Depois de mais de um mês encerrados devido à evolução da COVID-19 em Portugal, os cabeleireiros reabriram no início de maio, e foram mesmo um dos primeiros setores a regressar à atividade. E mal abriram portas, foi vê-los encherem-se — com os devidos cuidados — de pessoas sedentas de dar uma volta à aparência depois de tantos dias de confinamento. No entanto, se os primeiros dias logo após a abertura foram fortes, o mesmo não se pode dizer da situação atual.

"Quando abrimos, tivemos um grande fluxo de clientes. Agora, nem por isso", conta Cláudio Pacheco à MAGG. O cabeleireiro e proprietário do Chiado Studio, em Lisboa, que trabalha regularmente com a L'Oréal Professionnel e é um dos melhores técnicos de cor nacional, explica que o seu espaço é muito dedicado a quem procura cortes e fazer cor, e não tão procurado para serviços regulares.

"Perdemos os walk-ins dos turistas e não somos o tipo de espaço dos clientes semanais, que lavam o cabelo e fazem brushing", explica Cláudio Pacheco, que considera que ainda há algum receio da parte dos portugueses em procurar estes espaços.

Mas será que há razão para ter receio, ou ir ao cabeleireiro neste "novo normal" já é perfeitamente seguro? A convite do Chiado Studio, fui fazer a experiência.

Desinfeção de mãos, sapatos e telemóveis

No Chiado Studio, mesmo antes das novas medidas de segurança serem implementadas, todos os serviços tinham de ser marcados previamente. Assim, não é novidade que todos os clientes sejam atendidos apenas por marcação, mas o ritual de chegada ao salão é bem diferente.

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Para além de ser exigido aos clientes que usem máscara durante todo o tempo de permanência no espaço, à entrada existem duas caixas no chão com toalhas. Na primeira, onde as toalhas estão embebidas em desinfetante, pedem-me para aguardar cerca de 10 segundos, para que as solas dos sapatos sejam limpas. Depois deste compasso de espera, passo para a segunda caixa, logo a seguir, apenas para secar a sola dos sapatos e evitar incidentes — ninguém quer acabar o dia com uma gigante queda no meio de um cabeleireiro, certo?

Depois deste primeiro passo, pedem-me para desinfetar as mãos com o álcool gel disposto na bancada e para colocar a minha carteira no interior de um saco de plástico individual, onde esta fica guardada durante todo o tempo do serviço. No final, são os clientes que retiram a carteira do mesmo saco, sem que o staff alguma vez toque nestes pertences. "Posso tirar o telemóvel?", perguntei eu, pedido que foi acedido, mas não sem antes me pedirem para desinfetar o telefone com outro produto próprio para o efeito.

De seguida, sou encaminhada para a minha cadeira, onde vou permanecer durante todo o tempo que estiver no salão, à exceção da altura em que vou para a área das lavagens. E esta é outra mudança a que a COVID-19 obrigou. Tal como explica Cláudio Pacheco, normalmente os clientes são recebidos na área de diagnóstico, onde se discutem os tratamentos e serviços a fazer. "Agora optamos por encaminhar logo as pessoas para as cadeiras onde vão ficar. Não é que saltemos esse passo, simplesmente temos essa conversa na cadeira para evitar que os clientes se sentem em vários espaços diferentes", salienta o cabeleireiro.

Outra coisa que mudou no Chiado Studio são os mimos que oferecem a quem os visita, algo que está suspenso por razões de segurança. "Temos sempre água, sumos, chá, café e bolachinhas para os clientes, temos também vinho branco ou tinto para quem desejar. Mas não podemos oferecer nada disso agora."

Em relação ao staff, todos usam máscara, óculos protetores que vieram substituir as viseiras e proteções descartáveis em cima das fardas. "As máscaras são trocadas duas vezes ao dia, as proteções descartáveis após cada cliente", refere Cláudio Pacheco. Além disso, todo o material que for utilizado nos clientes, desde escovas, tesouras, lacas ou outros produtos, seguem num tabuleiro para uma caixa após cada utilização, onde são desinfetados a fundo antes de serem colocados de novo ao serviço de outro cliente.

E por falar em clientes, para além da desinfeção à chegada e uso da máscara, as proteções que se usam neste tipo de espaços, bem como as toalhas, foram retiradas e tudo é descartável, o que resulta no único aspeto desagradável das idas ao cabeleireiro nesta fase. Dado que o ar condicionado também se encontrava desligado, e a conjugar com um calor de 30 graus lá fora, a proteção de plástico descartável torna-se muito quente e incómoda. Mas faz parte, e em nome da segurança, aguentamos a sauna improvisada.

Para manter a segurança da equipa e dos clientes, o Chiado Studio está a funcionar a meio gás. Para além de reduzirem as marcações em 50 por cento, o staff do salão não está todo a trabalhar. "Não temos mais do que cinco pessoas aqui. Há dias em que temos cinco cabeleireiros, outros em que temos quatro e vem a nossa make-up artist, perfazendo o total de cinco profissionais. Tenho ainda pessoas em casa em regime de lay-off, outros a trabalhar meio tempo. Para além disso, quem está a trabalhar são os cabeleireiros mais seniores, os assistentes estão todos em casa. Ajudamos-nos uns aos outros e fazemos um pouco de tudo", salienta Cláudio Pacheco.

Mesmo em tempos de pandemia, ir ao Chiado Studio é das melhores coisas que pode fazer pelo seu cabelo

É verdade que não é incrível estar num espaço sem ar condicionado com uma vaga de calor a atravessar a cidade, de máscara e proteções de plástico. E nem imaginam a minha frustração ao saber que, em tempos normais, podia estar a discutir o meu novo corte de cabelo com um copo de vinho branco bem fresco na mão. Mas, mesmo assim, ir ao Chiado Studio continua a ser maravilhoso — e seguro.

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Mesmo com os sorrisos tapados pelas máscaras, é notória a simpatia de todos os que encontrei, e o à vontade com que deixam os clientes, quase como se fossemos parte da família. Em poucos minutos, eu e o Cláudio já nos tratávamos por tu e falávamos sobre os planos para essa sexta-feira à noite. Mas porque estamos aqui para falar de cabelo, posso-vos dizer que está no top das minhas experiências.

Em poucos minutos, Cláudio conseguiu dar volume a um corte pelos ombros e ao meu cabelo fino. E nem vamos falar das ondas incríveis com que saí do salão, que se mantiveram durante todo o fim de semana. Antes disso, a lavagem do cabelo foi toda uma experiência, com direito a um tratamento de volume Shu Uemura e uma massagem na cabeça que durou uns bons 10 minutos e quase me fez adormecer.

Caso queira visitar o Chiado Studio, localizado na Rua Ivens 8, em Lisboa, pode marcar através do 915 801 828. O salão está aberto de segunda a sábado, entre as 11h e as 20h (aos sábados, abre e fecha uma hora mais cedo). Os cortes de cabelo, com lavagem com champô e amaciador L'Oréal Professionnel, começam nos 40€. Caso queira cortar com o art director do espaço, Cláudio Pacheco, o mesmo serviço tem um custo de 60€.