espera foi de 6,22 dias, e em 2019 de 6,4.

A diferença entre IGV no público e no privado

É notória a diferença de método utilizado para as interrupções pelas instituições de saúde públicas e as privadas. No Sistema Nacional de Saúde, mais de 98% das IGV foram feitas por procedimento medicamentoso, enquanto o privado escolheu maioritariamente uma cirurgia com anestesia geral. A cirurgia foi escolhida em 95,63% em 2021, em 2020 em 97,40% das situações, e em 2019, em 93, 99% das interrupções.

Durante o mês de maio foi discutida a questão do aborto se tornar um indicador para avaliar a qualidade do serviço na área de planeamento familiar. Depois de muita polémica sobre o assunto, a proposta sobre a IGV ser um critério de avaliação caiu. Pelo menos por agora, pois o grupo técnico irá substituir estes indicadores na sua proposta.