Chegou ao fim a greve de fome do movimento "Sobreviver a Pão e Água". O grupo de nove empresários do setor da restauração e da noite decidiu terminar o protesto que mantinha desde sexta-feira passada, 27 de novembro, em frente à Assembleia da República, depois de uma audiência do chef Ljubomir Stanisic e José Gouveia, presidente da Associação Nacional de Discotecas, que encabeçam o movimento, com Fernando Medina.
Apesar de o movimento sempre ter deixado claro que só se iria reunir com primeiro-ministro ou com o ministro de Economia, após sete dias de greve de fome, o encontro com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que aconteceu esta quinta-feira (3), aparenta ter sido frutífero. A audiência serviu para discutir os problemas do setor da restauração e da noite portuguesa, fortemente atacados pelos efeitos da pandemia e das medidas restritivas impostas pelo governo de António Costa. Ljubomir Stanisic avançou ainda que Fernando Medina fez a ponte com o ministro Siza Vieira, escreve o "Observador".
Apesar de Stanisic e Gouveia terem afirmado, no final da reunião com Medina, que a greve de fome iria continuar, a mesma foi suspensa depois de uma discussão com os restantes elementos do grupo. "Nós somos um movimento, não somos pessoas individuais. Estamos como representantes de um movimento. A partir do momento em que o grupo decidir sair, nós saímos", disse José Gouveia à comunicação social, que acrescentou que a reunião com Fernando Medina foi "entre três homens razoáveis, entre três homens que querem chegar a um acordo, entre três homens que querem o melhor para este País".
"Não estamos díspares da realidade, sabemos o que acontece e não temos conhecimentos científicos ou médicos para estarmos a contestar seja o que for“, acrescentou o presidente da Associação Nacional de Discotecas, de acordo com o "Observador". "Há situações em que a economia não pode parar. Temos de encontrar soluções para isso. As empresas estão encerradas e não podem esperar nem mais um dia."
Ljubomir Stanisic também fez declarações à imprensa e confirmou a marcação de um segundo encontro na próxima semana com o presidente da câmara lisboeta para "continuar a encontrar soluções". O conhecido chef admitiu que é "impossível" chegar a acordo na totalidade, mas salientou que "há muitas medidas que foram discutidas em conjunto e o próprio Fernando Medina estava de acordo com uma parte delas". Stanisic aproveitou ainda o momento para deixar críticas à AHRESP, associação que representa o setor da restauração e hotelaria.
"A AHRESP já devia ter estado aqui com esse papel e trazido soluções. Sou associado, pago as minhas quotas, estava à espera de mais”, afirmou Ljubomir Stanisic, que sublinhou a importância do encontro direto com Medina e destacou que o autarca de Lisboa “teve uma conversa diretamente com [o ministro Pedro] Siza Vieira a marcar uma reunião para estas soluções".
Já depois do anúncio do final da greve de fome, o chef do 100 Maneiras recorreu às redes sociais para agradecer o apoio da sociedade nos últimos dias e garantir que a luta continua. "Acabou! Acabou a greve, mas continua a luta. Fomos hoje recebidos pelo Dr. Fernando Medina, que ouviu as nossas propostas e nos garantiu que serão discutidas e a quem agradecemos profundamente o espírito humano, conciliador e de verdadeira preocupação com que nos recebeu. Obrigado a todos vocês pelo apoio incansável que foi a melhor fonte de alimento ao longo destes sete dias. É por isto que escolhi Portugal. É por isto que quero morrer aqui. Mas primeiro, quero é viver! E agora vamos comer."
E foi justamente isso que os nove empresários fizeram: comer. Após setes dias de greve de fome, e de dois membros do movimento terem de ser assistidos no hospital, incluíndo Stanisic, a fome matou-se com pizza, um momento muito divulgado nas redes sociais.
Medina afirma que não há guerra com o governo
Depois do encontro de Fernando Medina com os representantes do movimento "Sobreviver a Pão e Água", o presidente da Câmara Municipal de Lisboa destacou não existir "nenhuma guerra" entre o setor da restauração e da noite e o governo português.
O autarca classificou a conversa com os representantes como uma discussão "de olhos nos olhos, franca, de quem conhece bem a realidade da cidade, do País, de quem ouve os relatos de viva voz", destinada a "encontrar pistas, saídas, respostas, canais para procurarmos apoiar a resolução de uma situação que é muito delicada para toda a gente".
"Acho que todos somos de menos. Neste momento que o País vive, em que tantas famílias tem tantas dificuldades, tantas empresas, tantas pessoas, que dedicam a sua vida aos seus restaurantes, aos seus comércios, aos seus bares, muitos que fizeram a cidade de Lisboa chegar à pujança que chegou", sublinhou Medina, de acordo com o "Observador", como forma de justificar a sua intervenção no conflito.
"Todos somos poucos para nos juntarmos e tentarmos encontrar as soluções para uma situação que é muito dolorosa para muitas pessoas", acrescentou Fernando Medina, apelando a que não se perca "um sentido de humanidade". Garantiu ainda que existe, da sua parte, um "compromisso firme" no sentido de encontrar soluções para a restauração e comércio.