Duarte Gomes, ator de televisão e cinema de 37 anos, integra o elenco do filme brasileiro “Vermelho Monet”, que estreou no dia 23 de outubro no Los Angeles Fim Festival. Popularizou-se na quinta temporada da série juvenil “Morangos com Açúcar”, na TVI, protagonizou a novela “Massa Fresca” e participou em outras como “Santa Bárbara” ou “O Beijo do Escorpião”. À MAGG, revela qual foi o papel que mais gostou de interpretar.
Além disso, fez história ao ser o primeiro português a participar num filme produzido pelo canal norte-americano Hallmark em “A Pinch of Portugal”, tendo-o protagonizado, e também revelou como foi essa experiência e se sentiu um peso acrescido.
O ator, que foi pai de Amélia em setembro de 2022, fruto do relacionamento com a atriz Filipa Nascimento, com quem se casou em 2021, revela estar focado numa carreira internacional e revela como seria conciliá-la com a família.
Leia a entrevista.
O Duarte participa no filme brasileiro “Vermelho Monet”, que estreou esta segunda-feira, 23 de outubro, no Los Angeles Film Festival. Como descreve esta experiência?
Este foi um filme pré-pandemia, foi mesmo antes da pandemia rebentar. Depois tiveram de “parar” o lançamento do filme, porque eles já tinham programado fazer um circuito de festivais. Com a pandemia não havia festivais, então é um filme novo, mas já com dois anos talvez. O circuito de festivais começou o ano passado e está neste momento em Los Angeles.
A experiência para mim foi incrível, porque de repente estou a trabalhar com a Maria Fernanda Cândido e com Chico Dias, dois atores muito consagrados no Brasil. Foi numa altura em que me fizeram a proposta para fazer a self tape, ainda as self tapes estavam a aparecer na pré-pandemia, mas ainda não eram muito fortes aqui em Portugal como estão a ser agora, as oportunidades estão a ser maiores neste momento. Fiz a self tape naquela: ‘olha, não sei se isto me vai calhar’ e calhou. Foi uma experiência incrível, porque de facto quando nós trabalhamos com realizadores ou produções que não são portuguesas há uma linguagem diferente, não só a linguagem verbal, mas também a linguagem de estética. Claro que há coisas que são muito, muito semelhantes, como os métodos de trabalho, mas têm uma visão e uma linguagem muito diferente.
Ainda por cima este filme é um filme de autor, do Halder [Gomes], e é um filme que é género o filho preferido dele, pelo menos naquele momento era, mas ainda hoje falamos e eu vejo as coisas que ele publica sobre o filme e aquilo é mesmo o pequeno filho dele. É um realizador que está mais virado para filmes e séries de comédia, alguns que foram para a Netflix, e para uma zona específica do Brasil. Este filme é completamente o oposto dele, então a visão e a postura que ele trazia para o filme foi contagiante. Nós, de repente, estávamos a viver e a amar aquele filme da mesma maneira que ele. A experiência, nesse sentido, foi muito interessante.
O que significa para um ator do elenco ver o filme em que participou neste festival?
É maravilhoso, porque nós não sabíamos onde é que isto ia parar. Confesso que quando nós estávamos a rodar o filme, mesmo nós, às vezes, não conseguíamos perceber inicialmente a estética que ele estava a aplicar. É um filme muito específico, que mistura pintura, há arte em várias formas, porque estamos a gravar um filme dentro de um filme, todo o mundo das falsificações. Estávamos a rodar e estávamos meio confusos de onde é que isto ia parar e não sabíamos ainda o que o Halder já tinha na cabeça dele, que era este circuito de festivais. A ideia também é estrear nos cinemas no Brasil. Na altura ele tinha falado que seria no último trimestre deste ano, não sei se será ou não, mas terá de ser agora.
