17 de junho e 15 de outubro de 2017, duas datas que ficam na história do País. A primeira corresponde ao dia em que deflagrou o incêndio em Pedrógão Grande, aquele que veio a propagar-se a concelhos vizinhos. 64 pessoas morreram e 250 ficaram feridas. Menos de cinco meses depois, Portugal volta a parar. No pior ano de incêndios, regista-se o pior dia do ano em número de fogos: foram atingidos 27 concelhos da região centro, sendo que aqueles que mais sofreram foram Viseu, Guarda, Castelo Branco, Aveiro e Leiria. Morreram 45 pessoas morreram, 70 ficaram feridas. No total, as duas tragédias resultaram na perda de 100 vidas humanas.

Nunca nenhuma notícia chocou tanto Ricardo Roque, 36 anos, engenheiro mecânico e de processos, como a dos incêndios de 2017. Natural de Leiria, uma das zonas afetadas, aquilo que aconteceu depois também foi desconcertante, considera: "Tudo o que eram debates, tudo o que entrava na comunicação social, era um pouco num tom de comentário futebolístico, um apontar de dedos", recorda à MAGG. "Em termos de iniciativas práticas que me descansassem, e que me respondessem à pergunta 'se isto me acontecesse, o que é que eu faria?', nada."

Foi a falta de resposta para a evacuação e fuga em caso de incêndio — porque as forças se concentraram todas na prevenção e combate, questões que considera "macro" e que em nada contribuem para o dia a dia do "cidadão comum" —  que levou o engenheiro formado pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, o quinto melhor do mundo no ramo de engenharia e tecnologia, a ir em busca de uma solução prática e eficaz para proteger o corpo humano do calor, das chamas e dos gases tóxicos.

"O facto de ser de Leiria e de Predógão Grande ser tão próxima fez com que houvesse uma motivação emocional muito grande", diz.

Em caso de incêndio, é mais seguro dormir com a porta do quarto aberta ou fechada? (vai ficar surpreendido)
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É assim que nasce o kit de sobrevivência para incêndios. Aquilo que encontrou na primeira fase do projeto, da qual fez parte uma pesquisa exaustiva para perceber o que existia no mercado, era muito fraco.

“Inicialmente quando decidi que queria ajudar, procurei trabalho que já tinha sido feito, dentro e fora do País", explica. "Aconteceu que nenhuma das soluções anunciadas funcionava. Vi um kit dos Estados Unidos que era uma anedota. Mandei vir. Aproximei a manta refletora do calor da lareira e ardeu em cerca de dois segundos. Fui percorrendo os meandros da Amazon, da Google e de tudo o que era retalho e não vi nada. Numa pesquisa muito forte, não havia nada. Zero. Se os meus pais ou avós se quisessem proteger, como é que faziam?."

Produzidos pela Faraday, empresa da qual o engenheiro faz parte da administração, este kit é constituído por três objetos essenciais: uma manta, proteção para as vias respiratórias e oculares, e luvas para as mãos.

Português cria kit de sobrevivência para incêndios
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Desenhado para ter em casa, mas também para guardar no carro, ou, por exemplo, na cozinha de um restaurante, este kit de sobrevivência para incêndios inclui uma manta, testada pelo Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário (CITEVE), capaz de refletir até 95% do calor que é irradiado pelo fogo — aspeto absolutamente essencial porque o risco de morte num incêndio não nasce só das labaredas: o calor, mesmo antes da chegada das chamas, é potencialmente mortífero, como mostraram as autópsias das vitimas que morreram na estrada N236-1. Durante um incêndio, as temperaturas podem chegar a atingir os 600 graus, como aconteceu no caso de Pedrógão Grande.

Outra das grandes causas de mortalidade numa situação de incêndio é a inalação de fumos tóxicos. Por causa disto, o kit inclui também um respirador, que promete proteger as vias respiratórias e oculares de mais de 95% destes gases, que podem variar e ser mais ou menos mortais — com concentrações diferentes e consoante o tipo de combustível, podem matar em menos de 15 segundos. Por último, este conjunto de sobrevivência fica completo com umas luvas que protegem quem as utiliza de temperaturas que podem atingir até os 200 graus.

Esta solução, que envolveu encontros com a Autoridade Nacional da Proteção Civil ou com a Liga Nacional de Bombeiros, além dos materiais de proteção, inclui ainda um pequeno manual de instruções que explica o que fazer em caso de incêndio.

Os kits estão em fase de produção, mas já podem ser pré-reservados por 29,95€, numa fase inicial. A ideia é que, a partir de maio, comecem a ser distribuídos, de forma a que a população tenha acesso a este sistema de proteção a um preço acessível. Está também pensada uma versão pro, que inclui um mini-extintor eco, de 500 mililitros.