Fãs do filme “O Diabo Veste Prada”, lembram-se daquelas tarefas completamente sobre-humanas que Andrea, a personagem de Anne Hathway, tem de cumprir para ganhar a confiança da implacável Miranda Priestly, diretora da revista "Runway"? Agora imagine isso na vida real, e com Carina Caldeira a passar dias a fio a arrumar por ordem alfabética a biblioteca da chefe.

A história, que agora a faz rir, marcou a passagem da apresentadora do Porto Canal por Nova Iorque, onde viveu enquanto tirava cursos de representação e de jornalismo. Aos 38 anos, Carina Caldeira é o principal rosto de entretenimento do canal do Futebol Clube do Porto (FC Porto), do qual faz parte desde a fundação. Atualmente, conduz dois dos formatos líderes de audiências da estação, "Glitter Show" e "Glitter Late Night", onde entrevista celebridades de todas as áreas da vida pública.

Natural do Porto, e filha de Adelino Caldeira, reputado advogado e administrador da SAD do FC Porto, a apresentadora explica, em entrevista à MAGG, que nunca quis uma vida de facilidades e que essa filosofia lhe foi incutida pelos pais.

Divertida e sem papas na língua, a também influenciadora digital faz o balanço da maternidade, um ano depois do nascimento da filha, Constança, fruto do casamento com o músico Francisco Cardia.

Considera-se a Cristina Ferreira do Porto Canal?
(risos) Não, não me posso considerar a Cristina Ferreira de lado nenhum. Tenho noção de que sou um nome forte do canal e, hoje em dia, muito feliz porque os meus programas são líderes de audiência, mas daí a ser uma Cristina Ferreira… nem pensar!

Faz parte da equipa fundadora do Porto Canal, desde 2006. O que é que recorda desses primeiros tempos?
Ui, muita coisa! Primeiro, era uma miúda. Estava na faculdade quando aconteceu o casting, foi uma coisa que aconteceu de repente e, quando as coisas acontecem de repente… Agora quero tanta coisa que, se acontecesse, dava outro valor. Naquela altura, aconteceu do nada. Criámos o canal do zero. Na altura, foi o Bruno [Costa] Carvalho que fundou o canal e estava como diretor. Ele é um homem incrível, com muita garra, com muitas ideias e foi muito giro. Aprendemos juntos a fazer as coisas e essa parte foi muito gira. Essa parte do desafio, de não percebemos bem ao que íamos, mas ir e siga, foi top. E, depois, não há melhor forma de aprender sem ser a errar  — e tens que bater muito com a cabeça até aprenderes —, e o Porto Canal dá-te isso. Tens margem para errar. Não tens a opinião pública a massacrar-te e isso é espectacular.

Qual foi a situação mais cómica que se recorda desses primeiros tempos?
Não foi cómica, mas foi aquela em que mais tremi. Tinha uns 23 anos e fiz uma entrevista ao Pinto da Costa [presidente do FC Porto]. Lembro-me que eu suava! Nem conseguia falar, não sabia o que havia de dizer. E eu conheço-o muito bem, mas é aquela coisa de fazeres a entrevista em televisão. No dia anterior não dormi, estava tão nervosa… Foi muito engraçado. Comecei a fazer um programa para miúdos, o “Sub-16” e, de repente, o Bruno, que era doido, chega ao pé de mim e diz ‘vais ter um programa’. Foi a minha melhor escola, onde aprendi mais, todos os dias em direto, durante duas horas. Basicamente eu ia para lá falar de temas, sem rede, maluquinha. Essa parte foi muito desafiante, acabei por fazer muitas asneiras, dizer muita porcaria. Mas, lá está, é assim que se aprende.

"A televisão não era o meu sonho mas, de repente, comecei a apaixonar-me"

Está há mais de 10 anos na televisão. O que é que isso implica de esforço e empenho?
Acabas por abdicar de muita coisa, não é? A televisão não era o meu sonho. Sabia que ia ser alguma coisa em comunicação mas, de repente, comecei a apaixonar-me. Claro que acabas por abdicar de muita coisa se trabalhares muito. Depois, estás num canal pequeno, trabalhas muito e ganhas pouco. Mas eu só vejo coisas positivas. Há muito pouca coisa negativa. Quando eu senti que já estava no canal há três, quatro anos, já tinha aquele programa em direto, comecei a perceber ‘calma aí que eu não estou a aprender mais’. Aquilo já começava a ser uma rotina e precisava de aprender. Foi aí que eu decidi ir para Nova Iorque. Foi uma decisão grande. Na altura, o Porto Canal estava a crescer, eu era uma miúda e pensei ‘vou largar tudo, acho que tenho de aprender’. E fui. Essa decisão foi difícil na altura. Mas voltava já! Ia já para Nova Iorque a correr (risos)!

