O nome de Lenny Kravitz dispensa apresentações. Nascido Leonard Albert Kravitz a 26 de maio de 1964 em Nova Iorque, o norte-americano construiu uma carreira sólida na música e não só. O intérprete de "Are You Gonna Go My Way" e artista galardoado com vários Grammys também é fotógrafo e participou enquanto ator na saga "Os Jogos da Fome". Agora, é a cara da campanha do novo perfume da Yves Saint Laurent, Y Le Parfum.

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Numa entrevista cedida em exclusivo à MAGG (em Portugal), Lenny Kravitz fala sobre música e como essa aptidão tomou forma quando viu os Jackson 5 atuarem ao vivo no Madison Square Garden. Fala também sobre os anos em que viveu na rua, sobre o seu primeiro grande sucesso e, claro, sobre a sua relação com a marca Yves Saint Laurent e com o novo perfume.

Tem uma vida realizada e repleta de sucesso. Que significado tem isso para si?
À medida que amadureço e vivo a minha vida, ainda incluo a minha arte na parte do sucesso. Mas, na verdade, neste momento, o sucesso tem que ver com amor. Como se ama, como se usa o amor para melhorar qualquer coisa na vida, desde a paz de espírito até à gratidão e liberdade, e o que isso significa para nós.

Durante o seu crescimento, a música foi um escape ou uma forma de prazer?
A música era o meu lugar seguro. Levava-me para longe, e nunca ficava aborrecido. Quando és filho único, aprendes a ocupar o  tempo. A música era a coisa que eu queria estar sempre a fazer. Hoje em dia, estamos tão habituados à tecnologia, temos o streaming, jogos, as redes sociais, o Instagram, Twitter, Facebook, YouTube, entre outros. Durante a minha infância e adolescência tinha menos de dez canais de televisão, rádio, discos, e música ao vivo. Era mais ou menos isso. Não havia grande coisa que eu pudesse fazer no meu quarto de miúdo. Tinha o meu pequeno gira-discos de plástico e os meus discos. Era o meu mundo.

Em que medida é que o tema "Are You Gonna Go My Way", lançado em 1993, foi um ponto de viragem na sua carreira?
Estava incluído no meu terceiro álbum, por isso as pessoas conheciam-me e o meu percurso estava a correr bem, já estava no caminho certo. O que foi incrível naquele momento foi como tudo começou com a canção. Não fazia ideia de que acabaria por ser o sucesso em que se tornou. Não soava a nada que estava na rádio na altura. Era bastante crua, mas tornou-se um clássico. Mas o que realmente a uniu foi o visual.
Conheci um jovem realizador chamado Mark Romanek, que estava a fazer grandes vídeos, ele inventou o equipamento todo de iluminação, que era simplesmente inacreditável. No final, o visual, a roupa, a canção, toda a apresentação se juntou e resultou. Por melhor que o tema fosse, penso que se o visual não tivesse sido aquele, não me teria impulsionado da mesma forma. Foi uma tempestade perfeita de diferentes elementos que fez com que tudo isto acontecesse. O nível a que elevou as coisas foi completamente diferente. De repente, eu estava a tocar em estádios enormes em todo o mundo. Tudo mudou muito rapidamente. Foi um belo presente. Aquela canção ainda está tão fresca como estava em 1993, quando foi lançada.

lenny kravitz
Lenny Kravitz tem 56 anos e uma carreira de duas décadas no mundo da música. créditos: Yves Saint Laurent

É considerado um músico particularmente libertador e poderoso. O que é que isto significa?
O que é tão bonito na música, e em ser músico, é que mesmo depois de todos estes anos, ainda estou apaixonado por tudo isto. Ainda sou um fã de música, independentemente daquilo com que fui abençoado. Não estou nada aborrecido ou acomodado. Ainda sou apaixonado, e ainda estou a aprender.

O Lenny é a cara da campanha do novo perfume Y Le Parfum, cujo espírito é transformar os sonhos em realidade. Aliás, no filme da campanha surge um flashback da sua infância. Diria que está a realizar os sonhos que tinha nessa época?
Quando era mais novo, só pensava em fazer música, porque era essa a minha paixão desde que nasci. Eu sabia que me sentia atraído pela música e sabia que esta mexia com algo dentro de mim. Acordava-me. Fazia-me sentir vivo. Adorava ouvir discos, ouvir o rádio no carro do meu pai, quando íamos a conduzir por aí.