A primeira vez que o filme foi exibido foi cá em Portugal, no FESTin [Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa], e foi fixe termos a oportunidade de o vermos aqui no Cinema São Jorge. Quando chega a Los Angeles e depois de repente está a passar uma publicidade no Times Square ficas: ‘uau, isto é incrível’. Quando estrear no Brasil, espero que tenha muito impacto como de repente está a ter nos festivais, porque já teve várias menções e alguns prémios.
O Duarte fez história ao ser o primeiro português a participar num filme produzido pelo canal norte-americano Hallmark, em “A Pinch of Portugal”. Como foi trabalhar neste projeto e protagonizá-lo?
Foi outra experiência. No filme “Vermelho Monet” eu faço um português com sotaque português de Portugal, portanto não tinha uma dificuldade acrescida que seria, por exemplo, a de fazer português do Brasil. Aqui, também faço um português, o filme é passado em Portugal, mas é um português que fala inglês e logo aí existe algo acrescido, porque eu nunca tinha tido esse confronto com a língua.
Há quatro anos que estou a tentar focar-me também na parte internacional, por isso é que encontrei uma agente em Londres e de repente estou a fazer castings para filmes incríveis. Tenho sempre a sensação, e já tinha antes, que um dia as coisas vão bater, vão dar certo e este é um caso desses de sucesso, em que tu estás mesmo a fazer um filme para um canal que passa em mais de 120 países, muitos filmes são comprados pela FOX. O “A Pinch of Portugal” foi comprado e exibido pela FOX. De repente estás a ver-te num canal e numa estação muito forte como é aquela.
Enquanto experiência foi incrível, porque estava a trabalhar não só com americanos, o elenco tinha australianos, um francês, ingleses, havia muita equipa técnica portuguesa, e logo aí o método de trabalho é muito, muito diferente do de Halder, no “Vermelho Monet”. A Clare [Niederpruem, realizadora de “A Pinch of Portugal”] tem um método de trabalho diferente, mas foi giro, porque nós começamos logo assim meio em família. Eles estavam todos hospedados aqui num hotel em Lisboa e o primeiro encontro, a primeira reunião, foi com um copinho de vinho a falar sobre o filme, sobre as intenções que eles têm para o filme, a linguagem, sobre o que são os filmes do Hallmark Channel, porque é um canal muito específico, eles têm uma data de produções por ano, mas são filmes muito específicos: filmes românticos, comédias românticas, comédias natalícias, comédias de todas as festividades que eles têm. Eu por acaso não pude estar presente, porque estava doente, mas tive de estar por videochamada. Eles queriam explicar-nos qual é o conceito do canal, o objetivo. Por exemplo, nós sabemos que num filme do Hallmark os dois protagonistas vão sempre acabar juntos, há coisas que já estão meio pré-definidas.
Depois, no método de trabalho deles, existe uma proteção em relação aos atores muito diferente do que estou habituado, isto porque eles têm um sindicato de atores muito forte, têm efetivamente de preencher uma ficha diária com as horas a que entram, a que horas é que descansam, têm de ter sítios para descansar, daí nós vermos sempre aquelas caravanazinhas onde eles ficam. Não estou habituado a isso, não é a nossa realidade portuguesa ainda, espero que um dia seja, porque principalmente em filmes existe ainda mais tempo de espera do que existe numa novela. Eu cheguei a entrar às 10 horas e gravar às 17 horas. Existe de facto a necessidade de haver uma proteção para os tempos de espera, para que depois quando formos para o set a energia seja igual ou parecida à que tínhamos de manhã.
Logo de início, pediram-me para fazer o sotaque de um português a falar inglês e não tentar aperfeiçoar um sotaque londrino ou americano. É uma coisa que eu agora estou a tentar trabalhar mais, apesar do meu sotaque não ser aquele, mas eu quero que seja melhor para ter mais possibilidades internacionais. Foi muito gratificante estar num projeto com uma grandeza diferente, apesar de ser um filme para televisão, mas um dia não será.