Viveu em Nova Iorque quatro anos. Como foi a sua vida lá?
Foi muito engraçado. Fui com o meu marido [Francisco Cardia], o que é ótimo. Nós éramos dois putos, o Chico tinha 19 anos. Foi muito bom a nível da relação porque nos fortaleceu imenso. Fizemos imensos amigos. A nível de trabalho, houve várias coisas. Eu queria fazer um curso de apresentação de televisão. Na altura não havia nada específico, então tirei um curso de acting for film [representação para cinema, em português]. O Tiago Felizardo, que andava na minha faculdade, conta sempre esta história: a primeira vez que ele me viu ficou chocado porque me encontra e diz ‘ah, tu és portuguesa’. E eu respondo: ‘sou, mas não quero ser atriz!’. ‘Fogo, vem para aqui esta… isto é o sonho da minha vida’.

Mas aprendes muita coisa, a disfarçar, a fingir… Essa parte foi gira porque eu estava fora da minha zona de conforto. Depois, louca, ainda não me conhecia a 300%, fiz um curso de informação com a NBC. Odiei. Lembro-me que a primeira peça que fiz chamava-se “Rats of New York” [Ratazanas de Nova Iorque]. Fui investigar porque é que, em Nova Iorque, havia imensos ratos por todo o lado. Já era uma coisa meio entretenimento. Percebi o que queria e o que não queria. Aprendi muito mais que até na faculdade cá sobre um tema que está muito em voga, deontologia e ética da comunicação, que é pouco falado e é muito importante. Porque não se pode fazer tudo, há regras.

Depois pensei… e agora, o que é que vou fazer? Tirei um curso de um ano no Fashion Institute of Technology (FIT) sobre moda, styling e consultoria, que hoje em dia uso imenso. Depois, fui estagiar para uma revista, a “Interview”, e aí é que foi o descalabro. Pensei que, sendo uma revista de moda, que iria aos shootings [sessões fotográficas], escrever para a revista, que ia ser incrível! Esquece. Lembro-me de chorar nas primeiras semanas. Nunca me deixaram assistir a um shooting, jamais! O que eu fazia era tipo estafeta. Entregar e levar coisas, no metro, com peças que custam balúrdios, a chover, frio…

Tipo a Anne Hathaway no filme “O Diabo Veste Prada” ?
Total! Lá os interns [estagiários] são mesmo maltratados! Tu serves para ir levar coisas, para ir buscar o café, só serves para isso. Lembro-me que, um dia, estava toda contente porque achava que ia poder escrever um artigo na página online e a editora disse que não. Depois diz-me: ‘sabes o que é que vais fazer? Vais ter que ir ali para a minha biblioteca e tens de ordenar os livros todos por ordem alfabética’.

E eu lembro-me de estar a chorar, a ordenar os livros… Fiquei para aí duas semanas a fazer isso, em cima de um escadote. Essa parte não foi muito glamourosa. Mas, no fim, consegui ter um artigo no site da “Intervierw”. Se soubesse o que sei hoje, não ia para ali nem que me pagassem. Preferia ir para um café. 

"O Porto Canal deixa-te criar e fazer, e aposta em ti para fazeres à tua maneira"

Acha que é por causa da sua experiência e proatividade que, no “Glitter Late Night”, quase ninguém lhe diz ‘não’? Já entrevistou quase toda a gente, só lhe falta o presidente da República e o primeiro-ministro.
Adorava (risos)! Primeiro que tudo, acho que as pessoas sabem que quando vão a qualquer um dos “Glitter” [“Glitter Show” e “Glitter Late Night”] não há polémica. É uma coisa boa, para nos divertirmos e tirar o melhor das pessoas, tanto de mim como do convidado. Não há maldade e isso é uma mais valia, porque há muitos sítios em que a maldade é explorada. E depois, o Porto Canal é um canal isento, o que ajuda muito, porque pessoas da TVI, da SIC, da RTP podem ir todas, o que não acontece nos outros canais.

Já houve alguém que lhe tenha dito um ‘não’ rotundo?
Já houve algumas pessoas, sim. Já tentei a Júlia Pinheiro e ela disse-me que não. Não foi a mim, foi à minha produtora. Tenho muita pena. Mas gostava. É a minha produção que trata dos convites, mas eu estou sempre em cima. Isto é outra coisa que tenho de melhorar, que é delegar mais. Há pessoas que vais namorando e essa parte também é gira. Eu digo sempre ‘não vens? Hás-de vir’. 

