João Simão da Silva, cujo nome artístico era Marco Paulo, nasceu a 21 de janeiro de 1945 em Mourão, no Alentejo, e morreu esta quinta-feira, 24 de outubro, aos 79 anos, vítima de cancro. O cantor lutava contra um tumor no pulmão e no fígado, sendo que este último era mais crítico.
Além das curiosidades sobre o cantor e as reações emotivas dos famosos à sua morte, a MAGG reuniu 11 momentos marcantes na vida e nos mais de 50 anos de carreira de Marco Paulo, do facto de ser o único cantor português com um disco de diamante às últimas palavras que disse em palco.
1. Foi descoberto pela fadista Cidália Meireles
Marco Paulo nasceu em Mourão, no Alentejo, e em 1963 foi viver para o Lavradio, no Barreiro, onde começou a ter aulas de canto com a cantora lírica Corina Freire. Durante um ensaio, foi descoberto pela fadista Cidália Meireles, que fez parte do trio das Irmãs Meireles na década de 40 e que morreu em 1972, que o levou ao programa de grande sucesso “Tu Cá, Tu Lá”, na RTP, em 1965.
2. Participou várias vezes no “Festival da Canção”
No ano seguinte a ir ao programa de Cidália Meireles, Marco Paulo participou pela primeira vez no Festival da Canção da Figueira da Foz com o tema “Vida, Alma e Coração”, de Eduardo Damas e Manuel Paião. Foi esta participação que o levou a ser convidado por Mário Martins, da editora Valentim Carvalho, para gravar o seu primeiro disco, um EP com os temas "Não Sei", "Estive Enamorado", "O Mal às Vezes é Um Bem" e "Vê".
Em 1967, levou ao Festival RTP da Canção o tema “Sou Tão Feliz”, de António Sousa Freitas e Nóbrega e Sousa. Em 1982 regressou ao certame com “É o Fim do Mundo”, de João Henrique e Fernando Guerra.
3. Foi chamado para a tropa e levou um tiro na cabeça
Marco Paulo foi chamado para a tropa na Guiné, em África, numa altura em que ainda havia guerra colonial, onde foi escriturário. “Estive na tropa cá, em Beja, Leiria e Estremoz. Tive muito más notas na recruta, sempre fui mau aluno, distraía-me tanto a cantar, já na tropa era a mesma coisa, estava na tropa e distraía-me muito, estava sempre a cantar", contou o cantor ao “Expresso”.
As más notas levaram-no para a Guiné. “Sabia que ia para a Guiné, mas não sabia para onde”, confessou, acrescentando que levou um tiro na cabeça. “Nunca andei aos tiros, mas deram-me uma [pistola] Mauser. Houve um colega meu, na tropa, na esquina de um quartel, com uma de pressão de ar, deu-me aqui na cabeça e fiquei com a bala cá dentro. Ele disparou sem querer. A bala ficou alojada na minha cabeça. Podia ter sido muito grave, mas não foi. Nunca contei isto”, revelou.
“Foi para me assustar, deu-me um tiro na cabeça. Ele nem pensou no assunto, mas não fiquei tonto. Era uma de pressão de ar. Fiquei um bocado atordoado”, acrescentou. “A experiência na Guiné não foi traumatizante para mim, porque nunca cheguei a estar no mato, fiquei sempre na cidade. Estava no escritório a tratar de papéis. Cantava nos aniversários dos meus camaradas, de qualquer festa, convidavam-me. Já tinha discos, já passava na rádio. Já era o Marco Paulo, já não era o João Simão”, recordou.
4. Dos palcos para apresentador de televisão
Entre 1994 e 1995, apresentou o talk show “Eu Tenho Dois Amores”, emitido nas noites de domingo na RTP1. O formato, que além de entrevistas tinha um clube de fãs em que as pessoas interessadas podiam escrever de todos os pontos do País para saber mais coisas acerca do cantor, foi um sucesso de audiências.
Na atura, contou com convidados como Manuel Luís Goucha, Herman José, Ana Bola, Adelaide Ferreira, Nicolau Breyner e Teresa Guilherme. Dois anos depois, apresentou, também na RTP, o programa “Música no Coração”, com entrevistas a convidados ligados ao meio musical e artístico e com a participação de Estrelinha, uma personagem interpretada pela atriz Paula Valério.
Em junho de 2021, estreou o programa “Alô Marco Paulo”, conduzido pelo cantor e por Ana Marques. Começou por ser transmitido nas tardes de sábado da SIC, mas em abril de 2022 passou para as manhãs. Em junho deste ano, foi transmitida uma emissão especial intitulada “Força, Marco Paulo”, devido à luta contra dois cancros do cantor e ao agravamento do seu estado de saúde.