O que significou para si este feito? Sentiu uma pressão acrescida?
Não, de todo. Não faz parte de mim pensar se sou o primeiro, se sou o último, se sou o do meio. É um bocadinho indiferente. A única coisa que vejo com os portugueses que estão a conseguir fazer projetos internacionais é que, não digo que têm esse peso nas costas, mas de qualquer das maneiras tentamos sempre provar que nós somos iguais a outros atores de outros países que têm mais hipóteses neste mercado. No mercado americano, quem tinha mais hipóteses eram sempre os ingleses, os australianos, irlandeses, a maior parte dos países que já têm como língua principal o inglês. De facto, é estranho nós, com tanta qualidade, que temos mesmo, não estou a dizer isto só por dizer, não sermos muitos a conseguir hipóteses internacionais. Existe a barreira, no caso dos Estados Unidos, de um Atlântico, mas as produções, agora com o streaming, são feitas muito pela Europa fora, por isso é que se vê muitos atores, não só portugueses, a fazer grandes produções internacionais.
Não sei se existe esse peso, mas nós portugueses, seja em que área for, mesmo que seja um português a emigrar para a Suíça para trabalhar num restaurante, vamos querer ser os melhores e vingar. Uma das coisas boas de fazer este projeto são também os diretores de casting, porque lá fora funciona também com agentes, mas os diretores de casting têm uma importância muito grande, porque são eles que selecionam as pessoas para fazer o casting, por isso acabam por ser o filtro para chegar aos realizadores e produtores. Por exemplo, o diretor de casting deste filme é um dos diretores de casting de “House of the Dragon”, de repente as hipóteses podem aumentar e este diretor de casting ao ter escolhido um português vai, de certeza, olhar para mais portugueses, e vai pensar: ‘ok, correu muito bem, então bora procurar mais’. Por isso digo que não tem peso, mas acho que todos nós queremos dar o melhor, porque abre portas não só para nós, mas também para outros portugueses.
Gravou este ano a série “A Filha”, que é baseada num caso real que chocou o País, o de Esmeralda, e que a TVI anunciou que estreará durante o outono. Quais são as expectativas para este projeto?
Não posso revelar muito. É inspirado no caso de Esmeralda, é um caso que foi muito impactante para nós, teve contornos que funcionam realmente na ficção, mas pensando na realidade, é complicado. Eu tenho uma filha, a minha filha não é adotada, é minha, não vivi nenhuma experiência assim parecida, mas a luta de uns pais adotivos contra um pai biológico deve ser uma coisa muito forte para todas as partes envolvidas, para a criança principalmente e para os pais envolvidos no processo. Tanto que eu tenho ideia que, no fim, acaba com Esmeralda a querer voltar para os pais adotivos, ou seja, mexe muito com o psicológico. Esta é uma história muito interessante, no sentido psicológico, emotivo e familiar, é muito forte, mas existem algumas adaptações para ficção.
O que posso dizer é que a minha personagem está envolvida no núcleo do pai biológico para transpor também uma realidade à vida daquela personagem para justificar, na história ficcional de “A Filha”, muitas das opções tomadas pelo pai. Estou com muita curiosidade, porque a única coisa que eu vi foi o que mostraram, um trailer muito pequenino. Estou muito ansioso para a estreia dessa série.
O Duarte começou por ficar conhecido pelo público por ser apresentador ou ator em séries televisivas infantis, como “As Pistas da Blue”, “Zig Zag” e “Ilha das Cores”. Voltaria a fazer um formato destes hoje em dia?