Quando tinha 6 ou 7 anos, compreendi realmente que a música era o que eu queria fazer da minha vida. O meu pai surpreendeu-me e levou-me ao Madison Square Garden, em Nova Iorque, para ver o meu grupo favorito, os Jackson 5. Depois desse concerto, de o ver, sentir, ouvir, experienciar a energia de estar no público, percebi que era isso que queria fazer. A partir daí, fiquei obcecado em fazer vida da música.

A campanha deste lançamento também tem que ver com objetivos, com seguir em frente. Recorda-se de algum momento da sua vida em que teve de reunir força de vontade para conseguir algo?
Essa tem sido a minha jornada, o meu caminho. Saí de casa com 15 anos. Fui para as ruas e vivi num carro, vivi nos sofás de amigos, em salas e caves de estúdio de gravação, dormi no chão. Saí de casa porque optei por me colocar no mundo e descobrir como o iria fazer. As ruas foram a minha faculdade e ensinaram-me tudo. Todas as pessoas que conheci, todas as experiências que tive, todas as situações que vivi foram cruciais para encontrar o meu caminho enquanto artista e também para continuar a crescer.

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Saí de casa aos 15 anos e assinei o meu primeiro contrato discográfico aos 23. Por isso, nos sete anos que separam esses dois momentos, essa foi a minha vida, o pensar como é que ia chegar ao objetivo. Muitas vezes, as coisas acabam por acontecer de forma orgânica, e temos de saltar de cabeça, ao mesmo tempo que afinamos a nossa arte e os nossos instintos.

Como é que foi a experiência de gravar esta campanha?
Antes de mais, sou fã do trabalho do Anton Corbjin [realizador da campanha] como fotógrafo, como artista, como cineasta. Tinha trabalhado com o Anton Corbjin numa produção de capa para uma revista na altura do lançamento do meu segundo albúm, "Mama Said". Por isso, já o conhecia e sempre gostei muito do seu trabalho, adorei tudo o que ele fez com os Depeche Mode e os U2. Sempre fui um fã, especialmente do trabalho a preto e branco.

Já o David Sims [fotógrafo], vi o trabalho dele pela primeira vez noutra campanha a preto e branco para a Yves Saint Laurent. Quando vi as imagens, pensei logo: "Estas fotografias são espantosas. Adoro a luz". Por isso, já queria trabalhar com ele muito antes de ter a oportunidade de fazer parte desta campanha. Como também sou fotógrafo, acho que resultámos muito bem juntos, porque falámos abertamente sobre tudo, partilhámos pontos de vista, e resultou tudo muito bem. Para além de nos termos divertido muito.

Vê semelhanças entre o conceito da marca Yves Saint Laurent e os seus valores?
Em muita coisa, partilhamos muitos valores fundamentais. Para começar, sempre fui um fã do homem, do Yves Saint Laurent. Adoro o trabalho, a estética, o estilo de vida, a audácia. Era super eclético. Aliás, eu já usava muita roupa da marca mesmo antes de trabalhar com a Yves Saint Laurent, encaixa no meu estilo, quase como se estivessem a desenhar para mim. É um encaixe tão bom, que não preciso de pensar muito. Por isso, esta colaboração acaba por ser muito orgânica, porque a marca já faz parte do meu estilo de vida há muitos anos.

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O Y Le Parfum tem um valor recomendado de 90€ (60 ml). Até 8 de fevereiro, é um exclusivo Sephora, ficando depois disponível em todas as perfumarias.

E este perfume em particular, o Y? Como é que o descreve?
Tem um cheiro muito fresco e limpo, mas as notas de fundo são muito sensuais e ricas, o que acaba por tornar a fragrância mais intensa. Não gosto de algo que seja apenas fresco. Precisa de ter personalidade, e o Y tem essa intensidade.

É um homem atento às rotinas de cuidado pessoal e de beleza?|
De um modo geral, sou muito natural. Começou quando eu andava no liceu. Mas gosto de cuidar do meu corpo, como bem, e tenho cuidado com o interior e também com o exterior, faço exercício e tenho alguns cuidados. É verdade que tenho uma grande tendência para lavar a cara só com água, pontualmente com um sabonete natural e suave. Depois, como tenho rastas, não faço muita coisa ao cabelo, exceto mantê-lo limpo e nutrido com a ajuda de um óleo, o que é muito simples. Mas não dispenso o perfume.