5. A mudança de editora após mais de 30 anos
Após 34 anos ligado à editora Valentim Carvalho, com quem lançou álbuns como “Amor Total”, “Beijinhos Doces” e “Taras e Manias”, Marco Paulo decidiu dar um novo rumo à sua carreira e assinou com a Zona Música. O disco "35 Anos da Nossa Música", com temas como "Nossa Senhora", "Te Amo, Te Amo" e "Amália A Nossa Voz", foi editado em 2001.
6. É o único cantor português com um disco de diamante
Em 1978, conquistou o seu primeiro disco de ouro com o single “Canção Proibida/Ninguém Ninguém”, com 85 mil cópias vendidas. No ano seguinte, foi novamente disco de ouro com “Mulher Sentimental” e, em 1980, com o êxito “Eu Tenho Dois Amores”, versão de “Petra”, do grego Giorgos Hatzinasios, com 195 mil discos vendidos.
Marco Paulo arrecadou 140 discos de platina, ouro e prata, tendo vendido mais de cinco milhões de discos e sendo o quinto cantor nacional com mais discos vendidos de que há registo. Além disso, é o único cantor português com um disco de diamante, segundo a Renascença, pelas vendas de mais de um milhão e meio de cópias com um só disco, o “Maravilhoso Coração”.
7. Em 2016, assinalou 50 anos de carreira
Marco Paulo assinalou 50 anos de carreira em 2016. No mesmo ano, recebeu o Prémio de Mérito e Excelência na XXI Gala dos Globos de Ouro, entregue por Francisco Pinto Balsemão, e realizou a “Tour 50 Anos” para assinalar este marco, tendo realizado concertos em salas como os Coliseus de Lisboa e do Porto.
8. Foi condecorado pelo presidente da República
Em maio de 2022, altura em que celebrava 56 anos de carreira, o cantor recebeu a distinção de Comendador da Ordem Infante D. Henrique, numa cerimónia que decorreu no Palácio de Belém, em Lisboa, tendo sido condecorado pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
“É um dia muito importante para mim. Nunca pensei que aquela criança que nasceu no Alentejo, numa vila tão pequenina chamada Mourão, um dia pudesse entrar neste palácio lindíssimo e ser condecorado pelo senhor presidente da República, de quem gosto muito”, disse Marco Paulo em direto no programa “Júlia”, na SIC.
O cantor também assinalou o marco nas redes sociais. “É uma honra. Agradeço de todo o coração aos portugueses, a Portugal e ao Sr. Presidente da República a condecoração. Quero partilhar com vocês com toda a minha gratidão. Muito obrigado, estou muito feliz. Beijinhos e abraços”, escreveu.
9. As últimas palavras de Marco Paulo em palco
No espetáculo “Para Sempre Marco”, no dia 1 de maio deste ano, no Tivoli, em Lisboa, o cantor subiu ao palco para receber uma homenagem e ainda cantar o refrão do tema “Maravilhoso Coração”. Nesse momento, Marco Paulo deixou uma mensagem emotiva.
“Onde eu estiver, lá em cima, quanto mais vocês cantarem, mais eu vos oiço lá em cima. É por isso que eu disse que gostava que cantassem, cantassem, cantassem muito para eu lá em cima vos poder ouvir”, disse, tal como partilhou o comentador Hugo Mendes da “Passadeira Vermelha”, na SIC Caras.
10. A luta de décadas contra o cancro
Marco Paulo foi diagnosticado pela primeira vez com cancro em 1996, no testículo direito. O tumor tinha “quase o tamanho de uma tangerina” e teve de o remover, tal como disse numa entrevista ao “Correio da Manhã”.
20 anos depois, em 2016, tornou público que lhe fora diagnosticado cancro da mama e que seria submetido a tratamentos. No final desse ano, revelou que o seu estado de saúde se tinha agravado com o diagnóstico de um tumor pulmonar, segundo o “Público”.
Em 2022, quando era atualizado sobre o estado do tumor pulmonar, descobriu o cancro no fígado. Em setembro deste ano, os médicos informaram que os tratamentos de quimioterapia seriam suspensos por não estarem a resultar. Como tal, o cantor encontrava-se em repouso em casa.
11. Foi lançada uma série biográfica sobre o cantor
Em janeiro de 2023, foi lançada a série biográfica do cantor, “Marco Paulo: A História da Minha Vida”, na Opto, a plataforma de streaming da SIC. Realizada por Manuel Pureza, “conta a história de vida de um dos maiores e mais reconhecidos artistas portugueses de sempre”, pode ler-se na sinopse.
Com apenas três episódios de cerca de 40 minutos, “ficamos a conhecer todo o percurso profissional e pessoal do cantor, que vai muito para além dos anos de ouro que o consagraram com o epíteto de rei da música romântica portuguesa”.
Do elenco, fazem parte nomes como Diogo Martins, Fernando Luís, Rodrigo Costa, Rita Blanco, Rui Luís Brás, Cleia Almeida, Frederico Barata, José Mata e Carolina Carvalho.