Não sei, é uma boa questão. Se me convidassem hoje, provavelmente não. Não por não ter gostado de fazer, não por achar que é um público que não me “merece”, mas simplesmente para desafio pessoal, nesta fase da minha vida, procuro outras coisas. Procuro personagens, desafios, histórias. No caso de “A Filha”, também posso dizer que a minha personagem é um bocadinho xenófoba. Tem esse ponto, mas apesar de tudo não vai muito ao fundo da questão. Eu aceitei o projeto, principalmente, pela história no seu global, queria fazer parte deste projeto especificamente pela história. Chega a uma altura que, a maior parte de nós, quer um bocadinho filtrar as nossas escolhas, se possível e se tivermos almofada financeira, queremos ir por caminhos e fazer coisas que nos dêem prazer e que nos desafiem.
Fazer séries infantis foi um desafio, tinha acabado de sair da escola, tinha acabado de sair do Chapitô, não sabia nada de nada sobre televisão e muito menos sobre projetos infantis, e estava ali um bocadinho a apalpar terreno. Foi muito interessante ter começado aí, estamos a falar de uma altura, em 2004, em que não havia quase nada de projetos televisivos. A TVI acho que tinha os “Morangos com Açúcar” e uma novela à noite, a SIC acho que comprava novelas brasileiras e a RTP não estava a fazer séries como está agora, eram coisas muito pontuais e novelas também não tinha. Chegar ali foi também impactante e um desafio, até porque quando comecei em “As Pistas da Blue” estava completamente sozinho, era um cenário azul em chroma, a relacionar-me e a olhar para coisas que não existem. Era “esquizofrénico”, no bom sentido.
Neste momento, procuro desafios diferentes, histórias que me cativem, seja da minha personagem ou no projeto global. Não digo nunca, mas não é uma hipótese em que eu pense nesta fase, voltar a fazer projetos infantis. Mas nunca se sabe, eu até o Festival Panda apresentei na altura.
Em 2007 fez parte da quinta temporada de “Morangos com Açúcar”, onde deu vida ao surfista Tomás Monteiro, e tinha uma legião de fãs. Foi complicado lidar com toda a loucura que havia em torno da série juvenil?
Complicado não foi. Acho que nós nunca mais vamos viver aqui em Portugal aquela realidade, porque aquilo parecia que, de repente, éramos os Beatles, toda a gente. Bastava participar numa série. Estamos a falar numa altura em que as redes sociais não existiam, o Facebook se existisse eram só páginas pessoais, portanto este contacto com o público só existia pessoalmente. Então quando as pessoas nos viam, e tendo em conta a faixa etária que era, nós sermos novos e estarmos na mesma faixa etária de uma parte das pessoas que nos viam, aquilo era uma coisa inexplicável. Com a “Massa Fresca” acabei por viver algo parecido, porque lançaram um livro e fomos à FNAC ter a oportunidade de estar com as pessoas e assinar esses livros. De repente havia uma fila no centro comercial, fora da FNAC, parecia quando abrem aquelas lojas mais baratas de cosméticos. Sentiu-se um bocadinho aí, mas mesmo assim não teve nada que ver.
Andar na rua era super estranho, não é uma coisa que me aconteça agora. A abordagem era muito maior, diferente, as pessoas consumiam mesmo os atores da série. Na altura havia muito aquela coisas das presenças e eu lembro-me de, na altura, ter feito uma presença nos Açores e fui completamente apalpado, sugado, tive de ir para um patamar mais elevado para poder sobreviver. É fixe, porque vivemos aquilo na altura certa, tinha 20 anos. Nós também gravávamos muito, de segunda-feira a sábado e, portanto, também não havia muitas hipóteses. Alguns malucos conseguiam sair mais do que outros, mas nem todos optávamos por fazer isso.
Foi protagonista da novela “Massa Fresca”, na TVI, onde interpretou Francisco Elias, um papel a que muitos continuam a associá-lo ainda hoje.