Ao longo destes anos de carreira televisiva, alguma vez teve a oportunidade ou a vontade de passar para um canal generalista?
Já tive a oportunidade. Na altura não fazia muito sentido porque estava a criar o projeto “Glitter Show”. Neste momento, estou muito realizada. Claro que às vezes penso que, se calhar um dia, quero dar o salto para ter mais público, mas tenho uma coisa que não tem preço. O Porto Canal dá-te uma coisa que mais nenhum sítio te dá: deixa-te criar e fazer, e aposta em ti para fazeres à tua maneira. E não há nada mais precioso do que tu fazeres o teu próprio conteúdo à tua maneira. O grande problema dos outros sítios é que não és tu que decides o que é que vais fazer, como é que vais fazer, e isso é uma mais valia incrível. E eu estou muito feliz, mesmo. 

Carina Caldeira passa a ter late night show — e Rita Pereira é a primeira convidada
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Há 10 anos mudou-se, juntamente com o seu marido, do Porto para os arredores de Lisboa. Como é que funciona com o sotaque?
Eu não me preocupo muito com isso. Não sei se tenho sotaque, se não tenho. Sinto que, quando vou mais ao Porto, venho de lá com imenso sotaque. 

Tendo em conta que já viveu em Nova Iorque e em Madrid, imagino que não tenha sentido um peso tão grande na mudança para Lisboa. Nota diferença na forma de estar e de viver em relação ao Porto?
Noto. Eu adoro viver em Lisboa, sou super feliz aqui. Vai parecer um cliché, mas a luz disto influencia muito o meu mood. Se estiver cinzento e escuro só me apetece voltar para debaixo do édredon. Se estiver sol, vou com tudo e estou feliz. Parece uma diferença mínima e um cliché mas, para mim, faz uma diferença gigante. Nova Iorque é fria para caraças, mas está sempre um céu azul. Madrid também. E aqui tens isso, essa energia. Depois, é a capital, o mercado está todo cá, eu tenho a minha vida cá. Ninguém me tira a praia, sou viciada. Aqui as praias são incríveis, no Porto não podes ir para a praia, ficas a bater o dente com a nortada. Aqui tens mais qualidade de vida nesse sentido. Tenho muito bons amigos cá.

Agora, há uma grande diferença: no Porto conhecem-te, convidam-te e, no dia seguinte, estás a jantar em casa delas. Se precisares, às quatro da manhã tiveste um pneu furado, as pessoas estão lá. Não é por ser Lisboa, mas isto é uma capital. As pessoas estão mais por elas, é diferente do Norte. Eu também vivo em Caxias, e não é assim uma coisa tão bairrista. No Porto, no sítio onde nasci, conheço toda a gente há não sei quantos anos! Faz-me falta essa familiaridade. Tenho pena que a minha filha não cresça num sítio assim.  

"Tive situações complicadas em casa, com adeptos… mas faz parte do jogo, o futebol é assim"

Qual é a importância do futebol, sobretudo do FC Porto, na sua vida? Houve algum momento em que tivesse pensado que não queria ter nada que ver com esse mundo?
Eu cresci no futebol, não posso mentir. Lembro-me de ser miúda, e a minha vida era no estádio das Antas, à espera. O futebol rouba muito tempo em família ao meu pai. Então, houve um tempo da minha vida em que tive uns mixed feelings e passei por essa fase rebelde, porque quase tinha ciúmes do futebol. Também devo muito ao futebol. Viajei pelo mundo todo para ver o FC Porto, mas, de repente… o meu pai nunca está ao fim de semana. Ainda hoje, e ele está lá há 40 anos, um dia está num sítio, outro dia está noutro.

Quando há jogos em casa, agradeces porque vais ver o teu pai. Mas no fim de semana a seguir, não. Depois, são as competições europeias. Depois, o mundo do futebol é muito pesado. E tu, sendo miúda, apercebes-te do tamanho das coisas. Tive situações difíceis, em miúda, porque houve alturas em que o FC Porto não ganhou. Tive situações complicadas em casa, com adeptos… Passei por muitas coisas mas faz parte do jogo, o futebol é assim. Tenho de ser agradecida, muito mais do que me queixar, porque o futebol trouxe-me muita coisa boa. Fiz um programa incrível, com jogadores de futebol pelo mundo.

"Acho muito importante seres educada a estabelecer objetivos e não seres deslumbrada. O meu pai é uma pessoa muito dura e está sempre a obrigar-me a isso."

