O número de novos casos de contágio permite estimar que dentro de pouco tempo Portugal ultrapasse as cinco mil novas infeções diárias. Ainda que esse impacto se traduza numa maior pressão nos hospitais durante, pelo menos, mais um mês, os novos dados apontam para um decréscimo da velocidade da transmissão do vírus. Isto permite estimar que o pico desta nova segunda vaga do novo coronavirus possa ser atingido na terceira semana de novembro desde que, até lá, não se verifiquem surtos maiores.
O facto de a propagação do vírus ter, nos últimos dias, desacelerado, significa que o R — o indicador que define o número médio de contágios decorrentes do contacto com uma pessoa infetada — está a cair. E é isso que permite prever "uma luz ao fundo do túnel". "É preciso muita cautela, mas a evolução do Rt a que estamos a assistir já nos permite ver um pico, uma luz ao fundo do túnel”, explica Manuel Carmo Gomes, um dos especialistas em epidemiologia ouvidos pelo Governo, ao jornal "Expresso".
O especialista considera que se as condições atuais sem mantiverem, ou seja, se não se registarem novos surtos no País, o pico da segunda vaga poderá ter atingido "na terceira semana de novembro, entre os dias 20 e 25", possivelmente sem que Portugal chegue "a atingir os seis mil casos". Mas Carmo Gomes alerta para o facto de bastarem apenas "dois ou três grandes eventos para a situação mudar".
"Se esta tendência de desaceleração for combinada com medidas mais restritivas que o Governo tome agora, sobretudo nas zonas que estão mais vermelhas devido à maior circulação do vírus, talvez isso traga bons sinais para dezembro."
Sobre o que estará a contribuir para esta desaceleração da propagação do vírus, o epidemiologista não tem dúvidas de que a "consciência da população em relação ao risco" está a ter um papel preponderante.
"As pessoas assustaram-se com o grande crescimento de casos e a sensação de ameaça do vírus ganhou uma componente mais individual. As pessoas já conhecem alguém que esteve infetado e acredito que isso faça com que se protejam mais. As estimativas evidenciam ainda uma contínua subida dos internamentos. Mas quando o número de casos desacelerar, também desacelera o fluxo de entradas nos hospitais, o que permitirá atingir um equilíbrio", conclui.