Posso dizer que foi dos projetos que mais gostei de fazer em televisão. A temática família, pelos vistos, é uma temática em que eu, sem querer, me encaixo bem. Também sinto que me encaixo em pessoal do bairro, também tenho essa valência, mas ali senti-me bem a gravar com os meus sobrinhos. Ainda hoje os trato por "sobrinhos", alguns já não vejo tão frequentemente, outros tenho visto sem querer de vez em quando, e eles tratam-me por "tio". Eu era feliz a fazer aquele projeto, acaba por correr ainda melhor também por causa disso. Gostei muito de trabalhar com a Mafalda Marafusta, acabou por tudo bater certo naquele projeto, pelo menos eu sinto isso.
Sinto que aquela temática é uma das minhas mais fortes, via isso na rua. Toda a gente me chamava por “Ti Chico” e na altura já havia Instagram, portanto já havia um volume de comentários grande, mesmo no Twitter havia hashtags específicos para o casal. Por isso é que digo que acabei por viver outra vez um bocadinho essa euforia e, lá está, tem a ver com o target [“público-alvo” em português]. Senti-me lindamente com a abordagem que tive com as pessoas, senti mesmo que estávamos a fazer uma história para as pessoas.
Era uma história super dura, os pais deles faleciam num acidente de viação e aquelas crianças tinham de sobreviver à ausência dos pais, uniram-se uns aos outros, e todos os desequilíbrios que aquilo traz ao crescimento de qualquer criança. Tinha partes de comédia, e é importante que tenha tudo, mas a sua base era uma história boa de ser contada nesse sentido, porque de repente podemos ter um colega nosso que passou por uma situação semelhante e é bom que as histórias criem essa empatia e que relatem realidades que às vezes não são as nossas, e ainda bem, mas que são realidades importantes de ser contadas.
Na novela “O Beijo do Escorpião”, da TVI, deu vida a Miguel, uma personagem homofóbica que acaba por perceber que é homossexual. Sente que este papel foi importante para ajudar a acabar com o preconceito?
Quero acreditar que sim. Não posso dizer com certeza absoluta que mudou, mas tenho a certeza que fez muitas pessoas pensarem sobre o assunto. Ainda por cima já foi há muitos anos, estamos a falar de uma altura em que isso não acontecia em televisão, era uma temática que não era abordada, tanto a homofobia como a orientação sexual de cada um. Quando foi abordada anteriormente foi de uma forma muito leve, mas ali não, existia uma história real, existia calor, amor, beijo, tudo. É engraçado porque aquilo teve muito impacto na altura, no sentido em que nós vimos também muitas mensagens negativas, sobre o porquê de estarmos a abordar aquela temática, palavras que nem fazem sentido de estar aqui a dizer, mas também existia totalmente o oposto, em que havia pessoas a defender e a dizer: ‘mas porquê? Porque é que as pessoas não podem só gostar umas das outras? Porque é que se tem de definir a pessoa por isto ou aquilo?’.
A orientação sexual não é uma escolha, é um sentimento. Se ainda existe preconceito, as pessoas têm mesmo de olhar para dentro e pensar que é uma coisa que não lhes afeta e não faz sentido nós estarmos preocupados com a vida amorosa do outro. Acho que agora o mundo mudou muito, porque teve impacto mundial. Não a novela, mas toda a temática foi abordada. Naquela altura sinto que teve muito, muito impacto.
Estranhamente, houve alguém que decidiu aproveitar só os excertos e fazer uma novela só da nossa história, do Paulo e do Miguel, vai parar ao Youtube e de repente recebo mensagens da Venezuela, do Brasil, dos Estados Unidos, de pessoas a dizer que passaram pelo mesmo, que para eles foi super difícil, a agradecer, a dizer que vão mostrar a novela a outras pessoas. É muito diferente quando fazemos uma história que, de facto, tem interesse social e impacto. Mesmo dizer mal é bom, porque a seguir vai alguém dizer bem e assim sucessivamente, é um alerta. As temáticas só são verdadeiramente abordadas quando são discutidas, sejam elas quais forem. E depois o amor é normal, só isso.