O “Soccer Cities”.
Sim, que foi muito vendido. Há muita coisa boa e muita coisa má no futebol, mas é o que é. Depois, o meu pai tem o nome, é o advogado, é o mau… percebe? Mas é o que é. Foi mais complicado para mim quando o FC Porto comprou o Porto Canal do que o resto. Depois, as pessoas dizem que sou mimada, por causa de ser filha de quem sou… Parece que tens de provar mais. Mas isso dá-me pica. Não há nada que me dê mais prazer neste momento que os meus programas serem líderes de audiência porque não vai ninguém dizer ‘ela está ali porque é filha do pai’. 

Se fosse assim, não tinha feito as escolhas que fez. Não precisava de ir para Nova Iorque, para Madrid. Podia ter ficado tranquila, a viver a sua vida no Porto.
Eu não sou pessoa para ficar tranquila. Gosto de ir para a frente, de desafios. Se fico parada, fico ansiosa e stressada. Acho também que, por ter tido a vida facilitada — porque tive, não vou mentir —, ainda mais. A minha mãe e o meu pai sempre me obrigaram a lutar por aquilo que eu queria. Lembro-me perfeitamente que, quando acabei o 12º ano, cheguei a casa e disse ‘porque eu agora vou tirar o curso para Nova Iorque!’. O meu pai chegou a casa e disse: ‘Mas fazes um curso cá, acabas o curso com uma média acima de X e depois vais, que isto não é assim’. Acho muito importante seres educada a estabelecer objetivos e não seres deslumbrada. O meu pai é uma pessoa muito dura e está sempre a obrigar-me a isso. Quando és nova ficas lixada e nervosa mas, depois, no fim, isso é muito importante. Lutas pela vida. Era muito mais fácil para mim não fazer nada, e ter filhos… e até o podia fazer! Só que não, eu gosto de andar para a frente. 

O seu marido também é do FC Porto?
Não! O meu marido é sportinguista doente, ferrenho! É engraçado porque o meu pai brinca muito com isso. Lembro-me quando o João Moutinho foi para o FC Porto, o meu pai, depois de ter fechado o contrato, ligou à uma da manhã ao Chico a dar-lhe uma tanga. Ele nem queria acreditar! Eles picam-se a brincar. Ele diz que a minha filha vai ser do Sporting, é todo um drama. Outro dia cheguei a casa e tinha a minha filha vestida com uma camisola do Sporting e tive de tirar. Enquanto eu não ligo nada, ele está sempre a ver a Sporting TV, a ouvir os maluquinhos a discutir… parece que o futebol me persegue. Na realidade, o futebol persegue-me. Eu vivo ao lado da Federação Portuguesa de Futebol. O marido é adepto do Sporting… e é do Porto! Mas é super sportinguista. 

E a filha vai ser benfiquista, de certeza…
Ai, eu acho que não. Acho que as pessoas são o que quiserem. Tenho amigos portistas, sportinguistas, não sou obcecada. Quando as coisas fazem parte da tua vida, acho que tu ligas menos.

"Nunca na vida iria destilar ódio para a internet. Só o ato em si acho doentio"

A sua filha fez 1 ano em janeiro. Qual é o balanço?
Foi o ano mais feliz e completo da minha vida, mas também um ano difícil. Quando és mãe em pandemia, é complicado. Antes de ser mãe não estava preparada para isto da maternidade. Por muito que te digam, não estás. De repente, deixas de ser o centro do mundo e o centro do mundo passa a ser outra pessoa. Parecendo que não, mexeu comigo. Há muita coisa que muda, mas é a melhor coisa da vida. A Constança é quem mais amo e que me dá mais preocupação. De repente, é um misto de sensações: amor louco, medo, felicidade. É um ano num turbilhão mas é o melhor da minha vida.

Tendo uma vida privilegiada, podia ter optado por deixar de trabalhar quando foi mãe, mas não o fez.
Sim, mas atenção que eu tenho ajuda e tenho uma babá em casa. Eu não sou uma super mulher. Também acho que essa coisa de passares esta ideia de que és uma super mulher é péssimo. 

Há situações mais fáceis do que outras. Há quem opte, mesmo com ajuda, por deixar de trabalhar.
Eu sou mesmo apaixonada pelo que faço, adoro trabalhar, e não consigo viver sem isso. Preciso de sair de casa, não sou pessoa para ficar um dia inteiro a olhar para um bebé. Quis sempre trabalhar para a minha sanidade, mental, para não me deixar de sentir eu. Mas atenção, as pessoas que ficam em casa não são menos ou mais. Hoje em dia, também acho que há muita pressão para as pessoas serem super mulheres. Não, isso foi o caminho que me fez sentido. Mas, lá está, eu tenho muita ajuda em casa! A minha mãe e a minha sogra mudaram-se para Lisboa para estarem perto dela. Tenho uma babá que é quase minha babá. Isto é muito giro falar mas eu, pelo menos, admito as coisas. Há muitas que andam aí, têm babás e não mostram. Eu mostro. A vida é assim. Trabalhas, mas tens ajuda. É impossível, até porque eu não quero que a Constança vá para a escola antes dos 3 anos. 

