Em 2018, o ator Ricardo Castro surgiu irreconhecível na capa da edição portuguesa da revista “Men’s Health”. A transformação foi radical: tinha perdido 52 quilos dos 123 que pesava, com um ganho de massa muscular de 6,4 quilos. O processo levou um ano e meio, tempo em que se empenhou em treinos intensos e acompanhamento nutricional. Hoje, continua em forma e grande adepto deste modo de vida saudável.
Esta sexta-feira, 30 de agosto, o ator, à frente do projeto "Paleo do Castro", fez uma publicação no Facebook para apoiar o ator Ângelo Rodrigues, que está internado em estado grave, e em coma induzido, após quatro cirurgias e hemodiálise. Em causa, estarão alegadas injeções de testosterona, que levaram a uma infeção grande.
“Mesmo as pessoas mais informadas caem nestas situações. Fico triste porque há pouca tolerância”
Hoje Ricardo Castro mantém os hábitos saudáveis que o ajudaram no processo que levou à sua perda de peso. “O ginásio e o exercício físico libertam-me. É uma questão de espiritualidade. Ajuda-me, protege-me, faz-me bem. Durante 38 anos, não tive essa lucidez”, diz à MAGG.
Mas também assume, tal como no post que escreveu, que nem sempre foi assim. Apesar de garantir que nunca recorreu a substâncias como anabolizantes esteroides, conta que já fez uso de soluções que prometiam resultados milagrosos, ainda nos tempos em que pesava mais de 100 quilos. Soluções essas a que muitas outras pessoas recorreram, garante, apesar da sua origem, composição e consequências serem duvidosas.
“Eu para emagrecer fiz tudo”, conta. “Fiz muitas asneiras até descobrir que a única forma de atingirmos resultados sólidos e seguros é a trabalhar muito, sem atalhos. É com crescimento interior.”
Já tomou xenical, um medicamento que contém uma substância ativa, o Orlistate, utilizado frequentemente para o tratamento da obesidade. E não foi pela via convencional. “Não podia comprar, porque é preciso receita médica e não me iam vender. Então arranjei uma amiga médica — como toda a gente, alguma dia, já fez — e tomei uma caixa daquilo”, lembra. “Mexia-me com a barriga, andava sempre enjoado.”
Além disso, também bebeu seiva, porque também se dizia que era uma espécie de antídoto mágico para o emagrecimento — acabando por não o ser. A isto, juntam-se comprimidos manipulados, criados à medida por um médico de uma clínica e constituídos por vários compostos.
"Uma vez tomei uns comprimidos manipulados e andava meio drogado. Não tinha vontade de comer, de andar, andava sempre calmo. Depois vi que tinha ansióliticos, e uma quantidade de coisas que mudam o comportamento."
Ricardo Castro confessa-nos tudo isto para chegar a um ponto: “Mesmo as pessoas mais informadas caem nestas situações. Fico triste porque há pouca tolerância e porque andamos a crucificar pessoas publicamente."
Horrorizado com os comentários que leu nas redes sociais sobre o estado de saúde do ator de 31 anos — de quem não é amigo próximo, mas que descreve como "uma pessoa educada e extremamente correta" —, lembra: "Todos nós, e acredito profundamente nisto, já pisámos o risco. Não podemos criticar assim. Temos é de debater: o que é que se anda a passar?”, questiona.
As pressões sociais são enormes e, por isso, “os excessos estão em todo o lado.” Dá vários exemplos: as pessoas que tomam ansiolíticos e conduzem, os estudantes que consomem substâncias para estarem mais focados, os profissionais com carreiras exigentes que, para se manterem acordados, vão pelo mesmo caminho.
“Quando há a pressão da sociedade para se estar sempre bem, é fácil, muito fácil cair nestas situações”, diz. “As pessoas não têm noção das mezinhas a que as pessoas se sujeitam para sobreviver ou responder à pressão.”
“Não vamos culpar os profissionais do desporto”
Para o ator, o problema do culto do corpo está muito para lá das salas de ginásio. A responsabilidade começa em quem vai lá: “Têm de ter noção que num mês não se perdem 20 quilos. O organismo não aguenta a violência de, de repente, haver muitos mais quilos de massa muscular”, diz. “Não posso culpar os ginásios. Muitas vezes são os outros. Há sempre alguém com uma novidade. E toda a gente acredita.”
Ainda assim, sabendo o que é o desespero de querer chegar ao corpo idolatrado o mais rápido possível, e com menos esforço, refere que o grande inimigo desta reação é o próprio mercado, de onde saem soluções perigosas e de acesso demasiado fácil.
“Nas redes sociais é um bombardear de sites da Roménia, de países com um servidor não sei de onde, de esquemas, e isso é que é preocupante. Há muita medicação no mercado que devia ser revista, porque faz mal”, considera.
A suplementação é outro ponto importante: “Mesmo com a suplementação, até a mais legal, tem de ser feita com aconselhamento de nutricionistas. Há pessoas que se põem a consumir e depois nem leem a descrição. Não viram que tinham de beber obrigatoriamente dois litros de água por dia e ficam com os rins e fígado todos destruídos.”
Na opinião do ator, deve debater-se o assunto, de forma tolerante, com o objetivo de perceber porque e como é que isto acontece e existe. “Anda toda a gente calada e a sentir o mesmo”, diz. “Porque isto são coisas que se vão permitindo. Que nós, todos nós, fazemos e permitimos.”