Já integrou o elenco de inúmeras novelas portuguesas, como “Santa Bárbara”, “Bem Me Quer”, na TVI, e “Golpe de Sorte” ou “Por Ti”, na SIC. Qual o projeto e a personagem que mais o marcaram? Porquê?
Diverti-me em todas, que é o mais importante. Posso destacar, em televisão, “Massa Fresca”, que foi o projeto que mais gostei de fazer pela mensagem e pela personagem. Depois também o Zé Cigano, em “O Bairro” [filme], pela temática, por ser um mundo que eu gosto de fazer. Não me levem a mal, que eu não sou criminoso, mas o mundo do crime, das drogas e armas, como só vou fazer isto a fingir e como em criança também joguei videojogos, também gosto de fazer. Vejo muitos documentários sobre pessoas que estão presas, já em duas self tapes com textos à escolha escolhi histórias reais de pessoas que estão presas e no corredor da morte. Pode parecer um bocadinho mórbido, mas não é, a sério que sou boa pessoa (risos). É muito difícil escolher um, agora lembrei-me também do “Sim, Chef”, uma série de comédia de situação passada num restaurante, e é super interessante ter sido tudo passado ali.
"Eu sempre disse que queria e que ia entrar no mercado internacional, eu sentia que isso ia acontecer e aconteceu"
O Duarte disse numa entrevista recente que tem estado “a tentar a sorte fora de Portugal”, a fazer castings. Isto deve-se a falta de trabalho em Portugal ou ao objetivo de ter uma carreira internacional?
É mesmo um objetivo. Para o sonho se materializar os processos não são fáceis, mesmo para conseguirmos um agente lá fora não é muito fácil, porque o material que temos é na língua portuguesa, é algo muito específico. A língua tem de ser inglesa, a espanhola pode ser uma hipótese, nunca se sabe se não virá a acontecer. É um mercado em que ou acontece milagrosamente sem querer, que também pode acontecer, por exemplo no “Vermelho Monet” foi um casting que eu não estava à espera, apareceu-me, mas existe algum trabalho e investimento e alguma disponibilidade. Já me aconteceram situações em que a minha agente me enviou uma self tape e não me valia a pena fazer, porque eu estava envolvido numa novela, em que são oito/nove meses e não conseguimos, em projetos internacionais é impossível, não é compatível.
Não digo que se tem de optar ou por uma coisa ou por outra, mas quando se diz que sim a um projeto de longa duração tem de se ter em mente que, se porventura aparecer uma hipótese de fazer uma self tape ou um casting, não vamos poder fazer. Por isso é que acaba por ser uma escolha, de ‘agora vou fazer mais isto, agora vou mais para aqui’. Eu sempre disse que queria e que ia entrar no mercado internacional, eu sentia que isso ia acontecer e aconteceu.
Ainda não está na fase que eu quero, mas acredito que vou lá chegar, pelo menos estamos todos a lutar por isso. Comparo sempre a nossa carreira à de futebolista: é preciso muita sorte, não basta jogar bem, é um conjunto de fatores. Eu não quero descurar o mercado nacional, de todo, eu não estou envolvido a 100% no mercado internacional, como o Joaquim de Almeida que vive efetivamente nos Estados Unidos, não estou nessa fase nem pretendo estar neste momento, porque tenho uma filha, vivo cá e pretendo continuar a viver cá, mas quero tentar balançar isto o máximo possível. Obviamente são situações hipotéticas, mas neste momento é tão possível eu fazer um filme de Hollywood como fazer uma novela. Tudo é possível. O caminho que eu adotei é ver projeto a projeto e ver se nesta fase faz ou não sentido fazê-lo.
É pai de Amélia, de 1 ano, fruto da relação com a atriz Filipa Nascimento. Como está a ser esta jornada da paternidade?