Quando foi mãe, sendo também influenciadora digital, tomou a decisão de mostrar a sua filha desde o nascimento. Foi uma decisão ponderada?
Foi uma decisão ponderada e polémica dentro da minha família. A maior parte das pessoas não queria que eu mostrasse. Foi uma grande luta com os meus sogros. Com a minha mãe nem tanto, mas com o meu pai também. Eu mostro tudo, mas não mostro ninguém da minha família. É uma coisa que eles me pediram. A minha vida é com a minha filha. Eu mostro o meu dia a dia naturalmente. Só acho estúpido eu não mostrar. As pessoas têm de ter noção de que eu mostro 15 segundos. Quando faço um story, sei o que estou a fazer, de que ângulo estou a filmar. São 15 segundos do meu dia todo.

Carina Caldeira já é mãe. Veja aqui as primeiras fotos
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E eu não tinha noção de que a maternidade era um espaço para tanta polémica. Sempre fui aquela mãe prática, marquei uma cesariana, dei de mamar duas semanas. Não sou aquela mãe obcecada. Acabei por criar uma rede de seguidores que me ajudou imenso. E esta interação nas redes sociais que eu tenho com a minha comunidade, elas ajudaram-me imenso e ainda me ajudam e dão-me muito amor. Por isso fez sentido. A maior parte da minha família foi contra isso, mas eu sou de ideias fixas e fiz. Agora, tenho cuidados. Não a ponho nua. Tenho noção dos perigos, mas acho que não faz sentido. Eu mostro a minha vida inteira, sou uma pessoa sem filtros. Não ia mostrar a minha filha? Não me choca. ‘Ah, estás a fazer dinheiro com ela’. Sim, e então? Faz parte do jogo. O meu marido não concorda com isso, o meu sogro, a maior parte da minha família… Mas a filha é minha, a vida é minha. 

A Carina fala das redes sociais de forma muito positiva. Mas, e sobretudo no que toca a questões relacionadas com a maternidade e crianças, as pessoas conseguem ser horríveis.
São horríveis! Já fui atacada muitas vezes. Quando disse isso da cesariana, porque disse que nunca tive o sonho de ser mãe. A minha irmã tem 22 anos e o sonho dela é ser mãe e só pensa nisso desde que tem 15 anos. Outro dia fiz um story a dar chocolate à minha filha. Fui enxovalhada! Acho que nunca recebi tanta mensagem. Filhas, eu dou o açúcar que me apetecer! Obviamente que eu não dou uma caixa de açúcar à Constança. Mas é assim: nós comíamos Cerelac, o meu lanche, na escola, era um Bongo e uma Mariazinha. Comíamos porcaria atrás de porcaria e estamos aqui. Odeio tudo o que acabe em -ista, tudo o que seja fundamentalista, fascista, comunista, titititista. Eu gosto do meio termo. Obviamente que eu sei que açúcar não é fixe, mas eu dou de vez em quando um bocadinho. O olhar de uma criança depois de receber um docinho também é fixe. Acho que as pessoas também apontam muito o dedo. Mas isso é em geral. 

Como é que desliga disso?
Não quero saber, porque não me incomoda. Sou uma pessoa de ideias fixas. Sei que não a entupo de açúcar, sei a verdade e penso… ‘pá, mete-te na tua vida’. Eu nunca na vida iria destilar ódio para a internet. Só o ato em si acho doentio. O que penso, e que me ajuda muito, é: ‘estas pessoas devem ter uma vida horrível’. Mas, ao mesmo tempo, gosto quando me dizem coisas construtivas. Mas quando as pessoas são mal educadas comigo ou no meu feed, bloqueio logo. Mas, por acaso, não tenho muito hate, o que é bom.

Para terminar: o que é ter uma vida com glitter?
É uma vida em que não julgas as pessoas e estás focado em ti. Acima de tudo, é uma forma de estar na vida. Tentares sempre tirar uma energia positiva de todas as situações que vives. Sei que há pessoas que têm vidas complicadas mas, mesmo nessa altura, conseguires dar a volta para as coisas ficarem brilhantes. Acredito que o positivo atrai o positivo. Glitter é isso, acreditar nos sonhos, ir atrás deles e, depois, brilhar.