Quilos a mais, enjoos, dores nas costas, ciática e azia. Tudo isto são consequências comuns da gravidez, e embora seja verdade que há um pequeno grupo de mulheres que se consegue escapar a alguns destes fatores e levar uma gestação santa, a grande maioria tem de lidar com todas estas questões. E, para algumas, há mais uma coisa a acrescentar à malfadada lista: falamos das manchas no rosto e do "pano", expressão popular para identificar o melasma, um tipo específico de mancha.
Mas porque é que os nossos rostos passam por todas estas alterações durante os nove meses de gestação? "As alterações hormonais que ocorrem na gravidez, como o aumento dos níveis de estrogénios e progesterona, estimulam a produção de pigmento pelos melanócitos (células da pele que produzem melanina, o pigmento que dá cor à pele), levando ao aparecimento e/ou agravamento de manchas na pele", explica a dermatologista Helena Toda Brito à MAGG. Pelo mesmo motivo, a especialista salienta que também é frequente ocorrer um escurecimento das sardas e dos sinais durante este período da vida da mulher.
"Quanto ao 'pano', é o termo usado coloquialmente para descrever o melasma, tipo específico de mancha denominado cloasma quando surge na gravidez", salienta Helena Toda Brito. Este caracteriza-se por manchas escuras, castanhas ou acizentadas, que surgem no rosto das grávidas de forma simétrica, sobretudo na testa, nariz, lábio superior, queixo e maçãs do rosto. Pode atingir até 70 por cento das mulheres grávidas, e surge habitualmente no segundo trimestre da gestação.
As peles muito expostas ao sol podem ter mais manchas na gravidez
Ao contrário do que se poderia pensar, as mulheres com peles mais sensíveis não são, à partida, um grupo mais predisposto a ter manchas no rosto. Tal como refere a dermatologista Helena Toda Brito, "as peles sensíveis não têm maior tendência a manchar, o que pode acontecer é que se tiverem uma reação irritativa na pele e a seguir se expuserem ao sol, pode ocorrer um agravamento de melasma pré-existente ou aparecimento de hiperpigmentação pós-inflamatória, um tipo de mancha".
Por outro lado, mulheres com pele mais escura, "como as latinas e africanas, têm uma maior predisposição para desenvolver melasma". Também a genética representa aqui um papel, com a especialista a afirmar que cerca de um terço das mulheres com melasma têm um familiar afetado, bem como a exposição solar. "Os hábitos de vida, nomeadamente uma elevada exposição à luz solar, podem potenciar estas manchas", refere Helena Toda Brito.
A luz do seu telemóvel pode agravar as manchas na pele
Com ou sem manchas, grávida ou não, a utilização do protetor solar é indispensável na exposição ao sol, seja inverno ou verão. Mas caso tenha sido afetada pelo melasma, este produto é também o caminho para se livrar das manchas faciais, entre outros fatores.
"Deve fazer-se uma rigorosa proteção solar, evitando a exposição solar direta nas horas de maior intensidade da radiação solar (entre as 11 e as 17 horas), usando chapéu de abas largas, óculos de sol e aplicando protetor solar diariamente", salienta Helena Toda Brito. A dermatologista reforça que este produto deve ser aplicado no rosto "durante todo o ano", sendo também necessária uma reaplicação a cada duas horas ao longo do dia.
A especialista também refere que devem preferir-se protetores com FPS 50 ou superiores, de amplo espectro, que protejam a pele das radiações UVB, UVA e da luz visível. "As evidências mais recentes indicam que a luz visível, proveniente não só do sol, como também dos aparelhos eletrónicos como o telemóvel, tablet ou televisão, também está implicada no aparecimento e agravamento das manchas, sendo importante verificar que o protetor solar protege contra este tipo de radiação", diz Helena Toda Brito.
Para além dos cuidados com o sol, "é muitas vezes necessário aplicar um produto despigmentante (anti-manchas) indicado pelo médico dermatologista, que ajude a aclarar as manchas que já se tenham instalado". No entanto, se o aspeto das manchas não melhorar com estas medidas, "podem ser realizados procedimentos dermatológicos em consultório, como peelings químicos, lasers e microagulhamento após o parto".
Os produtos anti-manchas no mercado são seguros durante a gravidez?
No mercado, existem vários produtos destinados ao tratamento das manchas, mas atenção: nem todos podem ser indicados durante a gravidez ou na fase da amamentação. "Existem alguns produtos que podem ser usados nesta fase, mas outros estão desaconselhados", alerta Helena Toda Brito.
"Por exemplo, a vitamina C é um ingrediente considerado seguro durante a gravidez, mas há outros ingredientes, como os retinoides, que não devem ser utilizados", salienta a especialista, que reforça que as grávidas ou mulheres a amamentar devem "procurar sempre o aconselhamento do seu médico dermatologista em relação aos produtos que aplicam na pele".