Está a ser boa, eu vi que claramente sou um homem de família, daí talvez dizer que gosto de fazer a temática da família. Adoro acompanhar o dia a dia da minha filha, ela entrou para a creche a meio do mês de outubro, teve o primeiro ano inteiro só connosco. Foi uma adaptação difícil para todos, para os pais que não têm a sua filha 24 horas, para ela também que não nos tem a nós, mas é bom vê-la crescer nesse sentido. Tem sido uma jornada interessante, é outra realidade. Por mais que nos digam que é assim ou assado... eu, por exemplo, nunca vou dar conselhos a ninguém. As experiências são todas diferentes umas das outras. Gosto muito deste meu novo papel de pai, gosto muito de fazer parte da vida da minha filha.
Uma coisa que eu e a Filipa decidimos é que, para ter um filho, ele teria de estar connosco, viver o nosso dia a dia, as nossas viagens, as nossas coisas. Nós não pensávamos casar e casámos, não pensávamos em ter filhos no imediato e decidimos ter, vamos vivendo momento a momento. Apesar de ser uma tarefa árdua, as crianças têm as suas vicissitudes, os seus dias não, precisam de cuidados a todo o momento, principalmente no início. Isso requer muita disponibilidade das pessoas, quem decidir ser pai tem de pensar muito, porque a sua vida nunca mais vai ser a mesma. Mesmo a nível de preocupação, que é muito chato. Desde que ela nasceu que eu vivo preocupado, e outros pais já me disseram, e nisso eu acredito, que essa preocupação nunca mais vai acabar para o resto da vida. Eu não sei o que fazia com tanto tempo livre, com ela vejo que não tenho tempo livre (risos).
Tendo como objetivo uma carreira internacional, como será conciliar com a família caso vingue lá fora?
Já falámos sobre isso, por acaso, antes até da Amélia nascer. Pode acontecer, ainda há pouco tempo a Filipa fez um casting, em que acabou por não ficar, e era um projeto incrível. Pode acontecer, de repente, até para ela e não para mim que estou mais focado nisso nesta fase.
O que ficou decidido é que, caso não estejamos a trabalhar, a família vai junto. Tudo é possível. Ainda por cima numa fase em que ela é tão nova, é mais fácil. Nesta fase, o que acontece muito a nível internacional permite-nos ter a nossa base no nosso País, a não ser que seja um país super longe de tudo. Estamos na Europa, é possível ir a todo o lado, portanto a base continua a manter-se sempre em Portugal. Se estiver a fazer uma série internacional noutro país, em que fique mais tempo do que num filme, aí sim, mas eu acho que tudo é viável e possível, e não é uma decisão que tenha de se tomar já. O que existe é um pensamento de que aconteça o que acontecer, seja para mim, seja para ela, a família acompanhe.
O Duarte e a Filipa partilham muitos momentos com o Salú, o vosso animal de estimação, nas redes sociais, e este até foi o “menino das alianças” no casamento. Que importância tem este cão para si?
O Salú já era da Filipa, ele já existia antes da nossa família se juntar. Tem muita importância, porque eu adoro animais, é o ponto principal, adoro cães. Ele passa a vida muito comigo, passeia muito comigo e com a Amélia, agora. Faz parte da nossa família. Não gosto nada de dizer aquela coisa que ‘é o nosso primeiro filho’, não sou nada desse género, mas ele é muito importante, porque já fazia parte, não pode ser descurado agora que existe um novo elemento.
Quem tem cães ou gatos sabe a alegria que eles nos transmitem, mesmo com coisas simples. Basta chegar a casa, dizer a palavra “biscoito” e a alegria que eles transmitem. Eles são tão simples e ficam contentes com coisas tão normais como só sair de casa. A Filipa sugeriu logo que ele fosse o “menino das alianças”, mas nem sabíamos se ele ia conseguir cumprir essa missão, porque tinha de percorrer um corredor e nunca foi treinado para isso. Ele percorreu o corredor, nós tirámos as alianças que ele tinha na coleira e ele foi-se embora, nem quis estar connosco.