Com a evolução da pandemia da Covid-19 têm-se verificado um grande aumento do número de doentes internados nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). Os médicos temem ter de começar a optar por doentes com maior hipótese de sobrevivência no acesso a estes cuidados.

A situação atual levou o Conselho de Ética da Ordem dos Médicos a emitir um parecer no qual se encontra um conjunto de regras e exceções para a seleção de doentes com prioridade de acesso às UCI, caso não haja camas suficientes. Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, admite que esta "é uma situação absolutamente avassaladora".

Em declarações à RTP1, o bastonário assume que este é um parecer que alerta para situações "verdadeiramente importantes": "Uma tem a ver com o critério da idade não poder ser o único critério utilizado nestas circunstâncias". Segundo Miguel Guimarães,  é importante ter também em conta outras situações como por exemplo "ter uma segunda opinião, haver um consenso entre a equipa que está a tratar do doente", acrescentando que "na definição de prioridades não se pode pensar apenas nos doentes Covid".

O parecer, apesar de só ter sido divulgado agora, foi aprovado em abril.  "Na primeira fase a pandemia foi controlada e a divulgação do parecer poderia ter introduzido mais ruído. Com a pandemia a crescer é importante haver esta referência", esclareceu Miguel Guimarães ao  "Correio da Manhã" .  Para o bastonário, estamos a enfrentar uma situação que exige que se recorra ao setor privado para evitar que se tenha de escolher quem salvar. "Agora todos somos SNS. É importante uma resposta global. O Estado tem de assegurar a saúde a todos e pode fazer acordo com o privado e social com as regras que aplica no público, gastando o mesmo. Se houver requisição civil também tem de haver acordo", disse ao mesmo jornal.

O critério principal para a seleção de doentes com prioridade de acesso às UCI referido passa por  "reservar os recursos que se podem tornar extremamente escassos para aqueles que têm, antes de mais, maior probabilidade de sobrevivência após o tratamento", refere o documento, citado pelo "Correio da Manhã".

No parecer pode ainda ler-se que "na circunstância de usando critérios clínicos termos mais candidatos (com condições médicas e necessidades equiparáveis) do que os meios disponíveis, deverá ser privilegiado o prognóstico vital seguindo o princípio da proporcionalidade. Salvar mais vidas e mais anos de vida é consistente, tanto com perspetivas éticas utilitárias que enfatizam os resultados baseados no bem comum, quanto, com visões não-utilitárias, que prevalecem nos médicos portugueses, que enfatizam o valor único de cada vida humana", refere o jornal "Expresso".

Este sábado, 7 de novembro, das 373 camas de cuidados intensivos reservadas para doentes Covid-19 em todo o país, estavam ocupadas 366.