Na madrugada deste domingo, 15 de setembro, morreu Roberto Leal (António Joaquim Fernandes), o músico português que imortalizou temas como “Arrebita” ou a “Casa Portuguesa”. Foi também um dos concorrentes (o vencedor) do programa "Último a Sair", a sátira a reality shows de 2011, transmitida pela RTP1, que também contou com a participação de Bruno Nogueira e Luciana Abreu.
A causa da morte aos 67 anos estará relacionada com o cancro de pele contra o qual já lutava há dois anos e que só em janeiro de 2019 tornou público. Devido à doença, o músico já tinha sérias dificuldades em andar.
Ao programa “Domingo Show”, da TV Record, o músico contou que tudo começou com “uma simples hérnia discal” e com uma consequente “dor que era maior do que tudo”, que começava nas costas e se prolongava para a perna direita.
“Era uma dor que começava no final da minha coluna, que se estendia para a minha perna direita e adormecia a perna. Tinha horas em que eu não sentia do joelho para baixo”, contou no programa.
Recorreu à acupuntura para aliviar a sensação, mas sem resultados. A dor foi-se intensificando de tal maneira, que o músico deixou de conseguir estar de pé.
Pouco tempo depois, em 2017, foi-lhe diagnosticado um melanoma, um dos cancros de pele mais graves e que só no início de 2019 tornou público — porque, segundo relatou, precisou de isolar-se para enfrentar a doença. Na altura em que falou sobre o assunto, já teria passado por três operações e dez sessões de radioterapia.
“O primeiro sintoma fez-me crer que estava com uma crise de ciática, uma associação normal quando começamos a sentir uns formigueiros nas pernas, dores nas costas, etc.”, explicou o cantor ao jornal “Observador” em janeiro. “Os resultados confirmaram que o sinal que tinha na minha pantorrilha direita (zona do gémeo) tinha um melanoma. Seguiram-se uma série de análises e fui logo operado, uma cirurgia complexa e profunda para retirar todo o mal que lá estava.”
Por esta altura, o músico foi submetido a um tratamento de imunoterapia. “Já faz algum tempo que ele está em tratamento connosco. Ele faz imunoterapia — ciclos a cada 21 dias, evoluindo de uma maneira muito positiva”, disse Renan, médico do músico no programa “Show de Domingo.”
"Quando me vi no hospital para tomar o meu primeiro banho e, de repente, uma pessoa de dois metros por um de largura me pega nos braços e me coloca debaixo do chuveiro, quando eu não conseguia mexer um dedo, vi o quanto era pequeno", confessou o músico a Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes no programa da TVI 'Você na TV’, em janeiro. Na mesma entrevista revelou que tinha "7 cortes no corpo”, fruto das “três operações seguidas” a que foi submetido.
"Ele pegou uma caneta azul e pintou os lugares duvidosos [do corpo]. Eram pintas, manchas de que eu desconfiava que por baixo poderiam ter alguma coisa. Três eram", recordou, numa alusão à consulta em que se desconfiou sobre a possibilidade de ter a doença. "Você não pode nem ver o sol à frente", terá dito o médico. "No outro dia, de uma vez só, eu tirei sete sinais", contou o músico no programa da TVI.
O melanoma, ou cancro de pele, é um tumor maligno, fruto de células que veem o seu genoma alterado — tornando-se células de cancro. Estas são capazes de invadir os tecidos circundantes e podem disseminar-se a outras partes do organismo — a este processo dá-se o nome de metastização.
Segundo o "Público", uma investigação do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, avançou que em cinco anos já foram detetados 90 mil cancros de pele nos hospitais públicos — 16 mil eram melanomas.
“Houve um momento em que eu tive que decidir se ia embora ou se ficava. A dor foi ficando tão grande, tão grande que era uma dor que eu nunca tinha sentido. Era uma dor na perna… Eu nem podia estar sentado, nem deitado. Só podia apanhar sol depois das 17 horas porque o meu melanome deveu-se, exatamente, à exposição solar”, confessou o artista a José Figueiras e Ana Marques, no programa "Alô Portugal", na SIC, também em janeiro.
De acordo com a “VIP”, o músico revelou não ter medo da morte. “Não! Não mesmo porque, Márcia Lúcia, a minha companheira de 42 anos disse: ‘Roberto como é que aceitas tão resignado e só com oração esta doença?’. Aceito porque acredito que for decido por Deus é o melhor para mim. Se eu realmente cheguei a esta situação, se este caminho é o único caminho possível, eu não tenho escolha, mas voltar para atrás, não. Isso é próprio de alguém que sabe que há uma luz no fim do túnel. Eu sei e tenho certeza que o amor vencerá toda a dor.”
Em simultâneo, o cantor deixou de conseguir ver do olho direito, devido a cataratas. Roberto Leal morreu em São Paulo, a 15 de setembro de 2019. A morte foi anunciada pelo antigo secretário de Estado das Comunidades e da Administração Local, José Cesário.
“Hoje acordamos com um enorme choque. O nosso amigo, grande Português no Brasil e no Mundo, António Joaquim Fernandes, o grande Roberto Leal, acabou de falecer. A tristeza é enorme! Portugal e o Brasil estão de luto. Até sempre, Amigo”, escreveu Cesário no Facebook.
Apesar de ser transmontano — nasceu em Vale da Porca, em Macedo de Cavaleiros — foi viver para o Brasil aos 11 anos.
Para trás, ficam os 40 aos de carreira, de onde nasceram os temas “Arrebita”, “Uma Casa Portuguesa” e “Chora Carolina”, 17 milhões de discos vendidos, 30 discos de ouro e 5 de platina. Ficam também os três filhos Rodrigo, Manuela e Victor, fruto da relação que mantinha com Márcia Lucia.